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Por que a religião e o terror se misturam tanto?

Freiras, terços, igrejas, mantos pretos e um ar tenebroso são encontrados facilmente em filmes, e a ligação que possuem vai para além das telas. 

Mal começamos a tão aguardada era dos doces e travessuras do ano, e já quero te dar um gostinho de terror nas suas leituras. Não se preocupe, aqui não terá nenhum jumpscare nem escadas que vão para sótãos ou porões. E sei que religião pode ser um tópico sensível, por isso te convido a abrir a mente e mergulhar comigo nessa imensidão que é viver da curiosidade.

Que tal uma breve historinha? O Dia das Bruxas antecede o dia 1° de novembro, e, para o catolicismo, é comemorado um culto em homenagem aos santos, o Dia de Todos os Santos (do inglês, “All Hallow’s Even”). Mais tarde, com um pouco de toque mineiro, passou a ser “Halloween”. Uma centena de anos atrás, essa data era também o fim do verão e início do ano-novo, e a usavam como forma de mudanças de comportamento para renovações na vida. Enquanto isso, Escócia era rodeada por uma lenda, a qual citava que os espíritos mortos naquele ano voltariam em busca de corpos para serem possuídos e tentarem viver um pouco mais, acreditando ser a única oportunidade de vida após a morte. Contudo, ninguém queria perder sua alma contra sua vontade, então mudaram os papéis a fim das pessoas colocarem os espíritos para correrem: se vestiam com fantasias, deixavam seus lares frios e saiam pelas ruas fazendo barulhos para espantá-los. Quando chegou aos Estados Unidos, essa cultura foi americanizada e expandida para outros olhares.

The Golden Age of Grotesque (Marilyn Manson). Reprodução: (All That Is Interesting).

Aqui no Brasil, comemoramos o dia 31 de outubro de forma mais tímida do que os americanos, e ainda sim ele consegue ser repleto de fantasias bem elaboradas, bailes temáticos e um bom motivo para maratonar filmes de terror. Esse costume é muitas vezes criticado por diversas religiões, alegando que assistir um filme ou vestir alguma fantasia remete a uma oferenda ao Diabo. 

Homenagem ao folclore amazônico ao se vestir de Matinta Perera, a bruxa da Amazônia. Reprodução: Instagram de Isabelle Nogueira.

E, por mais macabro que seja, o medo da morte e o medo que a religião provoca estão interligados. Questionar o que vem depois que partimos ou como lidar com a desconfiança da incerteza é frequentemente confortada pela crença, apesar de contornar esse pavor para outro ponto, como desfrutar do paraíso ou ir para o inferno e pagar seus pecados na vida após a morte. A religião auxilia no controle do mal, e as películas adoram realçar isso — usar a cruz para espantar vampiros é um exemplo clássico. 

Sob a ótica do medo, filmes como A Freira, O Exorcista, Invocação do Mal, Rogai por Nós e Imaculada exploram o pânico do obscuro e do inexplorado em suas obras, utilizam o fanatismo religioso, a fé e principalmente da vulnerabilidade das situações como manipulação dos comportamentos dos personagens e de um enredo (talvez) desconexo da realidade. Nas histórias, a maneira encontrada mais eficaz de salvação da possessão demoníaca seria se aproximar da igreja e dos seus mandamentos. A religião e o terror andam lado a lado nessas produções. 

A freira do filme. Reprodução: Farofa Geek.

A caça às bruxas não para por aí: a psicologia sugere que, ao lidarem com pesadelos e fobias ocultas, enredos de filmes de terror religioso podem aumentar a tolerância à dor através da produção de endorfinas. A neuropsicóloga Kristen Knowles afirmou que o corpo reage ao medo e ao suspense elevando a produção hormonal, como forma de se energizar para enfrentar uma ameaça. Além de que é muito mais seguro ver um personagem na tela ter que lutar com criaturas sobrenaturais que o espectador, e isso permite explorar os próprios medos e ansiedades. 

Uma compreensão distorcida da realidade nem sempre resulta em algo concreto e, ao preencher esse espaço vazio ou indeciso, cai num limbo de perguntas infinitas sem respostas, e essa é a graça de explorar a criatividade e o pavor em conjunto. 

É a sua vez de escolher sua saga, logo logo Halloween está aí para te lembrar que tomar um susto também faz parte do jogo. 

Escrito por Milena Miranda, uma pessoa super medrosa com filmes de terror.

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