Comédias românticas são um ótimo entretenimento há anos, mas com o passar do tempo , vêm se desgastando cada vez mais e deixando a desejar em seu enredo.
A comédia romântica é um subgênero muito lucrativo para a indústria cinematográfica há anos, desde sempre conquistando o coração de um público esperançoso por dramas cotidianos e finais felizes, mas após tanto tempo usando a mesma fórmula, começamos a perceber o desgaste no enredo das atuais produções.
Se você vem se decepcionando com a maioria das comédias românticas lançadas atualmente, saiba que não está só. Apesar de prometerem maior diversidade e aprimoramento da antiga estrutura de construção de personagens e cenas fundamentais do gênero, as mais recentes obras continuam a propagação de esteriótipos antiquados, não surpreendem na construção da química entre os pares românticos e nem atendem corretamente a demanda constante dos jovens por representatividade. O artigo de hoje é uma análise a respeito de como a maioria dos filmes têm pecado ao tentar inovar utilizando formatos que fizeram sucesso no passado.
A Netflix tem sido uma das principais empresas produtoras de entretenimento adolescente, acertando e falhando em proporção equilibrada, sendo Sierra Burgess é uma loser um exemplo claro de uma tentativa de trazer representatividade, mas que falha ao atribuir esteriótipos como o da líder de torcida burra e o do melhor amigo gay, que serve apenas como instrumento de apoio para a menina hétero insegura. Claro que a metáfora do girassol é ótima e fofa, mas é um filme que se perde ao tentar quebrar um estigma mantendo outros que também afetam grande parte do público. Além da cena do primeiro beijo entre os protagonistas ser precipitada e não fazer sentido algum, deixando a desejar uma expectativa criada por toda a parte legal das conversas e fase de conhecimento virtual entre ambos, perpetuando um romance morno durante o resto da história.
Outro exemplo, mais recente ainda, é o filme O Date Perfeito, também lançado na Netflix, que traz um triângulo amoroso entre personagens de estética e personalidades dentro dos padrões, com um enredo fraco e uma divulgação tendenciosa, a obra foi uma gigantesca quebra de expectativas para o público que aguardava um conteúdo de qualidade. O final é aceitável na medida que o principal aprende com seus erros e tenta encontrar seu lugar no mundo, o que não é nem um pouco novo, mas a ideia de que “o amor vence tudo” é extremamente incômoda. Brooks mentiu e não merecia ficar com nenhuma das duas garotas. O fato de uma delas o perdoar me trouxe a impressão de que a mensagem final que fica é que devemos relevar nossas mágoas para encontrarmos o príncipe encantado – francamente, passo.
A utilização de clichês é interessante por trazer conteúdo conhecido e até leve, mas deixa o filme sem um real motivador para que novas pessoas se interessem ou as antigas se surpreendam com aquilo. Afinal, quantas patricinhas já não se apaixonaram por caras rebeldes descolados? Quantas mulheres intelectuais e fora do padrão já não mudaram por serem consideradas “nerds” para ficarem com o atleta popular? Quantos Troy’s já não se apaixonaram por garotas doces e diferentes como Gabriela? Quantos casos de ódio que já viraram amor intenso? Tantos bailes foram dançados, namoros falsos que se tornaram reais, competições femininas que demonizam uma vilã realizadas, amizades inesperadas surgiram e o público continua recebendo as mesmas cenas, mesma essência, com rostos diferentes.
Enfim, precisamos falar urgentemente de como há uma falsa ideia de representatividade vinculada às atuais comédias românticas e como ainda faltam personagens homossexuais com desenvolvimento mais profundo e sem a sexualização exagerada de seus relacionamentos, personagens negros que desempenhem papéis além dos secundários e que tenham espaço real de fala, personagens femininos e masculinos que aprendam a se amar sem precisarem de um par romântico mais ou menos para servir de muleta e desvalorizar sua força individual, precisamos exigir mais verdade na venda do conceito de representatividade pelo meio cinematográfico.
Por fim, fica a dica de duas comédias românticas que valem muito a pena e fogem do padrão: Com Amor, Simon e Podres de Ricos.