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CRÍTICA | Longlegs – Vínculo Mortal

Em uma mistura entre o suspense policial e o terror sobrenatural, Longlegs – Vínculo Mortal tenta ser muitas coisas, e acaba não sendo nada.

Longlegs – Vínculo Mortal, estrelado por Maika Monroe e Nicolas Cage, era uma das apostas para o título de melhor filme de terror do ano. Na trama, acompanhamos a agente do FBI Lee Harker, que é chamada para investigar o serial killer autodenominado Longlegs, que já matou famílias inteiras e deixa sempre uma carta codificada na cena do crime. A situação começa a ficar ainda mais estranha quando Harker descobre que tem uma conexão pessoal com o assassino.

Acho que, antes de falar especificamente de Longlegs, preciso levantar um ponto: a pior coisa que pode acontecer a um filme de terror é ser divulgado como o melhor do ano. E isso não é algo difícil de acontecer, inúmeros filmes já tentaram esse título em 2024: o próprio Longlegs – Vínculo Mortal, Imaculada, Entrevista com o Demônio, e o atual da vez, A Substância. Tirando o último (que ainda não assisti, então não tenho propriedade para falar), todos sofreram com o mesmo mal: o da expectativa.

Longlegs, a grande aposta de 2024, não ganhou essa fama à toa: o marketing criado ao redor do filme é melhor que o filme em si. Se você é minimamente online, provavelmente viu diversas postagens aguardando positivamente a estreia do longa, e você nem mesmo precisava saber do que Longlegs se tratava para sentir vontade de assistir também. Eu dou os parabéns para a equipe de marketing e comunicação desse filme — mas para a equipe de produção, roteiro e direção nem tanto.

Reprodução: internet

Mas vamos por partes: o que faz Longlegs ser um dos destaques do ano? Apesar do marketing ter sido um dos grandes construtores desse sucesso, como dito anteriormente, não é só isso que faz um filme. Longlegs tem seus pontos positivos, como por exemplo, sua inspiração em clássicos de suspense.

É impossível assistir ao filme sem perceber sua semelhança com o grandioso Silêncio dos Inocentes. Desde a atmosfera do filme até a configuração dos personagens, grande parte do filme é inspirada no clássico dos anos 90. Outras inspirações como Se7en – Os Sete Crimes Capitais e O Zodíaco também estão presentes. Longlegs tinha tudo para se tornar um clássico de suspense moderno, tão bom quanto os filmes anteriores.

A fotografia e a parte artística de Longlegs são pontos altos do filme! A ambientação criada por Oz Parkins funciona, transportando o telespectador para dentro da narrativa de desconforto e mistério. Aliás, a fotografia do filme é parte fundamental da apresentação do Longlegs, o assassino do filme. A presença (ou a ausência) de Longlegs na tela é sempre muito perturbadora, seja pelos seus gritos esganiçados ou pelo próprio enquadramento da cena, filmando o personagem de Nicolas Cage do ponto de vista de uma criança — que é de onde veio seu nome Longlegs, “pernas longas” em português.

Aliás, eu gostei tanto do Longlegs, que isso contribuiu na minha frustração ao assistir o filme. Nicolas Cage, ator que divide o público, fez um ótimo trabalho como o psicótico. Para mim, o Longlegs já nasceu com potencial de entrar no hall de vilões de filme de terror, pois ele conta com características importantes como cenas e falas memoráveis, um visual muito único e trejeitos excêntricos. Além disso, ele consegue ser genuinamente assustador, mesmo quando nem está presente em tela. Toda a investigação ao redor dele é fascinante e muito bem construída.

Dito isso, como um filme com tanto potencial conseguiu ser tão… perdido?

Reprodução: internet

Para mim, o grande problema de Longlegs – Vínculo Mortal é que ele não sabe o que quer ser. O filme começa como um ótimo suspense, inserindo o telespectador na investigação junto com Harker, e o instigando a também tentar resolver o quebra-cabeça. Eu li muitas críticas sobre a lentidão do filme, mas eu particularmente não senti isso. Acho que ele funciona bem como um suspense, nos dando pistas mas ao mesmo tempo também nos confundindo.

O filme é dividido em três partes, e a primeira, chamada de “As cartas” é brilhante. O tom é bom, o medo está presente em todos os lugares, o mistério funciona e você realmente tenta juntar as peças enquanto assiste. Longlegs tem um começo promissor, o que te faz acreditar que o filme seguirá nesse ritmo, com uma trama envolvente, enquanto nos deixa curiosos para conhecer o tal Longlegs.

A parte dois também é até legal. Tudo desanda na parte três.

Quando o filme adota de vez o tom sobrenatural, ele acabou para mim. Não é um problema mesclar gêneros do cinema, na verdade, é algo muito interessante e que dá a oportunidade de expandir a criatividade — como no filme Fresh, de 2022, que mistura comédia romântica com terror (aliás, recomendo!). O problema é quando você tem um ótimo thriller nas mãos, tenta transformá-lo num filme de terror, e não consegue desenvolver isso direito.

Poxa, você tem uma ótima narrativa, um ótimo mistério, um ótimo vilão, e a conclusão do filme é que tudo era culpa do Diabo? Você convida o público a também tentar solucionar o caso de Longlegs, para no final ser só um pacto satânico? Isso não parece extremamente preguiçoso para vocês também?

Aliás, preguiça é uma palavra que eu usaria para me referir a esse roteiro. São diversos elementos que surgem no filme, e nenhum deles é desenvolvido direito. O final é apressado, com diversos flashbacks colocados propositalmente para tentar explicar até demais o que estava acontecendo, jogando informações de maneira repentina para tentar criar um plot twist que também não é tão bom assim.

Uma coisa frustrante é que Longlegs tenta se explicar tanto no final, mas, ao mesmo tempo, não explica nada. Todos os aspectos do vilão, quem ele é, o porquê dele ter começado, o porquê dele escrever as cartas, como surgiu a ideia das bonecas… tudo isso é simplesmente resumido em “ele estava trabalhando para o Diabo”. Um personagem tão interessante descartado para um roteiro óbvio de terror. E isso não é necessariamente uma crítica, às vezes a intenção do diretor nunca foi desenvolver quem ele é. Mas, independente disso, isso causa a sensação de potencial desperdiçado: há diversos filmes sobre o Diabo, mas apenas um sobre Longlegs.

Reprodução: internet

No geral, Longlegs é um filme que não sabe o que quer ser e nem sabe para onde está indo. Com um começo de tirar o fôlego, o filme se perde cada vez mais em clichês do gênero, até abandonar de vez o suspense policial e se tornar um filme de terror como qualquer outro. As altas expectativas criadas também não ajudaram o filme.

Com certeza será lembrado pelo seu visual marcante, personagens interessantes e como um sucesso de marketing. Mas é impossível assistir Longlegs – Vínculo Mortal sem sentir o amargor de que poderia ter sido muito melhor do que realmente foi.

NOTA: 2,5/5

Assista o trailer:

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