Introdução

1968 é um ano marcante na história do Ocidente. A começar pela sua importância política e social. No período, eclodiram várias manifestações que se preocupavam com a individualidade e a particularidade pessoal, incluindo questões como sexualidade, gênero e liberdade. Outras lutas ainda marcaram a época, como as manifestações pela paz e contra as censuras impostas por regimes autoritários ao redor do mundo.

No Brasil, um marco do cerceamento da liberdade de expressão foi o Ato Institucional Número 5, promulgado pelo presidente Artur Costa e Silva em 13 de dezembro de 1968. A medida governamental se caracterizou como uma poderosa arma de censura às manifestações culturais, artísticas e da imprensa. Iniciavam-se os "Anos de Chumbo", mas também multiplicavam-se as formas de resistência. Um cenário histórico que foi marcado pela efervescência cultural e política, principalmente pelas greves operárias de Contagem-MG e Osasco-SP, colocando os sindicatos no Brasil em evidência e fortalecendo o movimento.

Os direitos sociais eram cada vez menores, assim como os salários. No período de 1964 à 1968, as remunerações foram reduzidas em 30%, como reflexo de uma política nomeada pelos trabalhadores de “arrocho salarial”. Com isso, cresciam as indignações por parte dos operários, que se reuniam clandestinamente para discutirem formas de lutar pelos seus direitos que iam contra um modelo desenvolvimentista que deixava a classe trabalhadora à margem dos benefícios.

Nesse contexto, as greves de 1968 que aconteceram em Contagem-MG e Osasco-SP exerceram um papel fundamental para a retomada da luta pela causa operária. A greve em Contagem ocorreu em abril de 1968 e reuniu milhares de trabalhadores com objetivos em comum. Dentre eles,  destacavam-se demandas sociais e econômicas. Forças federais foram chamadas até a cidade e agiram com brutalidade para combater a greve dos trabalhadores, que resistiam devotadamente.

Já a greve em Osasco foi deflagrada pouco tempo depois, precisamente em Julho. O roteiro se repetiu e milhares de trabalhadores pararam os afazeres e lutaram por seus direitos. Grande parte das reivindicações, especialmente as salariais, foram atendidas, dando ao movimento mais confiança. Muitos apontam esse momento como o responsável por fortalecer movimentos sindicais no país. Um reflexo dessa força foi a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), dez anos depois.

O professor Edgar Leite discute a importância política e simbólica do movimento grevista de 1968:

O QUE ACONTECEU EM 1968?

Em um período pós guerras, a juventude dos anos 1960 vivia em uma sociedade de mudanças. Os jovens se opunham ao sistema de consumo da época, criando sua própria moda e os próprios costumes. A promoção e valorização da identidade individual influenciava, sobretudo, na busca pela liberdade para a geração marcada pela contracultura e pelo desbunde.

As reivindicações por liberdade, paz e educação ultrapassavam barreiras nacionais e se expandiam por todo o mundo. Era possível observá-las tanto a partir de movimentos grevistas, quanto nos movimentos Black Power, Hippie, Feminista, entre outros. Em paralelo à essas lutas, conduzidas principalmente pelos jovens, havia fortes repressões. Retrato de um Ocidente em franca convulsão.

A seguir, a linha do tempo mostra os principais acontecimentos de 1968, no Brasil e no Mundo:

A IMPORTÂNCIA DE 1968

Além das lutas, vários outros acontecimentos marcaram 1968. Os assassinatos de Martin Luther King e Robert F. Kennedy potencializam, paradoxalmente, os ideais que tais figuras promoveram em vida, nos Estados Unidos. No Brasil, a morte também mobiliza lutas e aspirações por mudanças sociais. O assassinato de Edson Luís de Lima Souto, no Rio de Janeiro, estudante vítima do regime militar trouxe muitas consequências e revoltas, como a Passeata dos cem mil.

As manifestações aconteceram de diversas maneiras na sociedade, contestando velhas práticas e conceitos estabelecidos. Novas expressões culturais e artísticas proliferaram, carregando em seus alicerces ideologias e visões de mundo que abalaram as colunas da modernidade. As pretensões desses movimentos de importância global remontam a causas como a liberdade de expressão, liberação do uso de drogas, chegando até a atos pela paz e contra a guerra no Vietnã. Movimentos como a Primavera de Praga e a continuidade do movimento Hippie, também marcam 1968.

Por tais desdobramentos, 1968 foi o ano em que os jovens ganharam protagonismo. A historiadora Patrícia Vargas comenta a ascensão do poder jovem e a importância de 1968 no vídeo a seguir:

50 anos depois, os Ecos de 1968 reverberam. Movimentos da nossa época, como a Primavera Árabe, apenas reforçam a ideia de que 68 ainda está presente na sociedade atual. Como Patrícia Vargas salienta, a geração de 1968 ecoa, com seus com seus pensamentos, ideologias e motivações, nos gestos e atitudes contemporâneos. O ano que não terminou, como afirma Zuenir Ventura, ainda se apresenta como um um desafio para as interpretações dos historiadores. Devido aos seus desdobramentos e por causa das múltiplas potencialidades dos eventos ocorridos na época, há uma grande dificuldade de se compreender os acontecimentos daquele ano. Um marco na história que pode ser lido de forma ambígua, principalmente como uma revolução comunitária e/ou individualista.

ESPECIAL ECOS DE 1968

Ao longo desta produção, serão abordadas quatro temáticas específicas dos Ecos de 1968: Juventude, Sexualidade, Arte e Protesto e Moda. Cada seção retrata a situação dos anos 60 e acompanha seus reflexos e ecos ao decorrer dos anos até os dias atuais.

Para abordar o tema da juventude, Tancredo Cruz e Marinete Rocha contam suas experiências pessoais sobre como era ser jovem no tumultuado ano de 1968. Comparamos os perfis de consumo das gerações de 1968 e 2018 e fazemos, ainda, paralelos entre manifestações políticas protagonizadas por estudantes hoje e cinquenta anos atrás.

Discutimos o tema da sexualidade a partir de quatro histórias pessoais. Um relato anônimo, que recupera as memórias relacionadas à menstruação e mostra como o corpo feminino era reprimido e regulado nos anos 1960. O testemunho de Maria Angélica, que aborda, por um outro viés, a questão da descoberta do corpo pelas mulheres no mesmo período. O relato de Dona Maria de Lourdes, hoje com 71 anos, que nos faz refletir sobre as desigualdades nas relações conjugais. Finalmente, conhecemos Aniky, que conta sua longa história de luta contra o preconceito e opressão à comunidade LGBT+.

O cenário da arte ficou fortemente marcado nos anos 1960 pelo protesto. Em Arte e Protesto vários são os exemplos de artistas que caracterizavam suas obras e apresentações com um alto teor político. De forma semelhante, muitos artistas hoje, inspiram-se naqueles dos anos 60 mostram que os 50 anos passados não estão distantes e são oportunos para as comparações das lutas por direitos, liberdade de expressão e valorização de seus trabalhos.

Por fim, na seção destinada à Moda, mostramos como a representação do momento histórico e cultural marca os diferentes modos de vida, que são reforçados pela busca por uma identidade visual. O consumo, naquele tempo, ganhava diferentes proporções e atingia também o mercado jovem.

Atualmente, a moda se ressignifica rapidamente, influenciada por ideais culturais e políticos, como por exemplo, a identidade dentro de um grupo de ouvintes de Rock e a preservação do meio ambiente. Essa moda ditada nos dias atuais é, assim como foi nos anos 60, fortemente influenciada pelas novas tendências culturais e políticas dos jovens e marcada pelo resgate de tendências de outras épocas.

Juventude

Manifestações, debates e novas visões sobre temas tratados pelos jovens nos anos de 68, voltam a ser assunto em 2018. Os movimentos comemorativos da data refletem a respeito dos jovens da época anterior e os legados que permanecem nos discursos contemporâneos.

Para a historiadora Patrícia Lopes, no Brasil, os grandes movimentos começaram ligados a manifestações de caráter estudantil, relacionados a questões de repressão. Pouco depois, com a morte do estudante da UFRJ, Édson Luís de Lima Souto, assassinado por militares no Restaurante Calabouço, surgiram grandes passeatas e protestos com referência a outros movimentos fora do país, que também ganhavam adesão por aqui.

Estudante Edson Luís assassinado no restaurante calabouço em seu velório na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Foto: Vladimir Palmeira
Manifestação que acompanhava o caixão de Edson Luís. Foto: Vladimir Palmeira

A Faculdade de Direito da USP também foi palco de grandes embates e discussões com outros grupos jovens e apoiadores do movimento. Alguns relatos de ex-estudantes da FAFICH da UFMG, daquela época, contam como a universidade foi espaço de múltiplos debates e serviu como ponto de apoio para aqueles jovens. Na opinião da historiadora “muitas universidades, principalmente ligadas às humanas, foram espaços de ideias que se chocavam com a forte repressão”.

Patrícia ainda explica que pesquisas feitas pela Universidade de Santa Catarina mostraram como professores e estudantes eram vigiados, perseguidos e sofriam denuncias feitas por parte de colegas, reitores e pessoas anônimas que sabiam quem eram os jovens que participavam dos movimentos. Segundo ela, “essa realidade de opiniões eram cerceadas. Se a gente pensar em outras instâncias, podem ter sido presos e mortos pelas denúncias que aconteciam”.

Pautas envolvendo o debate feminista, questões em torno da sexualidade, do corpo e governos militares, permanecem na sociedade, mostrando que ainda hoje, merecem ser discutidos e não se esgotaram no passado.

"É interessante pensar que a própria ideia de jovem que a gente tem contemporaneamente, está surgindo nesta época. Não que jovem nunca tenha existido, sempre existiram pessoas com fase determinadas na vida. Isso é tão antigo quanto a própria sociedade. Mas nesse sentido contemporâneo, o conceito de jovem está atrelado ao final da segunda guerra mundial e dos anos 60 e 70."

A experiência também é um ponto importante quando se trata desse assunto. Ao conversar com as pessoas que eram os jovens de 1968 para tentar entender o que viveram, é possível compreendermos que o medo, a censura e a opressão deixaram marcas tão profundas que permeiam a vida desses indivíduos até hoje.

O medo é facilmente reconhecido quando em certos momentos, as pessoas se fecham e não sentem-se confortáveis em compartilhar suas histórias, criando uma auto censura.  Afinal, as lembranças de perseguição e do tempo em que passaram encarcerados estão vivas em suas memórias, e portanto, muitos preferem não reviver esses momentos.

Ainda assim, existem pessoas dispostas a compartilhar suas histórias. Uma dessas, é o Tancredo Almada Cruz. Ele estudava na UNB, viu sua universidade ocupada por militares e viveu nesse sistema de constante vigilância. A outra, é a Marinete Rocha, que estava no ensino médio e morava no Vale do Aço, o que nos permite ter uma visão de como era o interior do país nessa época.

Duas realidades distintas de um mesmo tempo e marcadas pela busca da liberdade, mas também pelo medo e pela opressão. Esses jovens de 68 nos permitem entender um pouco mais do que foi aquela realidade, para além do que é encontrado nos livros de história.

BABY BOOMERS vs. GERAÇÃO Y

Comparar gerações não é fácil. As relações, as práticas de consumos, os gostos e muitos outros fatores da vida mudam rapidamente. Se fizermos uma comparação de alguns perfis em variados contextos, conseguimos perceber as diferenças que o tempo faz na construção de um indivíduo. As gerações aqui apresentadas, serão a dos Baby Boomers e a Geração Y.

Os Baby Boomers são aqueles que nasceram entre 1940 à 1960. Essa geração é caracterizada por possuir um padrão de vida mais estável, apresentar maior preferência por qualidade do que quantidade, sofrendo pouca influência da marca ou de outra pessoa no momento da compra e é firme e madura nas decisões. De acordo com Roberto Morais Batista, são considerados idealistas, revolucionários e coletivos, demonstrando assim um consumo mais ideológico.

Por outro lado, a Geração Y nasceu entre os anos 80 e 90. Suas características estão relacionadas a valorização da educação, de grande autoestima, habilidades com as tecnologias, busca pelo crescimento intelectual e profissional. São questionadores, apegados aos sonhos do emprego, se preocupam com o meio ambiente, capazes de realizar muitas tarefas ao mesmo tempo e possuem maiores potencias de consumo e transformações sociais.

De acordo com uma pesquisa feita no ano de 2017 pelo site Consumidor Moderno, analisamos remuneração, motivadores de consumo e renda x gastos, das duas gerações:

Diferença entre a remuneração. A Geração Y ganha em média R$ 1.869,00, ou seja, 51% a menos que a Baby Boomers, que ganha R$ 3.779,00.

A pesquisa ainda mostrou que o maior motivador para o consumo é a necessidade. A satisfação pessoal vem em segundo lugar.

Ao fazer uma comparação entre a renda e os gastos das gerações, vemos que apesar de ter a menor renda, a Geração Y é mais controlada.

Os jovens e as manifestações

As manifestações são a marca de 1968 e fizeram-se presentes nos mais variados setores da sociedade daquela época. Com juventude, essa realidade também não seria diferente. Ainda hoje, por outros motivos, os jovens continuam se manifestando. Apresentamos abaixo algumas das principais cidades do Brasil que registraram protestos dos jovens, tanto em 1968 quanto em 2018.

PASSEATA DOS CEM MIL

Foi uma manifestação popular organizada pelo movimento estudantil, ocorrida nas ruas do centro do Rio de Janeiro no dia 26 de junho de 1968 em protesto contra a Ditadura Militar no Brasil. A marcha teve início às 14 horas, com aproximadamente 50 mil pessoas. Ao decorrer de uma hora, o número de manifestantes dobrou, chegando aos 100 mil. Além dos estudantes, a manifestação contou com a participação de artistas, intelectuais, políticos e outras pessoas da sociedade civil brasileira. Isso fez com que a passeata se tornasse uma das mais expressivas manifestações populares da história do país. A marcha durou cerca de três horas e se encerrou em frente a Assembleia Legislativa sem nenhum confronto com a polícia. A faixa que ia à frente da passeata carregava os seguintes dizeres: “Abaixo a Ditadura. O Povo no poder”
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MANIFESTAÇÕES EM APOIO A MARIELLE FRANCO

No dia 14 de março de 2018 por volta das 21h30 a vereadora do PSOL do Rio de Janeiro, Marielle Franco, foi morta a tiros dentro de um carro no bairro do Estácio. Além da vereadora, o motorista do veículo, Anderson Pedro Gomes, também foi baleado e morto. A principal linha de investigação da Delegacia de Homicídios é execução. Marielle nasceu no RJ, tinha 38 anos, era socióloga formada pela PUC-Rio e foi a quinta vereadora mais votada nas eleições de 2016. Sua luta era contra o racismo e a violência, em especial no que diz respeito a jovens e mulheres. No dia seguinte, as manifestações aconteciam em diversas cidades do país com pedidos de justiça após a execução da vereadora. No Rio, houve protestos na Cinelândia e em diferentes pontos do Centro. Após acompanhar o velório na Câmara, o ato seguiu para a Assembleia Legislativa. Em São Paulo, milhares fecharam um trecho da Avenida Paulista em frente ao Masp.

BATALHA MARIA ANTÔNIA

Foi um confronto entres estudantes da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo e da Universidade Presbiteriana Mackenzie, ocorrido em 2 de outubro de 1968. Na época, as duas instituições eram localizadas na rua Maria Antônia, no centro de São Paulo. O tumulto começou após um aluno da Universidade Mackenzie atirar um ovo podre contra os cobradores do pedágio, em protesto contra a arrecadação do mesmo. Os estudantes da Universidade de São Paulo revidaram e Mackenzistas e Uspianos acabaram se enfrentando com rojões, foguetes, coquetéis molotov e tiros. O confronto continuou até que o prédio da USP foi incendiado. Após o evento, os cursos da USP daquele campus foram transferidos para o campus Armando de Salles Oliveira, desagregando o núcleo do movimento estudantil.

MANIFESTAÇÕES CONTRA O AUMENTO DA PASSAGEM DE ÔNIBUS

Estudantes já começaram o ano de 2018 com protestos contra a alta das tarifa das passagens de ônibus mais caras e o sucateamento do transporte público. Em São Paulo, a passagem passou de R$ 3,80 para R$ 4 no dia 7 de janeiro, mesmo após o prefeito João Dória ter prometido que o valor seria mantido. Os estudantes, alegam que os mais prejudicados são aqueles que moram longe do centro, o que faz com que trabalhadores e estudantes de zonas periféricas da cidade, fiquem encarceradas em seus bairros, sem locomoção entre a cidade, dificultando o acesso ao trabalho, estudo e lazer. Além do aumento, os estudantes também reivindicavam o passe livre estudantil.

INVASÃO MILITAR NA UNB

Na época da ditadura os estudantes da Universidade de Brasília contestavam e lutavam diariamente contra ela. Essa ação era considerada perigosa pelos governantes, que achavam os universitários subversivos e revolucionários. No dia 29 de agosto de 1968, o campus da Universidade foi invadido por tropas do Exército. Cerca de 500 estudantes passaram o dia sob o poder das tropas na quadra de esportes e cerca de 50 pessoas foram levadas à delegacia. Salas de aula foram invadidas, cadeiras quebradas e alunos presos. Antes desse tumulto, os estudantes invadiram a sala e o apartamento de Roman Blanco, professor que tinha ligação com o Serviço Nacional de Informação. Esta não foi a primeira invasão, mas foi a pior dentre as oito que ocorreram na UnB durante a ditadura militar.

PROTESTOS ESTUDANTIS EM FRENTE AO MEC

No dia 26 de abril de 2018 estudantes da Universidade de Brasília (UnB) fizeram um protesto em frente ao Ministério da Educação (MEC) contra a crise financeira que a universidade enfrenta. A cavalaria da Polícia Militar foi acionada e foram usadas balas de borracha e bombas de gás para dispersar o grupo de cerca de 40 estudantes. Pelo menos quatro pessoas foram detidas. Esta foi a segunda vez que uma manifestação de alunos da UnB termina com detidos. Na manifestação que ocorreu no dia 10 de abril, três foram detidos. A associações de estudantes considerou que houve uma “repressão desproporcional” ao ato.

Sexualidade

O ano de 1968 ficou conhecido no mundo todo como o ano da revolução sexual. Nos EUA, França e Brasil, entre outros países, movimentos de contracultura emergiram para contestar a política, os valores, o lugar da mulher, do homem e do sexo. O enfrentamento aos padrões impostos pela sociedade e pelo o governo ganhava força em diversos âmbitos. Assuntos como nudez, pílula anticoncepcional, homossexualidade, transexualidade, legalização do aborto e relações poligâmicas foram sendo pautados e ganhando espaço nas relações da sociedade.

O histórico Maio de 68 em Paris moldou o novo viés político da sexualidade. As repressões e tabus ainda existem, mas dia após dia a luta de 68 ganha força e mais adeptos. A busca pelo prazer, o desejo de liberdade, a luta contra a homofobia e transfobia, a recusa de formas de controle e de autoridade e a defesa da igualdade entre homens e mulheres continuam 50 anos depois sendo discutidos.

Durante esta seção iremos abordar assuntos como corpo e sexualidade feminina, liberdade sexual, gravidez, casamento, família e LGBT+ , trazendo o relato de mulheres cis e trans que viveram o ano de 1968 com diferentes idades, em diferentes lugares e sob diferentes perspectivas.

AS REGRAS

Ela tinha 13 anos quando menstruou pela primeira vez, em 1968. Eles chamavam de regras. Nunca ouviu da mãe ou das irmãs, nem de mulher alguma, sobre o que era menstruação até os 11 anos, quando na escola, numa sala com janelas tampadas, algumas mulheres mostraram para as meninas - e só pra elas, já que os meninos não participaram - imagens em um retroprojetor do corpo da mulher.

Cartilha sobre menstruação recebida em 1966 é guardada até hoje

"Eu só fazia rir. A primeira impressão que eu tive era que aqueles órgãos eram iguais a uma cabeça de vaca.  Eu morava na roça, fiz logo essa referência. Tenho essa imagem até hoje na cabeça.As meninas mais velhas questionaram a minha presença. Eu não tinha menstruação e nem peito ainda, achava que quem trazia a criança quando nascia era a parteira, numa trouxinha.”

A palestra tinha o intuito de apresentar o Moddes, primeiro absorvente de plástico do Brasil, que iria substituir os paninhos. Todas as meninas ganharam o pacotinho de amostra grátis no fim, menos ela, que não tinha menstruado ainda. Mas ela ganhou um livreto, que guarda até hoje. As 15 páginas falam sobre o que acontece quando você se torna “menina-moça”, o que você deve e não deve fazer “nesses dias” e como usar o Moddes, que tinha como suportes uma cinta, um cinto ou uma calça plástica.

“Eu tive o privilégio de saber da maneira correta e antes de chegar a menstruação. As outras meninas da escola também não sabiam da menstruação. Souberam quando chegou. Ninguém conversava sobre essas coisas, ninguém falava."

Ela não usou o Moddes quando menstruou, mesmo já o conhecendo. Não tinha dinheiro.Usava pano. A mãe cortava toalhas velhas e ensinava as filhas a lava-los em latas de óleo, escondidas para os irmãos não verem. Só que o pano vazava, e muito. Pra evitar de ficarem sujas, quase sempre, as meninas ficavam em pé nos eventos.

"Quando minha menstruação chegou minha mãe me deu um pano e me explicou como lavar e trocar. E não disse mais nada. Eu usava plástico entre a calcinha como se fosse um absorvente pra evitar vazar. Invenção minha, eu sempre fui astuciosa. Só usei Moddes depois de casada.”

Junto com a menstruação chegaram as mudanças no corpo. Os pelos que nasceram na puberdade ficaram até os 17 anos, quando descobriu o gilette. A mãe fez um corpete, uma espécie de blusa segunda pele, pra vestir por baixo do uniforme como sutiã. Um dia, pegou o sutiã da irmã mais velha - modelos pontudos, grossos, acolchoados, como um cone, típicos da época - e foi pra escola. Lá, foi ridicularizada por toda a turma pelo "peitão".

“Eu quase saí da escola nesse dia, queria sair correndo. Eu nunca esqueci disso. Tinha o sutiã de menina-moça, mas não tínhamos dinheiro. Até hoje não gosto de sutiã de bojo. Quando comecei a trabalhar comprei os do meu tamanho.”

Quando a irmã mais nova ficou doente a mãe dizia que a regra da moça veio uma vez só e não mais. O chá dava escondido para que os filhos homens, chefes da família após o abandono do pai, não soubessem do que se passava. Quando pediu à mãe para levar a irmã ao médico foi ameaçada de apanhar caso contasse aos irmãos sobre aquele assunto.

“Eu fui lá e contei pro meu irmão mais velho. Ele levou a menina no médico. Ela tomou várias injeções e a menstruação voltou. Ele falou com mãe pra não me bater porque era preciso falar. As mulheres tinham vergonha. Minha mãe dizia que meus irmãos não podiam saber que eu estava com cólica, ela me proibia de demonstrar que eu estava com dor. E eu fazia vômito, ela me dava chá e não falava sobre. Eu não culpo ela por isso. Eu mesma não cheguei a conversar com as minhas irmãs mais novas sobre isso.”

Nas farmácias em 1968 o Moddes vinha embalado como as sete chaves. Ficavam no fundo dos estabelecimentos e os mercados não vendiam. As mudanças só começaram a ser vistas por ela, em meio aos anos 70. "Difícil pra mim, mas eu tentei conversar com minhas filhas. Se eu não falei tudo é porque eu sinto vergonha de falar esse tipo de coisa. Tem muita coisa que ainda é tabu. Libera muito e conversa pouco. De 68 para agora, o assunto de sexualidade virou do avesso. ”

Os relatos de um Brasil dos anos 60 muito se aproximam dos relatos atuais de países como a Índia, onde até hoje mulheres não podem tomar banho, sair em público ou serem tocadas durante o período menstrual. Dados recentes apontam que uma em cada cinco garotas indianas deixa a escola por causa da menstruação. O sangue vaginal é visto como nojento e indesejável e ainda é cercado de tabus por aqui. Mas ele não é o real alvo da hostilidade. O nojo da sociedade é direcionado ao corpo feminino. Ainda hoje, meninas, como a personagem desta reportagem, crescem acreditando que são sujas e que precisam evitar a todo custo que o mundo perceba essa “sujeira”. Cinquenta anos se passaram e o corpo feminino ainda luta por romper as regras.

QUEBRANDO BARREIRAS PARA CONHECER A SI MESMO

1968 é muitas vezes lido como o ano que impulsionou as décadas seguintes a discutirem sobre a liberdade sexual. Em conjunto com o movimento hippie, essa agitação social e cultural se legitimou principalmente com o protagonismo da luta feminista que interpelou a moral, o pudor e os bons costumes. Várias recordações daquela época demonstram o desconforto das pessoas em encarar os corpos, as diferenças e igualdades entre os homens e mulheres e principalmente a experimentação com a sexualidade.

Maria Angélica vivia nessa década, em Juiz de Fora com 12 anos de idade e revela que, mesmo prestes a adentrar o universo dos adolescentes, “as senhoras da sociedade” criavam barreiras e mistérios sobre assuntos como romances e sexualidade e não compartilhavam histórias alheias, mesmo havendo conversas entre elas dentro das próprias casas.

“Ter vida sexual ativa sendo solteira era algo que se tornava público e pejorativo” – ela comenta. As mulheres que engravidavam eram negligenciadas pela família e pelos cidadãos em geral. Na maior parte das vezes eram expulsas de casa e passavam a ocupar empregos precários ou se prostituíam. “Um mundo repressivo e com muita hipocrisia, com as coisas correndo sempre debaixo do pano”, foi a forma que a médica psiquiátrica caracterizou esse tempo.

Em uma escola absolutamente feminina, a Escola Normal, atual Instituto de Educação, Angélica afirma que a vida era de preconceito, principalmente com a separação de meninos e meninas. No mesmo bairro, havia uma escola estrita aos meninos também. Cursando o sétimo ano do ensino fundamental de uma escola pública, de classe média baixa, as alunas eram tratadas na rua com desprezo. Eram chamadas de “galinhas”, por ocuparem aquela camada social e também por simplesmente serem mulheres.

Na parada de sete de setembro, as escolas eram ordenadas a desfilarem, dentro das condições da ditadura militar e, nas experiências relatadas por Angélica, os meninos que gostavam de criar alvoroços atiravam ás estudantes milho e gritavam “Pri, pri”, insinuando um chamado às “galinhas”, pelo fato das meninas fazerem parte de um colégio público. Essa condição financeira parecia abrir caminhos ainda mais injustos para as mulheres que, mantendo ou não uma vida sexual ativa, eram condenadas por isso.

A fachada da Escola Normal em Juiz de Fora e registros de Maria Angélica ainda criança na instituição.

Apesar das diferenças existirem entre meninos e meninas, algumas pesquisas demonstram o forte efeito cultural, que de certa forma baliza os comportamentos dos indivíduos, independente do sexo. A matéria do site Nova Escola reflete sobre como o fato de diferenciar o que cada sexo aprende pode gerar desigualdades no futuro dos alunos. Há ainda especialistas que afirmam que o ensino sobre sexualidade e gênero pode prevenir a violência sexual. Atualmente é possível encontrar instituições de ensino que separam meninas e meninos com atividades pedagógicas distintas, mesmo sendo comprovado ao longo dos anos a importância de uma educação coletiva para a socialização desses indivíduos. Uma matéria de 2016 oferece motivos para se ensinar cidadania às mulheres ao invés de uma estrutura como as escolas de princesa, que reforçam estereótipos às mulheres, ao contrário de estimular outros valores sociais.

Independente da falta de suporte da escola e da família, os jovens sentiam necessidade de se descobrir, de experimentar e de evidenciar todas as transformações, dentro de sí e daquele tempo histórico. Angélica explica que o mundo inteiro estava “soprando a liberdade sexual”, mas que no Brasil era evidente a repressão da ditadura militar. O seu contato com as notícias mundiais foi marcado principalmente por meio de uma revista chamada Realidade, que trazia notícias do mundo, das guerras e do movimento hippie. Além disso, havia uma literatura “do submundo” – explica Angélica – os cordéis, que traziam as imagens sexuais ilustradas por meio de desenhos. Essas imagens eram as ilustrações mais disponíveis para evidenciarem o ato sexual.

Mesmo com todos os cerceamentos, os jovens que ainda estavam descobrindo as experiências de suas sexualidades, criavam mecanismos para vivenciar suas transformações, dentro da opressão dos diversos seguimentos sociais. “A luta ainda se pautava pela liberdade heterossexual, que não existia” – Angélica conclui.

GRAVIDEZ E CASAMENTO EM 68

Em maio de 1968, o mundo testemunhou uma onda de protestos iniciados por estudantes franceses que reivindicavam uma reforma na educação. O movimento tomou força no mundo, fazendo uma revolução na liberdade, nos direitos humanos e trabalhistas que foram fundamentais para que hoje, em 2018, possamos colher os frutos dessa época. Enquanto cerca de 9 milhões de pessoas faziam a revolução sobretudo na Europa, aqui no Brasil, mais especificamente em Divinésia, interior de Minas Gerais, a jovem Maria de Lourdes teve sua primeira gravidez.

Dona Maria, hoje com 71 anos, lembra como foi esse período da sua vida: aos 20 anos decidiu-se casar contra a vontade de sua família com seu ex-marido José Teixeira, com quem foi casada por 38 anos e teve 4 filhos. Dona Maria pôde experimentar o que era o casamento e a gravidez sob o ponto de vista de uma jovem que nada sabia sobre liberdade sexual, sobre ser dona de casa, esposa e mãe. Segundo Maria de Lourdes, as mulheres de 68 deviam obediência aos pais e irmãos, não podendo ter a livre escolha de usar roupas que fossem decotadas ou acima dos joelhos, e deveriam sempre usar a combinação para que fossem vistas como “moças de família”.

A estética imposta sobre as mulheres dizia muito sobre sua reputação: um esmalte vermelho ou maquiagem “em excesso” já era o suficiente para atrair olhares de vigilância e julgamentos. Dona Maria conta que não tinha acesso ao que acontecia no mundo pois não possuía televisão e praticamente só frequentava casa de familiares e ia à igreja, mas que já observava mulheres que eram consideradas rebeldes ou “muito abertas”.

Apesar de não ter participado de movimentos sociais, Dona Maria se considerava uma jovem “pra frente” em comparação às outras por ter se casado contra a vontade da família de seu marido, que desaprovava o casamento pelo o fato de ela ser de uma família humilde. O namoro de Maria de Lourdes e Zé Teixeira começou por cartas e resultou na mudança repentina para São Paulo, um dia depois do casamento. Ela lembra o choque cultural que teve chegando na cidade grande, pois não sabia cozinhar, nunca tinha ido a uma feira livre e não sabia ser uma esposa ou dona de casa.

A descoberta da sexualidade só aconteceu depois do casamento, pois era um assunto considerado tabu entre as mulheres, algo que não deveria ser mencionado e muito menos explicado.

Dona Maria recorda-se de quando olhava para sua mãe grávida e, assim como seus 7 irmãos e 3 irmãs, tinha curiosidade em saber como os bebês vinham ao mundo. Nunca houve um esclarecimento por parte de sua família sobre essas questões, na verdade, ela lembra que sua mãe costurava as roupas de seus futuros bebês de madrugada, às escondidas, e até queimava os retalhos de roupa como quem esconde um segredo. No dia do nascimento, seu pai colocava todos os filhos num quarto enquanto o parto acontecia e eles só tinham permissão para sair ao final de tudo para conhecer o novo bebê da família.

Mais velha, Dona Maria tinha o hábito de ler fotonovelas e sabia que havia uma série de informações a serem descobertas sobre a sexualidade humana, porém, era sempre vigiada por seu pai e irmãos. Ela lembra que tudo que aprendeu foi com seu ex-marido, e pôde perceber como os homens já tinham acesso a essas informações que, em sua opinião, já deveriam ter sido levadas às mulheres antes, como por exemplo a sua primeira depilação: Dona Maria conta que as mulheres não tinham o hábito de se depilarem, e teve sua primeira depilação no dia do parto de seu primeiro bebê. Ela sequer sabia que era necessário estar depilada, mas Zé Teixeira sim.

Maria de Lourdes sofreu com traições durante seu casamento, porém, naquela época, não se falava em divórcio. Ela acreditava que era obrigada a manter o matrimônio, mesmo tendo um marido infiel. A separação só foi possível após a morte do seu pai, que afirmava que ela era obrigada a manter-se casada. Hoje Dona Maria mora em Coimbra com sua filha Silvia, e consegue enxergar a evolução que a sociedade passou desde 1968 e entende que ela também mudou. Dona Maria reconhece que um casamento infeliz não deve ser levado a diante porque mulheres precisam pagar pelas suas escolhas. Ela fala sobre sexualidade abertamente com seus filhos e conta várias histórias de si e de outros familiares para quem quiser ouvir.

LGBT e + 50 anos de resistência

Em 1º de abril de 1980, O Estado de São Paulo publicou uma matéria intitulada “Polícia já tem plano conjunto contra travestis”, no qual registra a proposta das polícias civil e militar de “tirar os travestis das ruas de bairros estritamente residenciais; reforçar a Delegacia de Vadiagem do DEIC para aplicar o artigo 59 da Lei de Contravenções Penais; destinar um prédio para recolher somente homossexuais; e abrir uma parte da cidade para fixá-los são alguns pontos do plano elaborado para combater de imediato os travestis, em São Paulo”.

A costureira Anyky Lima se reconheceu travesti em 1968, quando ainda adolescente. Sofreu violências de toda ordem no período militar. Foi presa, apanhou de policiais, se prostitui durante décadas. Há 50 anos ela luta pelos direitos de outras mulheres e homens trans e ocupa todos os espaços que pode alcançar. Anyky só teve seu nome e gênero reconhecidos em seus documentos em 2017, com a decisão do Supremo Tribunal Federal. Sua história é o eco ensurdecedor que tentaram calar. A separação da família, o preconceito, a violência da ditadura, a falta de oportunidades e o envelhecimento são alguns dos assuntos tratados neste vídeo.

O governo autoritário da Ditadura Militar foi um período no qual os valores conservadores eram tidos como invioláveis, sobre tudo quanto à sexualidade e gênero. Nesse sentido, graças às informações reveladas pelo Relatório da Comissão Nacional da Verdade, hoje é possível ter conhecimento que naquela época, os militares colocaram em prática um processo de higienização e caça à homossexuais, travestis, transexuais, e todo e qualquer desviante do ideal sexo-gênero, pessoas tidas pelas autoridades daquele contexto como “degeneradas”.

Contudo, ainda que seja possível reconhecer muitos avanços quanto aos direitos LGBTs advindos com o processo de redemocratização do país, possuímos um longo e árduo percurso pela frente rumo ao fim da LGBTfobia em nossa sociedade. Uma evidência disso é o levantamento feito pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), mais antiga associação de defesa dos homossexuais e transexuais do Brasil, que mostra 2016 como o ano com o maior número de assassinatos da população LGBT desde o início da pesquisa, há 37 anos. Foram 347 mortes. Minas Gerais ocupa o quinto lugar nesse ranking, com 21 mortes. São Paulo lidera a lista, registrando 49 assassinatos.

Arte e Protesto

O cenário da arte nos anos 60 - em especial no ano de 1968 - era marcado pela polaridade ideológica que tomava o nosso país. Um claro e grandioso embate ideológico movimentava a cena artística: contra a censura, dezenas de artistas utilizaram técnicas, personalidades e influências diferentes para protestar o totalitarismo e a repressão. Apesar do conservadorismo e da tirania que marcaram o regime ditatorial, a produção artística brasileira foi grandiosa - lembrada principalmente pelo engajamento e pelo embate direto com o governo.

Músicos atacavam de maneira mais ou menos velada a tortura, o pensamento marxista inspirava o cinema, o teatro era caracterizado pelo alto teor político - todos queriam alarmar e reduzir a passividade do público. Podemos dizer que as provocações surtiam um efeito: alguns centros de cultura de classes populares, como o Movimento de Cultura Popular do Recife, foram fechados; discos, músicas, shows e filmes foram proibidos em território nacional e diversos artistas e intelectuais foram presos e precisaram deixar o país.

Hoje, porém, a arte também se insere em micropolíticas - questões específicas e cotidianas, dentro da “Política com P maiúsculo”. Após a queda do Muro de Berlim, em 1989, todos os contornos aparentemente rígidos da sociedade (direita e esquerda, capitalismo e socialismo, ditadura e democracia) dissolveram-se. O foco deixou de estar em figuras centrais e símbolos de revolta unitários e hoje se articula com as dinâmicas e lutas sociais diárias.

A desigualdade, a violência, o machismo, a impunidade, o aquecimento global: outras questões urgentes e emergentes se tornam temas da arte quando os partidos e os sistemas políticos entram em crise na pós-modernidade. Tudo que afeta nossa vida em comunidade pode ser tematizado e alvo de protesto e denúncia.

Em tempos diferentes, artistas utilizaram arte e intervenções para denunciar dois assassinatos "sem culpados", mas com claras intenções políticas: o do jornalista Vladimir Herzog, que atuava politicamente no movimento contra a ditadura, e o da vereadora Marielle Franco, que atuava politicamente pelos direitos das mulheres e das minorias, enquanto negra, lésbica, mãe e nascida na favela da Maré.

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A arte também pode ser um caminho para falar sobre a violência recorrente. Em 1970, trouxas de carne, sangue e ossos em um rio denunciavam assassinatos relacionados à ditadura militar e grupos de extermínio. Em 2017, flores artificiais foram colocadas nos buracos de casas baleadas no complexo da Maré (RJ), palco dos principais confrontos entre polícia e facções criminosas.

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Quando artistas utilizam o que deveria ser apenas entretenimento para se posicionarem politicamente, criam uma tensão. Foi o que aconteceu durante a Ditadura Militar. Nos anos 1960, as programações dos canais de televisão eram tomadas pela música. A TV Excelsior e a TV Record competiam com grandes festivais televisionados, com transmissões pelo país inteiro e jurados avaliando as composições. Artistas como Elis Regina, Jair Rodrigues, Geraldo Vandré e Chico Buarque ganharam destaque e evidência por causa de festivais e programas musicais, como o “O Fino da Bossa” e o “Jovem Guarda”. Nas plateias, o público procurava por um engajamento político e vaiava quando as músicas somente falavam sobre “festas de arromba” e “carrões” ou exaltavam somente as belezas do Brasil. A repressão e a censura eram direcionamentos para os compositores, que passaram a descrever problemas sociais e conflitos políticos.


Já a ebulição do cinema nacional, o movimento Cinema Novo inspirado pela Nouvelle Vague francesa, começou um pouco antes do golpe de estado. O nordeste do país e as favelas cariocas eram os cenários preferidos de diretores como Glauber Rocha, Ruy Guerra e Nelson Pereira dos Santos. Depois de 1964, o cinema passou a ser uma resposta à ditadura: os camponeses explorados deram lugar a intelectuais frustrados, impasses do governo, a abertura da cultura brasileira à influências externas, o processo de modernização acelerado e a violência política.

Diante da censura até fase mais criativa e diversificada do cinema brasileiro, as práticas de cineclubes passaram a espalhar por todo o país. Em Viçosa, no porão do Centro de Vivência funciona desde 1969 o CineClube Carcará, criado por estudantes da Universidade Federal de Viçosa que exibem e debatem filmes do circuito mineiro de cineclubistas. Sendo fundado num contexto ditatorial, o cineclube carrega em sua história uma forte ligação com o movimento estudantil da universidade. Inserido nesse contexto de censura exacerbada, o Carcará enfrentou problemas ao tentar exibir, em 1988, o filme de Jean-Luc Godard, Je Vous Salue, Marie (1985).

Clodiney Cruz, ex-estudante da UFV e ex-membro do cineclube, conta na reportagem “O Dilema de Um Cinema” de Rodrigo Castro e Eduardo Nascimento, que era uma luta exibir os filmes na Universidade Federal de Viçosa, pois as autoridades do local sabotavam os locais. As luzes eram desligadas para as sessões serem interrompidas. “A única forma que achamos de exibir foi levando tudo para o prédio da Química, onde ficava o CPD (antiga Central de Processamento de Dados) e não poderiam desligar a energia”.

Na mesma época, quando uma ocupação foi organizada com a intenção de garantir a posse do reitor elegido nas eleições universitária, o CineClube Carcará exibiu diversos filmes no gramado do Centro de Vivência para manter os estudantes atentos nos momentos que não aconteciam manifestações.

Mesmo tendo enfrentado alguns hiatos e problemas estruturais, o CineClube Carcará resiste e continua promovendo mostras com os espaços de discussão sobre filmes que estão fora do circuito comercial de cinema. Esses espaços são de extrema importância para a contextualização do espectador sobre as condições de produção e o conteúdo das obras, utilizando o cinema como uma importante ferramenta de educação.

Além de apresentar uma "estética da fome", o cinema de Glauber Rocha também era conhecido pelos cartazes autênticos, com fotomontagens, cores e composições que desafiavam as limitações técnicas e financeiras à época

A forma de veiculação da literatura também precisou ser reformulada no início dos anos 1970. Escritores já consagrados, como Carlos Drummond de Andrade, podiam enfrentar o contexto. Em seu poema "15 de Novembro", do livro Boitempo I (1968), o poeta contraria as pretensões dos políticos e intelectuais da época, os quais tentavam reconstituir um passado sem lacunas e sem falhas. Contudo, poetas como Ana Cristina César, Paulo Leminski e Cacaso, limitados pela Ditadura Militar e barrados pelas editoras tradicionais, fotocopiavam os próprios livros e buscaram meios alternativos de difusão, vendendo seus livretos de mão em mão em bares, praças, entradas de eventos e ruas.

Os silenciamentos passados aconteciam sistematicamente e no contexto atual brasileiro presenciamos semelhanças, fazendo com que o meio artístico, independente da sua posição na história, anseiem por expressão. A Censura, por exemplo, escrita por Lisa Alves em 2018, retrata o silenciamento atual e representa uma mudança forte, desagradável, repleta de medo e vontade de que seja diferente.

A artista mineira é parte de uma geração que busca modos de exposição sem o suporte de grandes editoras. Publicando em baixa tiragem e distribuindo os exemplares de forma independente, autores com discursos políticos não-hegemônicos e com perfis que não se encaixam habitualmente ao cânone (como mulheres, negros e LGBTs) conseguem ter suas falas manifestas e percebidas. A internet também facilita essa exposição de ideias. Redes sociais e seus botões de compartilhamento amplificam o público de quem antes seria bem menos ouvido.

Nas ruas, performances, meetings e happenings quebram o fluxo e a rotina das cidades e colocam ideias em circulações ainda hoje. Sem canais diretos de censura, fica mais fácil questionar os posicionamentos da nossa política e contestar questões e estruturas da nossa sociedade. De acordo com Christina Fonaciari, professora do Departamento de Dança da Universidade Federal de Viçosa e mestra em Performance pela Queen Mary University of London, "as performances são uma forma de ver o corpo como memória, como espaço político e de configurações de gênero... estas obras propõem uma oportunidade de refletir sobre isso, e não esconder.

A marginalidade, muitas vezes encarada como vandalismo, também marca os protestos na arte nos tempos atuais em peças de grafite, lambes e pixo - artes visuais urbanas associadas a grupos minoritários políticos, sociais e étnicos.

No vídeo, confira uma intervenção realizada por estudantes em Viçosa. Músicas da época da Ditadura Militar no Brasil foram coladas em postes da cidade, provocando uma reflexão sobre nossos tempos. Se você gostou dos cartazes, faça o download.

Há quem diga que a arte não deve se misturar à política. A prova disso são os diversos registros de obras artísticas vetadas por censores - quando não, artistas sendo atingidos por explosivos, pedras, jatos d’água, gás lacrimogênio ou, em tempos atuais, xingamentos e comentários desagradáveis nas redes sociais. Quando músicos, escritores, pintores, cineastas e outros artistas declaram seu posicionamentos e protestam contra o que enxergam de errado no mundo, são acusados de oportunismo e cinismo. Por outro lado, fãs e seguidores podem cobrar engajamento de seus ídolos e se manifestam e criticam quando estes não os agradam.

De qualquer maneira, independente do modo como o público enxerga as questões que relacionam arte e política, uma coisa é certa: é em torno dos artistas e suas obras que diversas discussões sobre problemas da sociedade são levantadas.

COMO INCENDIAR UM PAÍS

Na galeria, confira dicas de discos, filmes, livros e performances de artistas que se inspiram por políticas e micropolíticas.

Moda

O mundo da moda conta com uma grande diversidade de conceitos, ideias, gostos e vive em constante mudança. Por todo seu glamour e estilo, encanta a todos, principalmente as mulheres. A preocupação em se vestir bem e se sentir bonita é algo comum em qualquer lugar do mundo e prevalece desde séculos passados.

Na história da moda, podemos ver todas as transformações ao longo dos anos, muitas vezes representando um momento histórico, um modo de vida e até os costumes de uma determinada época. Rapidamente muda-se o corte, a costura, as cores, as formas… e ao mesmo tempo tudo volta a ser usado. A moda é um universo inconstante.

A moda também representa transformação pessoal e independência. Muitas vezes ela foi e é usada como representação de um estilo, de uma identidade, de um ideal. No século passado, principalmente durante o período da Ditadura Militar a moda fortaleceu o seu caráter “libertador” e começou a se tornar presente como forma de burlar a censura constante durante esse período.

Na década de 60, após a assinatura do AI-5 em 13 de dezembro de 1968 e o surgimento da cultura hippie nos EUA, novos paradigmas foram reconstruídos. Apesar de a ditadura ainda atuar de forma presente no país, ergue-se um ambiente de forte interação com as vivências em sociedade. Em um espaço de formação de representação e identidades, a transformação no mundo da moda, garantiu uma evolução também de novos ideais.

Lúcia faz diversos tipos de artesanato e canta no coral da UFV. A moda e arte são representadas diariamente em sua vida

A música afeta diretamente essa transformação da moda ao longo do tempo principalmente da década de 60. Com o início do Rock and Roll, acessórios como jaquetas de couro, calça jeans e botas, passaram a ser componentes essenciais em determinados looks. A artista Lúcia Otoni, aponta que por gostar muito do estilo musical, como por exemplo das bandas Pink Floyd e Beatles, isso fez com que ela se apoderasse dessa tendência também na hora de se vestir.

“Sempre gostei de escutar rock. Eu era pré-adolescente ainda, mas já gostava de transparecer tudo que sentia nas minhas roupas. O cabelo vermelho, as roupas transmitiam a minha personalidade. Até hoje o meu estilo é despojado e totalmente oposto ao clássico”.

1968 deu início a uma era de liberdade, vislumbrada principalmente na moda como um ato de quebra da ditadura no vestuário vivenciada até então pelas mulheres. Mas além disso, o ano também foi marcado pelo fortalecimento do consumo. Com novas possibilidades, as pessoas passaram a consumir aquilo que queriam e a partir disso, novas tendências foram criadas e a moda ganhou novos rumos, principalmente comerciais. Para a designer de moda Carolina Reis, um exemplo disso foi o uso exacerbado da minissaia e das botas brancas. As roupas passaram a ser mais descontraídas, e hoje ganham detalhes artesanais e bordados.

“Sempre gostei de usar aquilo que me fazia bem, nunca gostei de seguir padrões, na verdade nem acompanhava tendências, sempre visto aquilo que me representa.”

Posteriormente na década de 70 a moda prosseguiu seu processo de transformação e seguiu novos rumos. Com o fortalecimento da cultura hippie, o uso de estampas e cores prevaleceram e o surgimento de novas peças, deu origem a elementos que estão em alta até hoje, como a calça pantalona, sandálias tratoradas e etc. No Brasil, apesar de a ditadura ainda prevalecer de forma ativa, a moda hippie influenciou diretamente no comportamento das pessoas e na busca por libertação.

Roupas descontraídas e confortáveis fazem parte do guarda roupa de Lúcia

Marcada pela descentralização da moda, a década de 70 trouxe diversos estilos e materiais diferentes como: tecidos sintéticos e rústicos, estampas geométricas e florais, pela moda romântica e unissex, saias curtas e longas, pelo brilho, pelo jeans e pela moda esportiva.

Além disso, Zuzu Angel, uma das principais representantes da moda nessa época, passou a usá-la como forma de protesto, intitulando-a como “a primeira coleção de moda política da história”. Em suas roupas eram usados anjos, figuras de crucifixos, tanques de guerra, pássaros engaiolados e sol atrás das grades. Essas metáforas simbolizavam em suas peças, a história do seu filho Stuart Angel, que foi preso e morto por agentes do CISA (Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica).

“Confesso que apesar de amar a década de 80 me identifico mais com a década de 70, o estilo hippie trouxe roupas mais confortáveis e as pessoas tiveram a chance de transparecer mais seus próprios estilos.”

Para a estilista e design de moda Carolina Reis, o ano de 1968 trouxe diversas mudanças para o cenário da moda, afetando diretamente o modo de vestir principalmente das mulheres. Para ela, 2018 traz novos formatos a partir de tendências vivenciadas na época e proporciona uma ressignificação da moda e da sociedade como um todo.






A MODA AO LONGO DO TEMPO

Segundo Carolina Reis a moda foi criando novas formas ao longo do tempo, foi ganhando novos sentidos até chegar ao que conhecemos hoje. Além disso, o vestuário além de permitir novas representações, faz com que hoje em dia possa se criar novas reformulações do que víamos ao longo do tempo. O vídeo a seguir mostra um pouco da evolução da moda ao longo das últimas 6 décadas. Por meio da representação do contexto histórico da moda em peças atuais é possível perceber o processo de reestruturação das estampas e cores das roupas, acessórios, calçados e da maquiagem com referências nostálgicas, como as roupas de bolinhas da década de sessenta, que viraram tendência na época após o falecimento de Marilyn Monroe. As referências da maquiagem e cabelo dos anos 2000 das cantoras como Britney Spears e Sandy ou alusão a seriados e novelas como por exemplo em 2010 com o visual inspirado na Dona Norminha da novela Caminho das Índias.

Para quem curte e acompanha as transições da moda, sabe que para além das roupas existem termos que são atualizados a todo momento. Fizemos um infográfico para que ninguém fique por fora dos novos termos que aparecem por ai ao se tratar da moda atual.

AS NOVAS VELHAS TENDÊNCIAS CÍCLICAS DA MODA

Com a conscientização de um consumo menos exagerado, o aumento de espaços como feiras solidárias e brechós se tornaram frequentes. Uma forma de economizar, ter peças novas e resgatar culturas geracionais, a busca por esse tipo de produto tem se tornado uma ótima alternativa.

A moda foi se transformando ao longo do tempo e atualmente são criadas ressignificações a partir de tendências das décadas passadas. O ciclo da moda tornou-se uma forma do mercado se organizar e principalmente, lucrar.  De seis em seis meses novas informações são lançadas sobre novos estilistas e tendências, nos impondo o que será usado na próxima temporada e o que estará disponível nas lojas.

A ideia é reconstruir. Maria de Lourdes, dona de um brechó em Viçosa, conta como a moda vem se recriando e renovando com o que já existe e como a procura por brechós está aumentando a cada dia.






A estilista Paula Lobato conta um pouco sobre o processo cíclico e a evolução da moda ao longo do tempo. 








São novas formas de se vestir que ganham força a partir da troca ou até mesmo do aluguel de roupas. A marca de roupas Reuse Loop criada pela estilista Paula Lobato é produzida por meio de peças confeccionadas pelo reaproveitamento de outras peças, sobras de tecidos e retalhos.

QUIZ - VOCÊ ESTÁ NA MODA DE 1968 OU 2018?

A moda perpassa o nosso dia a dia. Ela é apresentada nos mais diversos meios de comunicação e pode influenciar diretamente na hora da construção identitária de cada pessoa. Na transição da década de 60 para 70 as mulheres passaram por grandes transições no vestuário. Segundo a designer de moda Carolina Reis as mulheres nessa época passaram por uma enorme evolução em suas roupas, deixando de usar as tradicionais saias, vestidos e saltos, para dar lugar também a itens que até então eram usados por homens, como a calça e o uso de calçados baixos como o tênis. A moda ganha a cada dia, novos rumos e possibilidades, passando por uma longa trajetória até chegar ao que usamos hoje. Criamos um quiz para que você descubra se segue tendências da moda do século passado ou mais atuais. E aí, você é mais 1968 ou 2018?

Sobre

A reportagem multimídia Ecos de 1968 foi produzida por estudantes do curso de Comunicação Social - Jornalismo, na disciplina COM 384, Jornalismo Multimídia, no primeiro semestre de 2018.

Conheça os estudantes responsáveis por cada seção:

Introdução: Artur Lopes, Allison Mendes, Edson Guambe e Rafael Mertens

  • Movimentos Grevistas no Brasil: Texto - Rafael Mertens e Allison Mendes
  • Vídeo "A luta por direitos trabalhistas através das greves em 1968": Entrevista e cinegrafia- Allison Mendes. Edição - Rafael Mertens
  • Linha do Tempo: Rafael Mertens
  • A importância de 1968 e a juventude: Texto - Rafael Mertens e Allison Mendes
  • Vídeo "A importância de 1968 e a juventude": Entrevista e Edição: Artur Lopes. Cinegrafia - Edson Guambe
  • Especial Ecos de 1968: Texto - Artur Lopes

Juventude: Juliana Pina, Julice Carvalho, Letícia Valério, Letícia Cozoli, Érick Luís

  • Texto: Juliana Pina, Julice Carvalho, Letícia Valério
  • Vídeos: Julice Carvalho, Letícia Cozoli
  • Infográficos: Érick Luís, Juliana Pina, Letícia Valério
  • Edição e diagramação: Érick Luís

Sexualidade: 

  • Introdução: Lídia Silva
  • Menstruação: Raíra Saloméa
  • Gravidez e Casamento: Raíssa Rezende
  • Quebrando barreiras para conhecer a si mesmo: Carolina Louback
  • Comunidade LGBTQ: Sérgio Félix

Arte e Protesto: Amanda Carneiro, Andre Aguiar, Bélit Medeiros, Déborah Médice, Sara Brunelli e Tayná Gonçalves

Moda: Amanda Rivelli, Iara Freitas, Miriam Lima, Pollyana Rioga

  •  Início: Produção, reportagem, cinegrafia e texto - Miriam Lima. Vídeo: Produção, cinegrafia e edição - Pollyana Rioga
  • A moda ao longo do tempo: Roteiro e cinegrafia - Amanda Rivelli. Produção e cinegrafia - Iara Freitas. Produção e edição - Pollyana Rioga. Produção e texto - Miriam Lima.
  • Infográfico e texto: Amanda Rivelli
  • Às novas velhas tendências cíclicas da moda: Cinegrafia e produção - Amanda Rivelli. Produção, cinegrafia, repórter e edição - Iara Freitas. Produção, repórter e texto - Miriam Lima. Produção e cinegrafia - Pollyana Rioga

Arte, Finalização e Revisão: Ana Zeferino, Mirele Moreira, Paula Dias

  • Quiz: Texto e produção - Miriam Lima

Arte, finalização e revisão: Ana Zeferino, Mirele Moreira e Paula Dias