A saúde mental tem que ser discutida, devemos falar sobre isso. Filmes e séries, entre todos seus incontáveis papéis, também possuem esse
“Às vezes eu não queria ser uma mãe. Às vezes eu quero fazer a mala e sair no meio da noite e não voltar mais.”; “Meu namoro e minha vida afetiva são infelizes. Parece que não ligo, mas estou morrendo por dentro.”; “Por favor, não me evite. Isso me mata. Não aguento pensar nisso. Seu silêncio está me matando.”; “Eu não sentia vontade de acordar, de levantar da cama, de comer, enfim, de fazer nada. Era um vazio, um peso que eu carregava nas costas.”; “Eu sou uma pessoa simples que esconde milhares de sentimentos por trás de um sorriso.”; “Eu não estou bem já tem um tempo, mas pelo visto ninguém percebeu, ninguém nunca percebe.”; “Pode me bater, pode me xingar, mas por favor, não me ignora, isso me mata.”; “É sempre angustiante assumir para o outro aquilo que se passa comigo. Muita gente nem sabe que eu passo por isso.”
Você prestou atenção em todas as frases ditas no primeiro parágrafo? Se eu te dissesse que todas elas foram extraídas de filmes e séries, você acreditaria? E se eu te dissesse que todas elas são relatos reais de pessoas que sofrem de algum distúrbio mental, em qual opção você apostaria? Caso você não tenha conseguido decidir, parabéns, você chegou à conclusão correta.
A ficção se mistura com a realidade em diversos momentos. Particularmente, eu gosto de ter uma opinião sobre a maior variedade de assuntos possíveis, e penso que, mesmo totalmente opostas, a ficção e a realidade podem e devem andar juntas. No primeiro parágrafo desse artigo, há relatos reais, de pessoas que passam e passaram por ansiedade, depressão e outras doenças mentais. Também há frases tiradas de filmes e séries, dos mais distintos possíveis, que vão desde uma série de comédia até um filme de romance. Ficção pura.
Agora você deve estar se perguntando: quais são as frases reais e quais são as ficcionais? Bom, ao meu ver, todas elas são reais. Tudo o que foi dito nesse primeiro parágrafo transcreve a realidade. Quantas mães que, por maior que seja o amor pelo seu filho, se sentem completamente exaustas por tudo que ser uma mãe traz consigo? Quantas pessoas vivem um relacionamento infeliz, mas vão levando adiante, se machucando cada vez mais e mais apenas por não saber como se livrar daquela situação? Quantas pessoas não fazem ideia dos problemas que você enfrenta? Qualquer que seja a natureza deles. Às vezes vivemos uma tempestade enquanto transparecemos calmaria.
A ficção e a realidade andam lado a lado e de mãos dadas, mesmo aquelas obras que não contam histórias baseadas em fatos reais, de certo modo, mostram fragmentos da verdade. Eu sei que você ainda deve estar se perguntando de quais séries e filmes aquelas citações foram tiradas, bom, vou sanar suas dúvidas: How I Met Your Mother, Antes do Pôr do Sol, Me Chame Pelo Seu Nome e A Cinco Passos de Você foram a fonte das falas do primeiro parágrafo, por essa você com certeza não esperava. Obras totalmente ficcionais e que conseguem expressar a realidade perfeitamente, é nesse ponto que eu queria chegar.
Em todas as vezes que escrevo os meus textos, tento passar uma parcela da minha verdade, daquilo que eu vivo e acredito, e penso que a maioria dos autores trabalham da mesma forma.
Em um artigo anterior, eu escrevi sobre como filmes e séries possuem a capacidade de mudar vidas. Naquele texto disse que tais obras superam a barreira do entretenimento, que, com suas histórias, elas transformam completamente a forma que nós pensamos e a maneira que nós agimos. 364 dias após publicar aquele artigo, eu complemento essa ideia. Sim, filmes e séries mudam vidas, eu não tenho dúvidas disso, porém, filmes e séries também mostram vidas. Eles contam as nossas histórias.
Quantas vezes você assistiu à alguma produção audiovisual e pensou “caramba, eu me identifico totalmente com essa história, com esse personagem”? Algumas situações que assistimos nas telas parecem terem sido escritas baseadas exatamente em quem somos, e bom, muitas dessas vezes, nós nos identificamos com os momentos difíceis que acontecem em nossa vida.
No início deste artigo eu mencionei frases extraídas de filmes e séries em que a saúde mental não está em sua essência, e que mesmo tendo um foco diferente, acabam conseguindo exemplificar bem situações que nós passamos. Porém, existem produções que buscam abordar tais assuntos de maneira clara e objetiva.
This is Us conta a história de Randall, personagem vivido por Sterling K. Brown, que parece levar uma vida perfeita, porém, a ansiedade que o acompanha se manifesta das formas mais cruéis possíveis, em ataques de pânico completamente paralisantes. No popular As Vantagens de Ser Invisível vemos os dias difíceis de Charlie, que é completamente atormentado por traumas de seu passado, fazendo com que ele não consiga se sentir pertencente a algum grupo ou lugar. Em 13 Reasons Why é mostrado as consequências que uma série de fatores podem levar à vida de uma pessoa, sobre como a saúde mental não é uma brincadeira, mas quando ela é tratada como tal, e bom, uma de mau gosto, a consequência é o que é visto em tela. E é sobre isso que eu queria falar.
A saúde mental tem que ser discutida, devemos falar sobre isso. Filmes e séries, entre todos seus incontáveis papéis, também possuem esse. E bom, não apenas em setembro. Por uma coincidência, esse artigo está sendo publicado agora, porém a ideia para escreve-lo surgiu em julho desse ano, e desde então estou trabalhando nele.
Eu falo sobre saúde mental não como um especialista, longe disso, mas sim como alguém que sofreu com todos os sintomas que a ansiedade e a depressão despertam em nosso consciente.
Existem incontáveis motivos que te levam a pensar que a felicidade, que uma vida tranquila e sem preocupações, podem ser utópicas. A pressão para chegar à faculdade ou a dificuldade para se manter nela. Um relacionamento conturbado dos pais que reflete nos seus dias, até mesmo ficar dentro de casa se torna um desafio. As pessoas não te entendem, e até mesmo quem você pensava que te entendia, em algum momento vira as costas para você. Você pode viver um relacionamento infeliz, que só te traz preocupações, tornando seus dias mais pesados, mas bom, você não faz ideia de como mudar essa situação, e as coisas vão indo de mal a pior, não importa o tanto que você se esforce, não é o suficiente. Nunca é o suficiente.
Ao meu ver, a ansiedade não está somente presente nas crises paralisantes, quando o ar some, ou nos pensamentos que te assombram. A ansiedade está presente nos momentos em que você se sente sozinho, quando não há um caminho claro para seguir. Nos momentos de dor e de angústia. Quando aos poucos a vida não começa mais a fazer sentido.
Porém, como uma pessoa que passou por tudo isso, eu posso afirmar: há uma saída.
Do inferno ao céu, das crises de ansiedade aos dias sem preocupações, das pessoas que te pesam às que deixam tudo leve. Não existe uma fórmula mágica para o fim dos problemas, porém, muitas vezes, quando você menos espera, eles começam a desaparecer. Comigo bastou me cercar das pessoas que realmente me fazem bem, fazer as coisas que eu realmente gostava e, o mais importante, conseguir me desapegar de tudo aquilo que me fazia mal. Não são as marcas no seu coração ou os machucados no seu cérebro, tampouco as feridas no seu braço esquerdo, que dizem quem você é e a vida que você vai levar. Nós não somos definidos pelos nossos problemas, e sim pela forma que enfrentamos eles.
A sua história pode se assemelhar à de Randall, do Charlie ou da Hannah. Você pode se sentir sozinho como o Ted, estar em um relacionamento infeliz como a Celine ou não ser compreendido como o Will, porém, por mais que a realidade e a ficção andem de mãos dadas, há uma grande diferença entre elas: o nosso final ainda não está escrito.
O amanhã não existe ainda, e bom, ele nunca vai existir. O que sempre irá existir é apenas o hoje. E hoje a ansiedade não vai te matar.
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