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Crítica: Cara Gente Branca vol.2

  O segundo ano de Cara Gente Branca surpreende ao aprofundar e atualizar os temas e dilemas expostos no primeiro ano da série.

 

   Personagens negros raramente são tratados como os demais personagens (brancos). Normalmente as narrativas que retratam pessoas negras  são sempre as mesmas ou muito semelhantes. Faça esse exercício: pense nas cozinheiras, faxineiras, domésticas, criminosos e malandros… aposto que grande parte dos personagens que você imaginou eram negros, certo? Isso é um problema recorrente em toda a indústria cinematográfica e televisiva, mas que aos poucos vem sendo mudada e Cara Gente Branca, Dear White People no original, é um belo exemplo disso.

    Com uma trama que retrata um grupo de estudantes negros em uma renomada universidade dos Estados Unidos demonstrando a forma como lidam com os dilemas raciais no dia-a-dia, observa-se  uma eminente “guerra racial” que está pronta a implodir dentro do campus, principalmente por conta de uma festa Blackface ocorrida em uma república que gera muita discussão e inicia a tensão retratada ao longo da série. Mas apesar disso tudo esse não é o maior atrativo da série, mas sim em como eles aprofundam e humanizam seus personagens conforme a história avança.

    Se a primeira temporada já demonstra ser uma excelente série com um enorme potencial, a segunda temporada vem justamente para concretizar isso ao melhorar os pontos fortes apresentados no primeiro ano e distribuir melhor os protagonismos do seriado.

    O show apresenta seus personagens com profundidade e mostra que apesar de serem negros e isso influenciar completamente o modo como eles lêem o mundo e são interpretados pela sociedade, essa não é a única coisa que os define. Na segunda temporada eles vão além disso, consequência direta da forma como mais personagens ganharam destaques nesta temporada. Um perfeito exemplo disso é a personagem Coco (Antoinette Robertson) que aparece em um dos episódios mais comoventes e necessários de todo o programa. O drama vivido pela personagem passa pela sua vivência enquanto negra e entra  em um importante ponto sobre ela enquanto mulher, o que ressalta um debate importante sobre as interseções na hora de debater temas como negritude, feminismo e vivências LGBTs.

Isso não está presente só nessa personagem, mas eles também diversificam as vivências e experiências negras em outros elementos da trama, seja ao retratar a descoberta e aceitação da sexualidade de Lionel (DeRon Horton) e em como ele lida com o fato de ter fechado o jornal em que trabalhava na primeira temporada ou ao mostrar a forma como Troy (Brandon P. Bell) performa sua masculinidade e vive a pressão de  ser filho do reitor da universidade.

A trama e os personagens não são os únicos pontos positivos do seriado. Vemos durante todos os dez episódios uma crescente evolução em termos técnicos da primeira temporada até a segunda. A fotografia aqui está muito mais sensível e bonita e a forma como eles filmam e montam cada episódio também. E o destaque da vez vai pro oitavo episódio ou “Chapter VIII” onde um plano sequência de alguns poucos minutos é utilizado para amplificar o sentimento de aflição que a cena quer transmitir.

Apesar de já ter tido uma notável primeira temporada, Dear White People conseguiu evoluir bastante no seu segundo ano. Sua trilha sonora é incrível – e está toda disponível do Spotify, fica a dica! – ao complementar o que está exposto na tela melhorando ainda mais a experiência. A forma como eles atualizaram os dilemas vividos pelos personagens dá a impressão que a série foi gravada mês passado, uma vez que todos os temas apresentados tem relação com acontecimentos extremamente recentes e contemporâneos. O conjunto da obra dá um entretenimento fantástico que não tem só o papel de divertir e emocionar, coisa que fazem com maestria, mas de gerar inúmeros debates e reflexões ao público.

 

Nota da série:

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