Autor: Luiz Augusto Soares Basílio
Período: 2024-1
Orientador: Rennan Lanna Martins Mafra
Resumo: Esta pesquisa busca investigar quais lógicas de presença constituem os processos interacionais das máquinas contemporâneas e como tais lógicas tonalizam as experiências públicas contemporâneas que constituem o mundo comum. A análise se compromete a seguir duas perspectivas metodológicas. Uma é o paradigma indiciário, como propõe Braga (2008), para tensionar evidências singulares encontradas, a partir de um estudo de caso, com as hipóteses teoricamente informadas e produzir conhecimento interpretativo não nomotético. A outra é a perspectiva de Gumbrecht (2010), não hermenêutica, baseada nas lógicas experienciais de interação que produzem presença e não apenas sentido. A fundamentação se divide em três percursos teóricos. Em primeiro lugar, o trabalho investiga a existência de um mundo comum em contextos contemporâneos afetados pela modernidade, baseado nas contribuições de Arendt (2007, 2008, 2012, 2016), Sodré (2017) e Marques (2012), para identificar, nesse mesmo contemporâneo, como este mundo comum se apresenta. Em segundo lugar, busca responder o que são máquinas interacionais, colocando em perspectiva a natureza mesma dos computadores, a partir dos estudos de Kittler (2018), Wilson (2015) e Wegener (2015), na expectativa de entender a articulação interface-usuário e como as redes cibernéticas se imbricam com as redes sociais nas plataformas de redes sociais, com o aporte de Recuero (2015) e D’Andrea (2018) — finalmente compreendendo como o mundo comum, no contemporâneo, pode ser afetado pela presença de máquinas interacionais. Em terceiro lugar, investiga os fundamentos de uma modernidade, a partir de Jasmin (2012, 2019) e Benjamin (1994, 2013), na expectativa de encontrar algumas permanências desse passado no presente, tensionando os vestígios encontrados com as tipologias de presença de Gumbrecht (2010, 2012, 2019) para identificar quais as lógicas de presença as máquinas carregam em seus processos interacionais, e como elas correspondem às tonalidades de um contemporâneo. O capítulo seguinte é voltado para o exercício de uma análise preliminar dos objetos de estudo. A primeira parte elucida os pormenores da reportagem especial “O Remédio de R$ 6 Milhões e a Pergunta: salvar uma vida ou a saúde pública?”, produzida pelo veículo UOL Notícias, e contextualiza o debate em torno da aquisição pública de remédios para doenças raras a partir de outros desdobramentos. Na sequência, tenta compreender como lógicas de presença, a partir das demandas do contemporâneo, podem ser verificadas num gesto entre o post e o comentário ao analisar as aspectos interacionais de dois tweets realizados pelos perfis do UOL (@UOL e @UOLNotícias) no X (ex-Twitter). Este trabalho conclui que as máquinas interacionais em sua expressão de plataformas de redes sociais, apesar da natureza interpretativa dos dispositivos, de leitura e escrita, aparentam se valer de experiências de presença para inscrever os usuários em contextos de angústia, dissenso, sofrimento e conflito, como forma de manutenção de suas próprias lógicas de funcionamento na contemporaneidade, afetando, inevitavelmente, a emergência do mundo comum por meio de tais tonalizações.
Palavras-chave: máquinas, lógicas de presença, mundo comum, plataformas de redes sociais, contemporaneidade.