A crítica sobre a relação entre fã e produto presente em Scream (2022) – [spoilers]

Reprodução: Scream (2022)

No começo desse ano, a franquia Scream – ou “Pânico”, como é conhecida no Brasil – levou o público de diversos cinemas ao redor do mundo de volta à cidade de Woodsboro, com o lançamento de mais um filme. Conhecida por suas inúmeras sátiras às sagas slasher dos anos 1980 e pelo seu humor metalinguístico, extremamente ácido e sempre antenado nas tendências, é claro que Scream não perderia a chance de representar o cenário atual no cinema de horror: a era das “requels” .

Primeiramente, o conceito de requel ou sequência legado, basicamente define a revitalização de determinada franquia, tomando como ponto de partida apenas o que é útil no enredo para a perspectiva escolhida. Um exemplo atual disso tem sido a nova trilogia de Halloween, que funciona como continuidade direta do filme de 1978 e desconsidera todos os subplots construídos ao longo dos outros 8 filmes. Nesse sentido, Halloween (2018), assume tanto a ideia de um recomeço que conquistará novos públicos, quanto a de um momento nostálgico para os antigos fãs da obra.

Trailer do filme Halloween (2018)

Para compreender melhor como o conceito de requel tem se aplicado no cinema de horror e como ele se difere dos já popularmente conhecidos reboots e remakes, acesse o link.


Sendo assim, em meio a diversas críticas e incertezas do público que acompanha a franquia Scream desde o seu início lá em 1996, o filme desse ano trouxe uma abordagem ousada de uma temática que já vem sendo discutida atualmente – a relação dos fãs com seus objetos de admiração e como ela se torna repressora em determinados pontos.

Ainda nos momentos iniciais da Internet, surgiram os fóruns – espaços de discussão anteriores às redes sociais, que uniam diversas pessoas em comunidades específicas. Apesar do desenvolvimento de outros meios comunicacionais, os fóruns nunca caíram totalmente em desuso, e passaram a acolher grupos que se utilizam do fator do anonimato para disseminar discursos de ódio.

Dessa forma, no contexto atual, tem se observado como as discussões nos fóruns estão ultrapassando barreiras e atingindo produtores de conteúdo – que muitas vezes abrem mão em detalhes de seus processos criativos, visando agradar o público. Apesar de Pânico 4 (2011), já ter abordado a relação de vínculo dos fãs que gostariam de fazer parte do produto que admiram, o filme desse ano transporta essa realidade para o contexto de diversos casos recentes de “fan service”, decorrentes dessas críticas e teorias fortalecidas nos fóruns. Um desses casos foi o que aconteceu em Star Wars: Episódio IX (2019).

Você pode acompanhar uma análise completa desse caso no artigo ‘Star Wars: The Rise Of Skywalker’ Proves Fan Service And Nostalgia Can Kill A Franchise, disponível no link.


Claro que, enquanto sátira de si mesmo, o filme leva essa a ideia a um ponto extremo: colocando Amber e Richie – grandes fãs da franquia “Stab” do universo de Pânico, que não gostaram da revitalização feita em sua saga favorita – como os grandes assassinos. Além disso, o filme também abala sua carga nostálgica ao matar Dewey – um dos personagens do trio principal que está presente na história desde 1996. Sendo assim, a motivação dos vilões e a coragem ao retirar um personagem tão importante do enredo dividiu o público, gerou intensos debates e discussões na internet e acabou por comprovar o ponto reforçado pelo filme: os ataques online ainda estão ultrapassando fortes barreiras e as relações dos fãs com os produtos ainda precisam ser analisadas cautelosamente.

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