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Crítica: A pequena loja de suicídios

Uma animação que ultrapassa os limites do politicamente correto e intencionalmente incomoda  seu espectador do começo ao fim

Le Magasin des suicidés é um filme de origem francesa, criado em 2012 por Patrice Leconte, que traz inicialmente um cenário mórbido em que uma crise econômica deixa inúmeros desempregados e tira a vontade das pessoas viverem. Isso resulta em uma epidemia de suicídios e músicas melancólicas, com os membros da família Tuvache sendo os únicos que se beneficiam com esse momento de escuridão por possuírem uma loja de artigos para os clientes colocarem fim às próprias vidas. Porém, quando Luccrece Tuvache dá a luz ao seu terceiro filho, uma criança extremamente feliz, tudo começa a mudar na vida dessa família de personagens apáticos. O menino cresce como um componente estranho em seu lar, mas não deixa que acabem com sua personalidade alegre e não compreende o porquê de tanta infelicidade, tentando sempre deixar as pessoas ao seu redor felizes e contagiando todos com seu jeito esperançoso.

A obra mostra uma maneira incisiva, mas descontraída, de tratar temas pesados como a solidão, a depressão, a agonia e a morte. Consegue ilustrar perfeitamente o dilema vivido por cada um dos suicidas, o medo da morte e o desejo de acabar com toda a angústia que os cerca. O cenário e os personagens se unem em cores frias, temas sombrios, uma representação constante da falta de vida, o que faz com que o espectador sinta parte da agonia ali representada e expõe a necessidade de reflexão que o enredo traz com maestria. O que está acontecendo com o mundo de hoje para que tenhamos nos perdido tão facilmente em nossos lamentos? Estamos focados demais em coisas superficiais e perdendo nossas vidas?

O objetivo de crítica social com humor que desafia o politicamente correto é cumprido, prendendo a atenção do público, de forma muito simples, assim como os gráficos de desenho.É um filme que vale a pena ser assistido pela conquista de um olhar empático do público sobre o sofrimento dos personagens, pelas cenas musicais que acompanham a tensão e passam mensagens claras, mas, principalmente, pelo conjunto envolvente de elementos que nos apresenta ao longo da trama. O que não torna a obra sem defeitos, a mesma peça ao ter uma mudança muito brusca de objetivo no final, o que gera certa confusão no entendimento dos acontecimentos, os personagens não têm suas personalidades exploradas além do superficial, mostrando-os rasos assim como certos acontecimentos que passam a ocorrer muito rapidamente, e foi responsável por vender uma expectativa maior sobre o plano final de Alan, que não foi cumprida.

O fato de fixar questionamentos na mente do público é fundamental para o desenvolvimento do feedback crítico esperado pelo autor, esses mesmos pensamentos são responsáveis, também, pelo sentimento de incômodo em quem assiste. Afinal, o tema retratado não é feito comumente para divertir , apesar de ser tratado na animação de forma mais lúdica, misturando animação e humor ácido. Porém, é importante ressaltar que o conteúdo apresentado não é adequado para crianças e pode servir de gatilho para pensamentos sombrios, devido ao fato desses elementos serem amplamente explorados no enredo.

Devido ao equilíbrio entre um enredo interessante, cenas musicais boas e temas chocantes, o filme merece três pipocas pela qualidade em seu desenvolvimento, perdendo apenas por sua falta de aprofundamento das personalidades principais e confusão de acontecimentos no final, elementos que deixaram a desejar na conclusão da história e mensagem final, como se fosse feita às pressas e sem muita preocupação quanto ao resultado.

 

 

 

Nota do filme:

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