1968 é um ano marcante na história do Ocidente. A começar pela sua importância política e social. No período, eclodiram várias manifestações que se preocupavam com a individualidade e a particularidade pessoal, incluindo questões como sexualidade, gênero e liberdade. Outras lutas ainda marcaram a época, como as manifestações pela paz e contra as censuras impostas por regimes autoritários ao redor do mundo.
No Brasil, um marco do cerceamento da liberdade de expressão foi o Ato Institucional Número 5, promulgado pelo presidente Artur Costa e Silva em 13 de dezembro de 1968. A medida governamental se caracterizou como uma poderosa arma de censura às manifestações culturais, artísticas e da imprensa. Iniciavam-se os "Anos de Chumbo", mas também multiplicavam-se as formas de resistência. Um cenário histórico que foi marcado pela efervescência cultural e política, principalmente pelas greves operárias de Contagem-MG e Osasco-SP, colocando os sindicatos no Brasil em evidência e fortalecendo o movimento.
Os direitos sociais eram cada vez menores, assim como os salários. No período de 1964 à 1968, as remunerações foram reduzidas em 30%, como reflexo de uma política nomeada pelos trabalhadores de “arrocho salarial”. Com isso, cresciam as indignações por parte dos operários, que se reuniam clandestinamente para discutirem formas de lutar pelos seus direitos que iam contra um modelo desenvolvimentista que deixava a classe trabalhadora à margem dos benefícios.
Nesse contexto, as greves de 1968 que aconteceram em Contagem-MG e Osasco-SP exerceram um papel fundamental para a retomada da luta pela causa operária. A greve em Contagem ocorreu em abril de 1968 e reuniu milhares de trabalhadores com objetivos em comum. Dentre eles, destacavam-se demandas sociais e econômicas. Forças federais foram chamadas até a cidade e agiram com brutalidade para combater a greve dos trabalhadores, que resistiam devotadamente.
Já a greve em Osasco foi deflagrada pouco tempo depois, precisamente em Julho. O roteiro se repetiu e milhares de trabalhadores pararam os afazeres e lutaram por seus direitos. Grande parte das reivindicações, especialmente as salariais, foram atendidas, dando ao movimento mais confiança. Muitos apontam esse momento como o responsável por fortalecer movimentos sindicais no país. Um reflexo dessa força foi a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), dez anos depois.
O professor Edgar Leite discute a importância política e simbólica do movimento grevista de 1968:
O QUE ACONTECEU EM 1968?
Em um período pós guerras, a juventude dos anos 1960 vivia em uma sociedade de mudanças. Os jovens se opunham ao sistema de consumo da época, criando sua própria moda e os próprios costumes. A promoção e valorização da identidade individual influenciava, sobretudo, na busca pela liberdade para a geração marcada pela contracultura e pelo desbunde.
As reivindicações por liberdade, paz e educação ultrapassavam barreiras nacionais e se expandiam por todo o mundo. Era possível observá-las tanto a partir de movimentos grevistas, quanto nos movimentos Black Power, Hippie, Feminista, entre outros. Em paralelo à essas lutas, conduzidas principalmente pelos jovens, havia fortes repressões. Retrato de um Ocidente em franca convulsão.
A seguir, a linha do tempo mostra os principais acontecimentos de 1968, no Brasil e no Mundo:
A IMPORTÂNCIA DE 1968
Além das lutas, vários outros acontecimentos marcaram 1968. Os assassinatos de Martin Luther King e Robert F. Kennedy potencializam, paradoxalmente, os ideais que tais figuras promoveram em vida, nos Estados Unidos. No Brasil, a morte também mobiliza lutas e aspirações por mudanças sociais. O assassinato de Edson Luís de Lima Souto, no Rio de Janeiro, estudante vítima do regime militar trouxe muitas consequências e revoltas, como a Passeata dos cem mil.
As manifestações aconteceram de diversas maneiras na sociedade, contestando velhas práticas e conceitos estabelecidos. Novas expressões culturais e artísticas proliferaram, carregando em seus alicerces ideologias e visões de mundo que abalaram as colunas da modernidade. As pretensões desses movimentos de importância global remontam a causas como a liberdade de expressão, liberação do uso de drogas, chegando até a atos pela paz e contra a guerra no Vietnã. Movimentos como a Primavera de Praga e a continuidade do movimento Hippie, também marcam 1968.
Por tais desdobramentos, 1968 foi o ano em que os jovens ganharam protagonismo. A historiadora Patrícia Vargas comenta a ascensão do poder jovem e a importância de 1968 no vídeo a seguir:
50 anos depois, os Ecos de 1968 reverberam. Movimentos da nossa época, como a Primavera Árabe, apenas reforçam a ideia de que 68 ainda está presente na sociedade atual. Como Patrícia Vargas salienta, a geração de 1968 ecoa, com seus com seus pensamentos, ideologias e motivações, nos gestos e atitudes contemporâneos. O ano que não terminou, como afirma Zuenir Ventura, ainda se apresenta como um um desafio para as interpretações dos historiadores. Devido aos seus desdobramentos e por causa das múltiplas potencialidades dos eventos ocorridos na época, há uma grande dificuldade de se compreender os acontecimentos daquele ano. Um marco na história que pode ser lido de forma ambígua, principalmente como uma revolução comunitária e/ou individualista.
ESPECIAL ECOS DE 1968
Ao longo desta produção, serão abordadas quatro temáticas específicas dos Ecos de 1968: Juventude, Sexualidade, Arte e Protesto e Moda. Cada seção retrata a situação dos anos 60 e acompanha seus reflexos e ecos ao decorrer dos anos até os dias atuais.
Para abordar o tema da juventude, Tancredo Cruz e Marinete Rocha contam suas experiências pessoais sobre como era ser jovem no tumultuado ano de 1968. Comparamos os perfis de consumo das gerações de 1968 e 2018 e fazemos, ainda, paralelos entre manifestações políticas protagonizadas por estudantes hoje e cinquenta anos atrás.
Discutimos o tema da sexualidade a partir de quatro histórias pessoais. Um relato anônimo, que recupera as memórias relacionadas à menstruação e mostra como o corpo feminino era reprimido e regulado nos anos 1960. O testemunho de Maria Angélica, que aborda, por um outro viés, a questão da descoberta do corpo pelas mulheres no mesmo período. O relato de Dona Maria de Lourdes, hoje com 71 anos, que nos faz refletir sobre as desigualdades nas relações conjugais. Finalmente, conhecemos Aniky, que conta sua longa história de luta contra o preconceito e opressão à comunidade LGBT+.
O cenário da arte ficou fortemente marcado nos anos 1960 pelo protesto. Em Arte e Protesto vários são os exemplos de artistas que caracterizavam suas obras e apresentações com um alto teor político. De forma semelhante, muitos artistas hoje, inspiram-se naqueles dos anos 60 mostram que os 50 anos passados não estão distantes e são oportunos para as comparações das lutas por direitos, liberdade de expressão e valorização de seus trabalhos.
Por fim, na seção destinada à Moda, mostramos como a representação do momento histórico e cultural marca os diferentes modos de vida, que são reforçados pela busca por uma identidade visual. O consumo, naquele tempo, ganhava diferentes proporções e atingia também o mercado jovem.
Atualmente, a moda se ressignifica rapidamente, influenciada por ideais culturais e políticos, como por exemplo, a identidade dentro de um grupo de ouvintes de Rock e a preservação do meio ambiente. Essa moda ditada nos dias atuais é, assim como foi nos anos 60, fortemente influenciada pelas novas tendências culturais e políticas dos jovens e marcada pelo resgate de tendências de outras épocas.