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Crítica|Moxie: Quando as Garotas vão à Luta

O filme traz uma discussão feminista necessária com uma linguagem simples

Muitas discussões importantes da atualidade acabam ficando em uma bolha por falta de uma linguagem inclusa. Quantas vezes já não ouvimos alguém dizer que não entende nada sobre preconceito de gênero ou tem uma ideia errônea sobre o que é o feminismo porque são conceitos muito acadêmicos? É em momentos como esse que a arte é de fundamental importância para o grande público – comunicar com o seu público e trazer reflexões é um de seus pilares. E com o cinema não é diferente. Até mesmo aquele filme que parece mais sem graça ou aparentemente bobinho pode transmitir uma mensagem relevante.

Moxie: Quando as Garotas vão à Luta é mais uma recente estreia original da Netflix. Uma comédia romântica dirigida por Amy Poehler, famosa por sua participação em Saturday Night Live, e com vários nomes mais desconhecidos no elenco, como Hadley Robinson, Lauren Tsai, Pratrick Schwarzenegger (filho do ator e político Arnold Schwarzenegger), Nico Hiraga, Sydney Park, Josephine Langford (conhecida por seu papel em After), Clark Gregg e a própria Amy Poehler. O filme é a adaptação do livro homônimo de Jennifer Mathieu e acompanha Vivian (Hadley Robinson), uma adolescente que começa a perceber um desejo para lutar contra o status quo do colégio depois que uma novata  negra critica em sala o livro O Grande Gatsby por seu privilégio branco e patriarcal. Ela não dá muita atenção às problemáticas que foram levantadas, até que em seguida os meninos da escola divulgam uma lista com um “ranking de garotas” e os professores e diretora fazem vista grossa diante do assédio. Inspirada pelo passado rebelde de sua mãe, ela cria Moxie, uma zine anônima para denunciar tudo o que acontece e incitar uma revolução silenciosa que leva outras estudantes a lutarem por seus direitos também.

O filme mostra momentos que acontecem na vida de muitas mulheres: você vê uma outra menina sendo assediada e dá as costas, fingindo que não presenciou isso, seja por medo de se posicionar e virar algo, seja por não saber reconhecer que aquilo não deve ser levado como algo comum. O longa acerta ao mostrar como a raiva que Vivian sente é legítima, mas que extravasando em todas as direções sem pensar duas vezes ela acabou magoando as pessoas que mais ama. Ele explicita como a raiva contra as injustiças deve ser direcionada para uma ação efetiva, mostrando que o feminismo está longe de ser uma raiva generalizada contra os homens.

O drama colocado não fica entediante, o romance não é a parte central do enredo e a comédia é construída de forma cuidadosa para não cair no escárnio em momentos inoportunos. Moxie causa identificação não apenas com os estereótipos clássicos que vemos em diversas comédias românticas dos anos 80, como também gera identificação com a luta atual por mais representação e respeito às mulheres. É essencial, inclusive, a relevância de Seth (Nico Hiraga), um garoto gentil que apoia a luta das garotas e mostrando, assim, que a igualdade de gêneros é responsabilidade tanto de homens – com a necessidade de aprenderem a serem respeitosos e apoiarem essa luta – quanto de mulheres. Apesar disso, não desenvolve seus personagens secundários de maneira a encaixá-los na história de forma mais orgânica, alguns que merecem ter suas histórias contadas para além de suas interações com Vivian.

Ao som de uma trilha sonora indie-punk, Moxie mostra uma nova versão de uma história sobre abrir os olhos contra o patriarcado. A trilha é uma parte importante no longa, introduzindo bandas como Bikini Kill, Sleater Kinney e The Mighty Mighty Bosstones às novas gerações e acompanhando a jornada da protagonista e o ritmo do enredo. Há um ritmo crescente ao longo de boa parte do filme, mas as subtramas que o fragmenta causa uma aceleração desnecessária em alguns momentos cruciais, pecando ao encaixar muitos diálogos e discussões nos poucos minutos que ainda sobraram – deixando, ainda, a conclusão a cargo do espectador. Um final sem conclusão concreta é muitas vezes é um elemento narrativo interessante, mas talvez não seja a melhor escolha para esse filme em específico, principalmente com a forma abrupta com que foi finalizado.

Apesar de cenas e discussões que poderiam ter sido melhor construídas, o filme cumpre seu papel sem recorrer a estereótipos ao entregar uma trama divertida e motivadora, abrindo caminho para questões que devem ser discutidas com um público jovem que ainda tem um longo caminho pela frente.

Nota do filme:

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