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Crítica: Os Irregulares de Baker Street

Sherlock Holmes, um mundo paranormal e um pouco de drama adolescente te esperam na nova série da Netflix

As investigações de Holmes e Watson são sempre um tema interessante para filmes e séries e, por isso, essa não é a primeira e nem a última produção a trazer os detetives para as telas. Mas podemos dizer que essa é a primeira que coloca em foco um grupo de adolescentes, ao invés da dupla. O grupo de crianças de rua que ajudava Holmes nas investigações foi citado no primeiro livro em que o personagem apareceu, “Um Estudo em Vermelho”, e brevemente em alguns outros livros e contos, porém, nunca foi a intenção do autor, Arthur Conan Doyle, dar o tão estimado holofote de Sherlock ao grupo de irregulares, cujo papel foi sempre prover informações em troca de dinheiro.

Em Os Irregulares de Baker Street, Tom Bidwell faz exatamente o oposto. Com um enredo focado em um grupo de adolescentes que vivem nas ruas da Londres vitoriana, o objetivo do roteirista e produtor é humanizar e desmistificar a figura de Holmes. Normalmente retratado como o protagonista, aquele que não erra nunca e não pode ser questionado, nessa produção Sherlock (Henry Loyd Hughes) não passa de um adulto misterioso e de procedência bastante questionável que, juntamente com John Watson (Royse Pierreson) – que provavelmente tem o caráter ainda mais duvidoso que o primeiro – contrata os serviços do grupo. E, portanto, se ver o detetive em ação e em toda a sua glória é seu maior interesse, talvez essa não seja a série certa para você.

Todas as mudanças feitas no enredo exclamam o caráter comercial da série. Uma delas é o amadurecimento dos personagens, retratados como crianças nos livros e interpretados como adolescentes na série. Isso porque, nós sabemos bem, a Netflix vem ganhando com maestria o público adolescente com filmes, séries e sequências inteiras dedicadas a ele. Nessa produção, quem lidera o holofote ao invés de Holmes é Bea (Thaddea Graham), uma personagem feminina forte e determinada que faz o que for preciso para manter os amigos em segurança. Ela e a irmã Jesse (Darcy Shawn) – que ganha um protagonismo fantástico ao longo da série – foram abandonadas pelos pais e viveram nas chamadas “casas de trabalho” londrinas, onde pessoas pobres que não tinham lar podiam viver em troca de trabalho. 

Outro fator que mostra o caráter comercial deste enredo é a inserção de elementos sobrenaturais. Já no início, percebemos que existe algo de diferente em Jesse, mas não é até o envolvimento do grupo com o primeiro caso designado por Watson – que já tinha percebido o comportamento da menina – que descobrimos que ela é uma espécie de vidente, tem a capacidade de entrar na memória das pessoas e viajar por planos existenciais. A partir desse momento, tudo fica gradativamente mais estranho ao longo dos oito episódios. Com as investigações dos crimes bizarros que estão acontecendo em Londres, o grupo descobre que uma espécie de fenda entre o mundo sobrenatural e o mundo dos humanos foi aberta e o objetivo dos personagens se torna fechar essa abertura e salvar a cidade dos poderes paranormais.

O drama que normalmente vem com as produções adolescentes também não fica de fora em Os Irregulares de Baker Street. A participação do Príncipe Leopold, filho da rainha da Inglaterra, com seus olhos azuis e cachinhos loiros, é suficiente para cobrir a cota de clichês previsíveis da série. Membro da família real e cansado de toda a sua vida banhada de mordomias e futilidades, Leo – como é chamado pelo grupo de amigos – procura amizades verdadeiras e aventura longe do palácio e acaba as encontrando em Bea e no grupo de irregulares.

Os inúmeros apelos ao público jovem, no entanto, não ameaçam o enredo e a produção fantástica da série. Tudo o que esperamos que uma produção com Sherlock Holmes aborde – as investigações contínuas de crimes, os clichês onde o detetive é sempre o herói e as morais dele e de Watson são inquestionáveis – são parcialmente substituídas por novos temas que agradam a diferentes públicos e tornam a série dinâmica e empolgante. A investigação e os crimes bizarros continuam presentes, porém em momentos específicos, como no ótimo episódio três – que conta com vários assassinatos em uma mansão que só poderia ter saído diretamente de um livro de mistério.

Se é de uma série cativante e animada que você está precisando, Os Irregulares de Baker Street não vai te decepcionar. Mesmo que seja mais uma das produções comerciais da Netflix, a força dos personagens, a caracterização histórica e o roteiro muito bem escrito são suficientes para diferenciar essa das tantas outras histórias intermináveis sobre adolescentes bonitos e inteligentes lutando contra monstros, forças do além e criminosos.

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