Podemos aprender amar até os longas mais chatinhos
Assim como muitas pessoas, a minha relação com cinema começou desde pequeno. Quando ainda era criança, assisti clássicos da Disney, os filmes do Homem-Aranha com o Tobey Maguire e produções infantis brasileiras como os da Xuxa, porém ainda assistia tudo de forma muito passiva, não buscava refletir sobre as mensagens delas e o que fazia com que gostasse de algumas, mas não de outras. A formação de uma relação mais ativa com o cinema, onde buscava processar melhor os longas que consumia, surgiu aos poucos. Por conseguinte, veio tanto a necessidade de aperfeiçoar meu olhar crítico, quanto de buscar por filmes que fossem aclamados pelos críticos, porém encontrei um grande problema nessa trajetória, minha opinião nem sempre era a mesma que a de alguns fãs dessas obras as quais irei chama-las de “cults“, ainda que o termo possa não ser o mais exato.
Às vezes achava um desses longas chato, sem sentido ou simplesmente ruim, por conta disso comecei a acreditar que talvez não fossem meu tipo de filme ou que talvez me faltasse inteligência para compreendê-los. Quando digo isso sei que não sou o único a ter pensamentos assim, acredito, inclusive, que alguns de vocês já até desistiram dessa obras e, se esse for o seu caso, espero que esse texto faça você dar mais uma chance a eles.
O primeiro ponto para livrar desses pensamentos é entender que essas obras são muito diferentes entre si, assim como alguém que gostou de Velozes e Furiosos pode detestar Esquadrão Suicida, quem não gostou de Taxi Drive pode amar Clube da Luta. Portanto, não há porque desistir já na primeira decepção (e nem na segunda). Outro ponto importante é entender que temos todo direito de não gostar de qualquer filme, seja ele a nova sensação entre os críticos ou um há muito tempo conceituado, porque o cinema é feito para ser pensado e discutido, logo, ideias discordantes são esperadas.
Entretanto, se a visão de um crítico por si só não pode ditar qual será nossa opinião, também não podemos fazer das nossas convicções verdades absolutas. Nem toda mundo que elogia um filme que você não gostou está fazendo isso para “pagar de intelectual”. É importante, também, procurar saber porque aqueles que estudam cinema a tanto tempo acreditam que, por exemplo, 2001: Uma Odisseia no Espaço é uma das melhores obras de ficção científica e não um longa chato e muito demorado. Nisso entramos no último ponto, compreender que parte do problema é nosso e que está tudo bem. Sei que alguns podem pensar “quer dizer que se eu não gostar de um filme do Scorsese o problema sou eu?”, mas calma que não é isso que quero dizer.
Enquanto, longas como Os Vingadores são criados para serem lidos de imediato e focam em abordagens mais objetivas sem muitos subjetivismos, filmes como O Irlandês exigem um certo esforço maior do espectador para ser compreendido em sua totalidade. Veja bem, não é questão de um ser melhor que o outro ou que só um possa ser analisado de forma profunda, mas que por serem feitos com propósitos diferentes exigem relações diferentes do espectador. Essa relação, no caso dos cults, demanda desejo por aprender mais sobre cinema, além da experiência que só se ganha ao assistir mais e mais filmes, de modo que gradativamente o seu olhar irá melhorando, passando assim a captar mais dos detalhes que formam um filme. O mesmo ocorre com outras formas de arte, ninguém pega Borges ou Dostoiévski para ler esperando entender tudo de cara, então não espere o mesmo do cinema e nem se zangue com o diretor por não ter entendido sua obra.
Vale ressaltar, que isso não significa que para gostar de um filme cult você precise ser cinéfilo, podemos amar algo que não compreendemos por completo e algumas obras não são feitas nem para serem decifradas. Digo por experiência própria, 2001: Uma Odisseia no Espaço é um dos meus filmes preferidos de ficção científica e continuo incapaz de explicar o seu final. E sim, existem obras que são difíceis apenas porque foram mal feitas, mas isso já é outra história. Também acontece de, no fim, mesmo entendendo um longa aclamado pela crítica, podemos não gostar dele e repito que está tudo bem nisso. Sempre existirá um clássico, um filme cult ou um indicado ao Oscar para acharmos ruim, ao mesmo tempo que sempre existirá centenas de outros para entrarem na nossa lista de favoritos.
Fontes:
É possível não gostar dos clássicos? (Opinião)
10 provas de que você é um cinéfilo
Veja também:
TOP 5 filmes com finais inquietantes
A Angústia Pós-Apocalíptica de La Jetée
Revista No Script! – Túnel no Tempo