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TOP 5: Filmes nacionais adaptados de peças teatrais

Apesar de suas diferenças, o teatro e o cinema estão sempre andando de mãos dadas e dando pitaco um no trabalho do outro. Confira alguns filmes que nasceram dessa linda relação

O cinema e o teatro são duas manifestações artísticas que, apesar de parecerem muito semelhantes no que diz respeito ao produto final- e possuem, sim, as suas semelhanças-,  são muito diferentes entre si. O contato com a plateia e a constante improvisação de um ator de teatro, por exemplo, não se faz tão presente quando o papo é sobre a gravação de um filme diante das câmeras. Apesar dessas diferenças, essas artes estão em constante diálogo e uma exerce influência sobre a outra. No cinema o contato com o público é muito menos direto e, por isso, sempre é um desafio quando diretores e cineastas se propõem a adaptar uma peça teatral para o universo cinematográfico sem que ela perca a sua essência de palco. 

Recentemente, um clássico da dramaturgia brasileira recebeu uma adaptação: Pluft: O Fantasminha, de autoria da escritora Maria Clara Machado, recebe as interpretações sob a lente da roteirista e cineasta Rosane Svartman. O filme deve estrear essa semana e é só mais um capítulo dessa longa história de amor entre o cinema e o teatro. Pensando nisso, o Cinecom traz alguns filmes que foram baseados em textos e obras teatrais brasileiras, seja para que você os relembre, para que descubra essa curiosidade sobre algum filme que você goste, ou então, para que conheça novos filmes e novas peças incríveis de nossa cena artística nacional.

Eles não usam black-tie (Leon Hirztman, 1981)

Reprodução: Internet

Baseado na peça homônima do dramaturgo italiano naturalizado brasileiro Gianfrancesco Guarnieri, a obra ganha  nova roupagem sob a direção de Leon Hirszman e fotografia de Lauro Escorel. O drama, lançado em 1981, conta a história de um jovem operário, que, em meio à gravidez de sua esposa, se depara com a eclosão de um movimento grevista na fábrica onde trabalha. Com o casamento já marcado e preocupado com o emprego, o jovem fura a greve e entra em conflito com o pai, um velho militante sindical. Como há uma grande diferença temporal entre o lançamento da peça e a produção do filme e, para além disso, uma grande diferença contextual, o texto teve que ser muito bem adaptado para fazer sentido para o Brasil do início dos anos 80. Quando a peça foi escrita, ainda não havia começado a ditadura militar, período que deixou uma marca estrutural de violência à oposição no país. Esse aspecto foi incluído na adaptação com maestria. O filme foi premiado em diversos festivais internacionais de cinema e conta com um elenco de peso com nomes como Fernanda Montenegro, Milton Gonçalves e Carlos Alberto Riccelli. 

Lisbela e o Prisioneiro (Guel Arraes, 2003)

Reprodução: Fox Film

A comédia romântica, lançada em 2003, é uma adaptação do texto de Osman Lins, escritor pernambucano, e conta a história de Lisbela e Leléu. Ela, uma jovem sonhadora amante do cinema e dos galãs de Hollywood. Ele, um malandro conquistador que  aparece na cidade, no interior de Pernambuco, com um show de circo e causa muita confusão. Os dois se conhecem e se apaixonam, mas ela já está prometida a outro. A nova paixão gera muitos problemas para os dois. A direção é de Guel Arraes e o elenco tem nomes como Selton Mello, Débora Falabella e Marco Nanini. Selton conta que durante a adaptação, eles fizeram uma pesquisa no mercado São José em Recife, filmaram os camelôs e os artistas populares para dar um tom mais fidedigno ao filme. É possível perceber no filme uma pegada bem regionalista e uma abordagem bem dinâmica e calorosa. Apesar de alguns clichês e erros na forma de representar o nordestino, o filme se consolidou como um clássico absoluto da nossa cinematografia.

Navalha na Carne (Plínio Marcos, 1968)

Lançado em 1997, Navalha na Carne é a segunda adaptação de um texto do escritor e dramaturgo Plínio Marcos, considerado um autor “maldito” por retratar aspectos do submundo de São Paulo e tratar temas como homossexualidade, marginalidade, prostituição e violência com muita autenticidade. Isso se faz presente no próprio enredo do filme: a história de uma prostituta que vê a sua vida se tornar um inferno quando o seu cafetão começa a se relacionar com uma mulher que a odeia. Ela é humilhada, maltratada, espancada e vista como lixo. A linguagem do filme, como característica da obra de Plínio, é muito carregada de gírias e de fúria, que busca retratar os conflitos que envolvem o cotidiano de pessoas marginalizadas pela sociedade. Também percebe-se a crueza dessa realidade nos diálogos ríspidos e ofensivos das relações conturbadas e na forma como seus personagens são retratados. A estética “camp” e noventista do filme podem desagradar algumas pessoas, mas é inegável que tornam a obra muito característica e autêntica, como quando retrata a vida noturna carioca. A direção de Neville D’Almeida, mesmo não tão atrelada ao texto original, entende perfeitamente a proposta da adaptação, consegue mesclar perfeitamente teatro com cinema e conta com as dramáticas e emblemáticas atuações de Vera Fischer, Carlos Loffler e Jorge Perugorria, que dão vida ao trio pelo qual a narrativa se desenvolve e contam um pouco sobre uma vida que alguns fingem que não existe.

O Beijo no Asfalto (Murilo Benício, 2018)

Reprodução: Internet

O Beijo no Asfalto é um peça de teatro publicada por Nelson Rodrigues em 1960 que ganhou uma nova adaptação para as telas do cinema em 2018, em um filme dirigido por Murilo Benício. O texto conta a história de um bancário recém-casado que presencia um acidente e tenta socorrer a vítima. Em seu leito de morte, o homem pede um último desejo: um beijo, que lhe é concedido pelo bancário. Mas ele é “flagrado” por  seu sogro e por um repórter sensacionalista, uma espécie de Léo Dias, que vai dar muita dor de cabeça. O filme marca a estreia de Murilo como diretor, o que gera alguns desafios no que diz respeito à transposição da peça e a atualização e importância de se trazer uma nova adaptação, mas que consegue entregar respostas e soluções bem simples e satisfatórias, articuladas em uma fusão entre a linguagem teatral, a cinematográfica e a documental, em uma espécie de híbrido . O elenco tem nomes como Lázaro Ramos, Débora Falabella e Otávio Muller. Interessante notar que tanto Lázaro quanto Débora tem laços importantes com o teatro, com os grupos Bando de Teatro Olodum e Grupo 3 de Teatro, o que mostra que é comum esse movimento pendular de atores que trabalham tanto no cinema quanto no teatro e se adaptam às características e necessidades de cada formato. 

O Auto da Compadecida (Guel Arraes, 2000)

E não poderia faltar ele. Nenhuma lista de adaptações de peças teatrais está completa sem mencionar o inigualável O Auto da Compadecida. Com texto do grande dramaturgo e defensor da cultura nordestina, Ariano Suassuna, a peça originalmente foi escrita para comportar o formato de auto e era dividida em três atos. O auto é um estilo teatral que utiliza linguagem simples, com elementos cômicos e possui uma intenção moralizante. O filme conta a história de João Grilo, um sertanejo pobre e mentiroso, e Chicó, o mais covarde dos homens. Vivendo em um vilarejo no interior da Paraíba, os dois enganam as pessoas cotidianamente para lutar por sua sobrevivência. O texto aborda temas como “a luta contra o patriarcado rural, a burguesia urbana, a polícia, o cangaceiro, e até contra o diabo”, segundo o seu autor. A obra, inicialmente foi adaptada como minissérie, em 1999, mas o diretor Guel Arraes (sim, ele de novo), convenceu Suassuna para que fizessem uma adaptação cinematográfica com o acréscimo de outras cenas de suas peças. O escritor topou a ideia e se mostrou uma das decisões mais corretas que ele já tomou na vida. O filme, que conta com atuações impecáveis de Matheus Nachtergaele, Selton Mello, Denise Fraga e Fernanda Montenegro, se tornou um clássico absoluto do cinema nacional e uma referência quando tratamos de adaptações de peças de teatro.  Podemos perceber semelhanças entre essa adaptação e Lisbela e o Prisioneiro que são bem características da direção de Guel Arraes, principalmente no que diz respeito à dinâmica, às cores e à fotografia, nitidamente retratadas de uma forma bem regionalista. O Auto da Compadecida é uma obra indispensável para qualquer amante do cinema e do teatro nacional.

Outros filmes baseados em peças teatrais: Ópera do Malandro, Orfeu Negro, Bonitinha mas ordinária, Hipóteses para o Amor de Verdade, Aos teus Olhos, Doidas e Santas, Caixa Dois, e muito outros.

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