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Crítica: Mentira Incondicional

Dizem que uma mentira bem contada se torna verdade, mas e quando ela passa a arruinar vidas?

Mentira Incondicional é uma refilmagem do filme alemão Wir Monsters (Nós Monstros, em tradução literal), de 2015, escrito e dirigido por Veena Sud. Teve sua estreia no Festival Internacional de Toronto em setembro de 2018, sendo de fato lançado apenas em 2020, em uma parceria entre o Studio Amazon e a produtora Blumhouse.

Sem muitas delongas, o filme nos apresenta Kayla (Joey King), uma garota um tanto quanto temperamental e mimada, que assume para os pais ter matado impulsivamente sua melhor amiga Brittany (Devery Jacobs). A partir dessa confissão, a vida de Jay (Peter Sarsgaard) e Rebecca (Mireille Enos) passa a se resumir em fazer o necessário para livrar a filha do julgamento e consequentemente da prisão, enquanto lidam com o horror e o choque que os acometem pela situação. O instinto protetivo dos pais e a decisão de proteger a filha a qualquer custo, mesmo perante a um erro fatal, leva ambos a embarcarem em uma teia de mentiras que se intensifica e piora com o desenvolver da trama. Tudo gira em torno de uma mentira que desenvolve outra mentira e assim se inicia um ciclo que não poderia terminar de forma diferente que não fosse a verdade sendo descoberta. E o poder da trama consiste nas reações e nas decisões dos personagens perante essas situações. 

O enredo se caracteriza por não manter um certo padrão de consistência com relação a manter a atenção e interesse do público, se desprendendo do ritmo inicial e tomando uma sequência monótona em que nada de fato acontece. A fotografia é bonita, com tomadas na neve e em tons frios, buscando transmitir o mistério e o suspense que envolve os fatos apresentados, mas a falta de desenvolvimento dos personagens dificulta a empatia para com eles. O elenco de peso talvez seja o fato crucial para impedir que o filme caia em um clichê meia boca e a própria Kayla é o melhor exemplo disso. Joey King consegue carregar a dualidade das atitudes de sua personagem com maestria; para quem acaba de matar a melhor amiga, o comportamento da garota é um tanto quanto incomum, por muitas vezes agindo de forma descontraída e dispersa, que leva os pais duvidarem de sua sanidade mental. King consegue com facilidade criar essas dúvidas sobre os fatos apresentados e questionamentos sobre o comportamento da adolescente. 

A entrega dos pais na trama em prol da filha é oferecida com excelência por Mireille Enos e Peter Sarsgaarde, que entregam atuações plausíveis apesar do pouco aprofundamento da trama nos personagens. Rebecca é a mãe e advogada independente e elegante, que ao se deparar com a situação perde todo seu brilho, sendo sugada pelo horror e medo. Jay, por sua vez, como pai, tenta tomar as rédeas e controlar a situação, mas está em um estado tão caótico quanto as companheiras. O que vemos é a intensificação da relação entre os pais, que no começo da trama apresentam as brigas típicas de pais divorciados, e que se veem juntos no meio do furacão criado pela criança que colocaram no mundo. Ambos estão dispostos a ir o quão longe for para protegê-la, e a sacada com o nome da produção está aí, no amor incondicional que gera uma mentira de mesma característica.

O longa não se afirma como um suspense grandioso e inovador, mas passa longe de ser um dos piores da categoria, se firmando com um plot-twist que tem o poder de estragar ou melhorar o filme em diversos níveis, dependendo do gosto do espectador. 

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