Você está visualizando atualmente 10 coisas que Taylor Swift me ensinou sobre o cinema

10 coisas que Taylor Swift me ensinou sobre o cinema

De storytelling em clipes a arquétipos cinematográficos em letras: a loirinha pode até dividir opiniões quando se trata de música, mas que Taytay gera lições valiosas pra quem ama cinema, isso é fato! 

Quem assiste à bolha da música pop do lado de fora acha maluquice, e não tiro a razão. Como explicar o Corinthians ser campeão ironicamente quando Taylor Swift lança álbuns, ou toda a temporada da NBA ser misticamente afetada pelas cidades em que a cantora passa com sua turnê? E pensando em turnê, como explicar os mais de um milhão de dispositivos logados em filas de espera pra realizar o sonho de ver a artista na The Eras Tour, que contempla o Brasil ainda esse ano? Swifties: onde vivem, como se alimentam, quais são seus argumentos pra defender o álbum favorito e como diabos estão em todos os lugares?

Sim, até no Cinecom a gente tem vez. A gente porque quem vos fala grita Cruel Summer a plenos pulmões com a caixinha de som no talo, usa All Too Well (10 minutes version) pra marcar o tempo e coleciona memórias com as famosas “canetadas” dela. E não ironicamente me junto a uma legião de cinemigos fãs nessa. Basta mencionar Tay em qualquer sessão e esperar – alguém do seu lado vai puxar um papo, seja de fã ou de hater.

Você pode não entender o buzz, mas te garanto que esse conteúdo não está aqui à toa. Taylor Swift, a estadunidense que compõe, produz, canta, vende ingressos como água, coleciona prêmios e leva fãs ao delírio, também tem deixado heranças pro cinema. E na lista de hoje vou te contar esse devaneio de swifitie em detalhes! 

E inauguramos essa lista com ele, o maior protagonista de sitcom de todos os tempos (opinião pessoal) e a maior representação cinematográfica de um fã da Taylor (indiscutível). Peralta, em diálogo com Terry: “Estou te falando, a máquina está quebrada, me pergunta algo” “O Jay Z é mesmo seu artista favorito?” “Sim, óbvio” “Mentira” “Viu, tá quebrada” “Ah é? Ou sua artista favorita é na verdade a Taylor Swift?” “Hmm não” “Mentira” “Ok, beleza. Ela me faz sentir coisas” “ELA FAZ TODOS NÓS SENTIR COISAS”

Reprodução: Brooklyn 99 (2013 – 2021)

1. Antes de tudo, o produzir cinematográfico pensa em emoções humanas

O Grammy de melhor videoclipe em 2023 foi pra Taylor Swift, mas a canção em questão tem muito mais que um clipe. All Too Well: The Short Film foi dirigido por Taylor. A música, que foi regravada e ganhou uma versão estendida, marca a presença dela no cenário cinematográfico. Como apelo pessoal, recomendo primeiramente que pesquisem sobre o motivo das regravações dos álbuns da cantora. Spoiler: “Taylor’s Version” inclui debates sobre ética na arte, respeito ao processo artístico e o feminismo no mundo pop. Depois desse google, assista o curta-metragem de drama romântico que ilustra uma história real, intensa e de rápida identificação, do jeitinho que os swifties amam.

Apresentado no Festival de Cinema Internacional de Toronto em setembro de 2021, a direção não passou despercebida pelos críticos. Debates focaram no processo de criação da artista, e o olhar cinematográfico sobre a música. Rodado em filme 35mm, um negativo analógico, cada detalhe dos takes foi pensado. A escolha não é em vão: os 15 minutos de duração estrelados por Sadie Sink e Dylan’o Brien ilustram que uma narrativa cinematográfica das boas é sempre um soco no estômago. Seja um detalhe da fotografia, uma trilha sonora ou uma técnica de atuação, fazer cinema é trabalhar com emoções humanas.

Como Taylor, e qualquer outra direção que se preze, faz isso? Atribuindo significado. E aí entra nosso próximo tópico.

2) Olhar pro universo fílmico é pensar em autorretrato, identificação e outras complexidades

Atire a primeira pedra quem nunca viu alguma piadinha (muitas vezes machistas, preciso reforçar) sobre como Taylor escreve uma música pra cada ex? A verdade é que sim, cumprindo o papel da arte, Taylor Swift expõe sua vida, e por que não?, seus romances. Mas isso possui argumentação técnica: cada rima de Swift se torna um exercício semiótico.

Reprodução: Brooklyn 99 (2013 – 2021) Tradução: “Isso é um pouco estranho. Eu nunca fui preso antes. Quer dizer, eu fui detido uma vez pela equipe de segurança da Taylor Swift. Mas foi um mal-entendido. Ela provavelmente vai escrever uma música sobre mim.”

Existe uma área da comunicação, a semiótica, que analisa signos. Não, não estamos falando de astrologia aqui: signos são ícones, representações que podem ser visuais, de linguagem, de estética, etc. Na academia da comunicação são analisados como aquilo que produz valor, gera preceito, introduz ideias ou ideologias. Pra simplificar, é só pensar que um filme, série, videoclipe, entre outros, representa um mundo que é real, porque vem do cotidiano antes de ir pra tela. Logo, cada micro detalhe pode (e deve!) ser observado. Aquilo que críticos analisam, cinéfilos observam de perto e diretores pensam com cuidado são símbolos, possuem significado, estão abertos para interpretação.

Reprodução: All Too Well The Short Film (2021)

Um exemplo swifter disso é o cachecol que aparece no curta, e na música, All Too Well. Esse red scarf é uma metáfora. Se relaciona com a história narrada, remete a cor do álbum (que se chama justamente Red, vermelho) e é interpretado por quem assiste através de diferentes pontos de vista. 

Sabe o patinho amarelo de Fleabag, o anel de O Senhor dos Anéis, a bola de Náufrago ou o cupom dourado de A Fantástica Fábrica de Chocolate? Elementos que se repetem e aparecem em momentos estratégicos da narrativa são signos imagéticos. Além de grudarem na sua mente e te fazerem lembrar instantaneamente da obra, reforçam um sentimento, criam uma identidade e te conectam com a obra. E olha que às vezes você nem percebe que esse mini recurso importa tanto.

3) Construir narrativas é uma missão, antes de tudo, de empatia

Falar de Taylor é falar de narrativas. Aqui me coloco como admiradora de boas histórias e te pergunto: porque uma vida randômica na fila de um banco te prende tanto, e às vezes uma aula de cento e vinte minutos planejada e calculada só te arranca bocejos? Como boa admiradora da observação, eu amo me sentar em cafeterias e, guilty, ouvir conversas dos outros. Nesses momentos, fica nítido pra mim que a história mais boba do mundo, se bem contada, ganha um significado indescritível.

Assim como na vida, a maneira como um filme te mostra a cena, quase sempre, vale mais do que a cena em si. No cinema, é o storytelling, a tal da ‘contação de histórias’, que nos aproxima da ideia a ser vendida, humaniza os diálogos, trata de todas as temáticas desejadas sem deixar pontas soltas.

Reprodução: Folklore: The Long Pond Studio Sessions (2020)

Em sua gravação de sessões no Long Pond Studio, registradas em um documentário no Disney+, Taylor conta um pouco sobre as letras do álbum Folklore. Este, considerado o mais ficcional da compositora, constrói personagens e abusa de metáforas, estilísticas literárias e representações. 

Ao falar sobre ‘The Last Great American Dinasty’, por exemplo, remete ao clássico plot twist das histórias do country americano raíz, que usam os versos pra contar uma história e, no final, revelar uma grande reviravolta. É o mesmo que Taylor constrói na canção, contando sobre a mansão de uma socialite para introduzir as polêmicas da vida desta, para no fim deixar claro que comprou a casa e as histórias polêmicas são, na verdade, sobre a própria Taylor. 

O que seria apenas mais uma crônica sobre garotas rebeldes da alta-sociedade norte-americana, se torna um conto curioso e memorável. Tudo isso pra que você se identifique, nem que minimamente, com a narrativa. Retomando o questionamento, uns filmes te prendem e outros não, justamente por causa do storytelling. E sim, tem muito diretor aí precisando aprender com a loirinha…

4) Cinema não se faz do dia pra noite, ainda que boas ideias apareçam de repente 

Top vídeos favoritos de fã: o processo criativo de ‘Getaway Car’. Insano, maluco! A velocidade com que Taylor Swift e o produtor Jack Antonoff surgem com uma letra chiclete, criativa e cheia de referências das vivências pessoais da cantora, é de colocar sorrisos no rosto de qualquer fã. Mas se tem uma coisa que a Tay nos ensina é que essa é só uma etapa do processo criativo. 

Sabe o festival de cinema que mencionei mais acima? Em entrevista no evento, Taylor afirmou que quer, sim, se envolver no universo cinematográfico, sendo o curta-metragem apenas o pontapé de uma série de ambições profissionais. Mas a caminhada é longa, e com passinhos de bebê, como a própria descreveu.

Taylor já teve suas músicas usadas em vários filmes. No início da carreira, fez aparições rápidas em séries como CSI (2000 – 2015). Nos últimos anos, foi de rápidas aparições em filmes como Valentine ‘s Day (2010) e O Doador de Memórias (2014) para aparições apenas um pouco mais longas, como em Cats (2019) e Amsterdam (2022). E não, isso não é motivo de deboche, pelo contrário, é compreender como funciona entrar nesse mercado.

O próprio filme All Too Well foi idealizado 10 anos antes de sair do papel. Ter ideias ou aspirar carreiras pode até ser rápido, mas o tempo de execução no cinema precisa ser pensado e, principalmente, respeitado. 

Reprocução: Internet

5) A desigualdade de gênero na indústria é real, e precisa ser vencida

“Estou tão cansada de correr o mais rápido que posso, imaginando se eu chegaria lá mais rápido se eu fosse um homem”. Essa é uma das estrofes mais marcantes da música ‘The Man’, do álbum Lover (2019), que ganhou um videoclipe genial para ilustrá-la; provocadora, Taytay incita aqui um debate mais do que pertinente sobre desigualdade de gênero em industrias como a musical e a do próprio cinema.

A decisão de dirigir e estrelar o clipe veio justamente como uma crítica à necessidade de mais mulheres liderando produções. Após ter arriscado co-direção de outros vídeos, decidiu que a masculinidade tóxica na indústria precisava ser solucionada em cada escolha, inclusive no por trás das cenas.

Reprodução: Internet

6) Experiências visuais possuem identidade

É da facilidade de Taylor em criar identidades visuais marcantes para cada lançamento que vem o título da turnê, The Eras Tour. Cada álbum dela possui não só uma cor, uma estética e um tema central, como também um estilo próprio. No cinema não é tão diferente.

A criação de experiências visuais é exemplificada em artistas que são reconhecidos “gratuitamente”. Muitas vezes não é preciso dizer que um filme foi dirigido por alguém para que você identifique a autoria. O conjunto de planos, ângulos, movimentos de câmera e recursos de montagem que compõem o universo de uma obra criam o chamado universo cinematográfico.

7) Referências e influências são necessárias – todo mundo ama o bom e velho easter egg

Eles estão nas entrelinhas das músicas pop – e nas dicas escondidas que Taylor deixa em clipes, postagens e entrevistas, revelando detalhes de projetos por vir. Estão escondidos nos posts de spoiler do Cinecom nas redes sociais, que dão indícios de qual será o próximo filme de cada sessão. E estão no cinema, de modo muito curioso e quase que histórico. 

Reprodução: Twitter // Vazou o fã da Taylor tentando ligar as dicas da loirinha pra adivinhar o próximo lançamento

Com esse apelido de ‘ovos de páscoa’, tratam-se de imagens, personagens, ícones ou mensagens escondidas em uma mídia, que se relacionam com outra, e passam um spoiler ou fazem uma referência.

Os mais conhecidos são os da Pixar, analisados por fãs quase que como enigmas. A produtora é conhecida por deixar pequenos recursos de linha do tempo nas obras, com referências de passado ou futuro, que localizam as histórias no espaço-tempo.

Reprodução: Monstros S/A (2001)

8) O por trás das câmeras faz parte do cinema 

Se você chegou até aqui e, principalmente, se pesquisou o significado das regravações da cantora, de duas uma: ou você é um grande fã dela, ou pelo menos compreendeu um pouco do motivo de tanto hit. Seja qual for o cenário, fica nítido que essa é uma artista que valoriza o produzir, o desenrolar criativo, cada passinho dado antes de um lançamento.

Sagitariana com ascendente em escorpião (ok, aqui falo de astrologia mesmo, são famosos pela inteligência, liberdade criativa e perfil idealista), a querida é perfeccionista e se orienta pelos detalhes. Em produções recentes, por exemplo, foi muito falado sobre como ela creditou até mesmo as pessoas que bateram palmas para gravar uma faixa em uma música, e deu direitos financeiros para amigos que tocaram instrumentos “de zoas” durante as gravações.

Esse respeito e admiração pelo por trás das câmeras é muito importante no cinema. Falamos bastante sobre isso por aqui, em conteúdos como o Cineprofissão. Existe muita gente por trás de um lançamento. Cinema é arte coletiva!

9) E a função do cinema inclui ser agente, fonte e representação da história!

Em seu documentário Miss Americana (2020) com a Netflix, Taylor explicita como construiu sua carreira com base em privilégios, ilustra a relação da sua música com seus posicionamentos políticos, e divulga informações sobre a relação da sua carreira com o período histórico em que está sendo desenvolvida.

Com o cinema não é diferente. Não dá pra negar, a gente “baba ovo” sim pra cinema hollywoodiano. Mas também temos consciência, e como cinéfilos, fazemos o possível pra expandir horizontes culturais. As produções feitas, divulgadas, e assistidas (ou não) fazem parte da história e articulam cinema e sociedade de maneira surreal. 

10) Autocrítica, fofa? Entenda que na vida do cinéfilo, hipocrisia é alegria (eu garanto)

Reprodução: Brooklyn 99 (2013 – 2021) Tradução: O ponto é, haters vão odiar. Sacode pra lá. Taylor Swift, sempre certa.

Os haters são tão dedicados como os fãs, e, em eras de cancelamento virtual, o que mais tem é gente criticando artistas, seja na música ou na cinematografia. Mas não importa – swifties estão mais que preparados para lidar com uma realidade que o cinéfilo enfrenta todo santo dia.

Eu, por exemplo, amo ver filme ruim. Ruim mesmo, daquelas comédias românticas bobas de streaming com pouquíssimas estrelas, mas com cenas bestas que aquecem o coração, declarações bregas e plots dos mais previsíveis. E está tudo bem, porque existe obra para tudo quanto é gosto.

Ah, e eu amo pagar língua. Passei anos criticando filme de ação pra, na pandemia, fazer uma maratona e descobrir que são sim legais. Defendi a DC a vida toda (desculpa migos, Flash e Supergirl tem meu coração desde os quadrinhos), e depois da sessão de Deadpool do ano passado, comecei a defender a Marvel também.

Sou chata com adaptação literária. Eu só assisto um filme ou série que veio de uma literatura depois de ler o livro em questão. Sendo assim, estou há dois anos devendo uma maratona de Normal People pra uma das minhas maiores amigas e com Os Sete Maridos de Evelyn Hugo adiantado na lista de desejos pra poder assistir o filme. Maluca, mas é meu jeitinho cinéfilo!

E você, quais são seus hábitos cinéfilos? Haters gonna hate, então aprende com a loirinha e vai curtir cinema do jeito que você bem quiser. Assim como o trabalho da minha princesa pessoal do pop, ele faz a gente sentir coisas.

Veja também:

Crítica | All Too Well: The Short Film

Para todos os órfãos de Rory Gilmore

John Hughes, cinema adolescente e as noites de CineCom que ainda vamos viver

Referências  

Os signos imagéticos no cinema: de Lumière ao digital

On The Rise of Taylor Swift, Filmmaker

Taylor Swift e a arte do Storytelling: Como construir uma narrativa.

Idealizei e escrevi esse texto escutando a playlist “taylor’s version

Comentários

Autor