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Crítica | Code Geass

Um anime que tem muito mais a oferecer do que parece inicialmente e tem tudo para prender o público

Ao me indicaram esse anime, eu ouvia as pessoas falarem sobre com um endeusamento ao redor. Minha primeira impressão ao procurar na Netflix foi “apenas mais um anime de batalha de robôs”, logo ele me provaria o contrário.

Code Geass: Lelouch of the Rebellion é um anime de 2006, atualmente disponível no catálogo da Netflix. Conta com 50 episódios (2 temporadas de 25) e tem como sinopse:

Lelouch Lamperouge é um jovem estudante que vive em um Império denominado Britannia. No ano de 2010 do calendário imperial, a Britannia declarou guerra ao Japão, que acabou derrotado. Com isso, o país perdeu a sua liberdade, seus direitos e até mesmo o seu nome, passando a ser chamado de Área Eleven (11). Criou-se também duas sociedades totalmente opostas. Enquanto os japoneses (chamados de “eleven”) vivem em uma parte da cidade degradada e miserável conhecida como gueto, os britannianos residem do outro lado confortavelmente, demonstrando a desigualdade gritante e o forte domínio imposto pelo Império da Britannia.

Dentro dessa realidade, Lelouch vive entre seus colegas de escola e a sua irmã, Nunnally, deficiente visual e cadeirante. De personalidade introvertida, mas muito inteligente, o jovem estudante na verdade guarda um grande segredo, que intimamente deseja esquecer: ele é um dos sucessores ao trono da Britannia.

Irei abordar a crítica da obra dividida em aspectos.

A PARTIR DAQUI HÁ SPOILERS

O mundo e sua influência na trama

Como dito na sinopse, tudo se passa na área 11 (antigo Japão) dominado pelo império Britannia que controla um terço do mundo devido a sua superioridade militar. Tendo questões políticas, sociais e militares extremamente ligadas aos personagens, como os japoneses que lutam pela sua independência. Só que devido ao protagonista estudar numa escola da elite, seus amigos são britannianos que em inúmeros momentos demonstram sua xenofobia contras os “elevens”, abordando inúmeras ideais e visões sobre justiça, patriotismo, vingança e preconceito.

Com uma sociedade baseada em uma estrutura hierárquica de etnias, a desigualdade é evidente, se tornando a motivação de inúmeros personagens que , de acordo com seus ideais, lutam contra ela. Por exemplo, os japoneses dos cavaleiros negros através da luta armada, enquanto Suzaku tenta mudar isso de dentro.

Porém, na minha visão, a questão de nacionalidade é mais envolvente com relação a Lelouch, o protagonista. Porque ele é o líder dos cavaleiros negros, o que se torna o principal grupo de resistências japonesa, ou seja, ele é a cara da resistência (no caso o seu disfarce é). Só que aí entra um problema, ele é um príncipe britanniano deserdado e estuda em um colégio da elite, deixando um questionamento enquanto a suas motivações, ele luta mesmo pela independência do Japão ou os utiliza apenas como arma para destruir o Imperador?

Personagens e protagonista

A série possui inúmeros personagens divididos em dois núcleos, a guerra e o colégio. Muitos deles possuem grande potencial, mas não são explorados ou isso é feito de forma corrida, devido a essa divisão do plot ou por haver um acontecimento muito grande ao redor do protagonista que ofusca esses personagens.

O grande Lelouch se sobressai a qualquer um dos demais personagens. Um dos mais bem construídos protagonistas que conheço. Um jovem reservado e inteligente, motivado pela vingança a seu pai, o imperador, que não fez nada com o atentado que resultou na morte da sua mãe e na paralisia de sua irmã. A princípio um personagem simples, o que o torna grandioso é o seu crescimento durante a trama, a forma como ele coloca tudo de lado, como ele sacrifica tudo que tem para concretizar sua vingança e proteger sua irmã (única coisa que o faz perder o controle). No final vemos alguém quebrado e ainda disposto a dar tudo que tem, eu não o coloco como herói, mas sim um anti-herói que muitas vezes parece mais “vilão”, e mesmo assim você continua ali torcendo por ele. Entretanto Lelouch é protegido sobre o manto do protagonismo, muitas vezes se vê sem saída, mas de alguma forma cria um plano surreal e consegue sair da situação e um dos melhores momentos é quando eles quebram isso ao fazer ele perder uma batalha contra a federação chinesa.

Karen e Suzaku são outros personagens principais que mostram um ótimo arco e bom desenvolvimento e juntos tem um bom embate como os melhores pilotos de cada exército.

O imperador e os antagonistas

Esse é um dos pontos negativos do anime, temos um protagonista extremamente forte, mas pecam no grupo de antagonistas. Na primeira temporada a Cornélia se mostra uma boa antagonista a Lelouch mas é pouco aproveitada na segunda. Já o Imperador que era para ser “O Vilão” quase não aparece, é extremamente poderoso destoando praticamente de todos os demais, ele é um deus se comparado aos outros, então como derrota-lo? Apenas utilizando de um protagonista deus ex machina, que vai ter um salto de poderes incrivelmente grande e sem explicação para poder realizar o feito. Toda uma trama criada para ser resolvida as pressas (esse é o principal defeito do anime, falarei sobre no próximo tópico).

Como eu disse antes sobre o papel da Cornélia que foi a antagonista dos planos do Lelouch na primeira temporada, tivemos outras personagens com potencial de serem bons antagonistas ou pelos menos terem sido inimigos mais explorados. Como os “Knights of Rounds” que são tidos como os melhores pilotos de mecha do império mas não são desenvolvidos além das cenas de luta.

Ritmo e Enredo

Parece quesito de avaliação de escola de samba, mas se fosse o anime não conseguiria uma nota 10. Aqui está o maior problema de Code Geass: sua primeira temporada apresenta consistência tendo como falhas de ritmo apenas alguns episódios muito lentos/ desnecessários para a trama principal. Essa quebra de ritmo, na minha opinião, é fruto da divisão dos plots, sendo uma pautada na guerra e na luta com robôs  e o outro na vida cotidiano dos adolescentes do colégio. Então ao sair de um momento tenso de batalha somos levados a um ambiente de anime totalmente diferente, gerando uma quebra da narrativa, isso afeta pouco ainda, não tirando o prestigio dos 25 episódios.

Inúmeras pontas soltas são deixadas para serem exploradas, só que a questão é que é inviável a explicação de tudo em apenas 25 episódios. Quando comecei a segunda temporada na Netflix achei estranho o fato de ter apenas as duas primeiras temporadas, aí fui pesquisar e vi que o anime inteiro só tinha essa quantidade. A partir daí já previ que muitas coisas seriam ligadas de qualquer forma para entregar no prazo e foi o que aconteceu. A questão do imperador que já disse antes é uma das principais, não vou me aprofundar em cada parte que eu acho que poderia ter sido melhor explicada, para não entrar em detalhes complexos da trama.

Entretanto não só de aspectos negativos vive o quesito de ritmo e enredo, aqui também está um dos pontos altos da série – os plot twists -. As inúmeras reviravoltas presentes te fazem se sentir como os inimigos do Lelouch, você não consegue prever seus próximos movimentos. O amarrando cada vez mais a complexidade da narrativa.

 

Conclusão

Mesmo apresentando problemas quanto a ritmo e antagonistas, Code Geass é um anime muito bom. O protagonista aliado as suas reviravoltas conseguem prender o expectador e o fazer ansiar pelo resultado das batalhas e das manobras de Lelouch atrás da sua vingança.

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