Barry Berkman é um assassino profissional. Barry Block é um estudante de teatro. Enquanto tenta seguir com essa vida dupla, Barry passeia entre o crime e a arte.
Barry é uma série da HBO, lançada em 2018 e concluída no último domingo (28). A comédia conta com quatro temporadas.
A premissa de Barry, apesar de surpreendente, é simples: Barry é um assassino de aluguel deprimido e insatisfeito com a própria vida. Tudo muda quando ele é contratado pela máfia chechena em Los Angeles. Enquanto segue seu alvo, ele acaba entrando na aula de um curso de teatro, e Barry fica encantando com aquele universo. Ele finalmente encontra algo que o motiva a viver: atuar.
Só que essa não é uma vida dupla fácil de conciliar, como a de Hannah Montana ou de Peter Parker. Barry mata pessoas. Como é possível separar essa parte de sua vida com a nova vida de ator? A resposta é simples: não é possível. Não importa o quanto Barry tente, as ações de seu passado sempre terão consequências no presente.
Para entender melhor Barry, é preciso compreender seu passado (sem spoilers!). Barry (Bill Hader) é um ex-militar que lutou no Afeganistão. Traumatizado com os horrores da guerra, ele encontra um certo apoio de Fuches (Stephen Root), um velho amigo de seu pai. Acontece que as intenções de Fuches não são as melhores, e logo Barry aprende que só é bom em uma coisa: matar. Além de ter habilidade com armas, ele é extremamente apático. Assim, ele começa sua tortuosa profissão de assassino.
Quando Barry entra no curso de teatro de Gene Cousineau (Henry Winkler), um ator de Hollywood falido, ele finalmente percebe que a vida não precisa ser tão cinza. E apesar de não ser tão bom na atuação quanto é na matança, Barry insiste nesse sonho. Mas as coisas não são tão fáceis. Além de decorar roteiros e praticar expressões no espelho, Barry precisa lidar com assuntos inacabados com a máfia chechena, além da investigação da Detetive Moss (Paula Newsome), que está perto de descobrir seu segredo.
Em uma cena, temos uma discussão, no curso de teatro, sobre a moralidade de um assassinato, baseada na peça de Macbeth. É claro que todos imediatamente concordam que matar alguém é imoral, exceto Barry. Ele argumenta que já precisou matar pessoas antes, e isso não o faz uma pessoa ruim. Então o professor Cousineau defende Barry, dizendo que é compreensível um assassinato numa situação de guerra – mas, fora dela, não há redenção para tal crime. A busca de Barry por redenção é um dos pontos principais da série.
Acontece que essa redenção não é honesta. Enquanto Barry tenta ao máximo provar para si mesmo que não é mau (seja escutando podcasts de autoajuda, ou até mesmo se convertendo ao cristianismo), ele não pensa duas vezes antes de matar alguém que descubra seu segredo. Poxa, ele está tentando! As pessoas que se metem num assunto que não é delas, e Barry precisa eliminá-las, para que ele possa continuar no caminho da arte, deixando seus crimes para trás. Pobre Barry! (Ironia). Barry é um protagonista tão manipulador, que ele é capaz de manipular até mesmo a audiência, já que, em diversos momentos, somos pegos torcendo pelo seu sucesso, custe o que custar.
Barry também conta com diversos personagens incríveis. Uma delas é Sally Reed (Sarah Goldberg), talvez a figura mais complexa da série. Sally é uma das estudantes do curso de teatro, e a única ali que realmente tem algum talento. Apesar disso, ela sofre com o fracasso de seus trabalhos, simplesmente porque é odiosa. Sally é uma personagem mesquinha, capaz de cometer atrocidades para conseguir o que quer. Contudo, Barry se apaixona por ela – e nós também. Ao longo das temporadas, compreendemos melhor Sally, apesar de ainda passar muita raiva com seus ataques de estrelismo.
Um personagem que rouba a cena definitivamente é Noho Hank (Anthony Carrigan). É impossível assistir Barry e não se apaixonar pelo checheno. Ao lado de seu rival/parceiro/amante colombiano Cristobal (Michael Irby), esse é com certeza o núcleo mais humorístico da série. Mas não espere apenas Humor & Piadas, pois estamos falando de Barry. Nenhum personagem está a salvo das tragédias da vida.
Poderia passar horas listando todos os personagens esplêndidos, mas vou terminar com ele, Gene Cousineau. O professor do curso de teatro – que só trabalha dando aulas porque tem uma carreira fracassada em Hollywood – e uma pessoa horrível. Um péssimo pai, um péssimo professor, uma péssima pessoa. Cousineau é um personagem detestável, mas, apesar de tudo, ainda é melhor que nosso protagonista Barry.
Barry é cheio de pessoas ruins, assim como na vida real. Nem por isso, Barry se torna uma pessoa melhor. Nas próprias palavras de Cousineau, essa não é uma história com mocinhos e vilões. É mais complexo do que isso. É uma história sobre seres humanos.
Barry é uma verdadeira montanha russa de emoções. Você vive momentos de comédia, drama, violência extrema, romance, terror, tudo em poucos minutos. Bill Hader, que além de estrelar a série, também é o diretor e roteirista, é simplesmente genial.
Como a série é toda pautada no teatro, Barry é uma tragédia grega em sua forma mais pura. As duas primeiras temporadas estão mais para comédia, enquanto as duas últimas se concentram na tragédia. A série é um balanço perfeito dos dois gêneros teatrais mais antigos.
Barry definitivamente é uma das melhores séries lançadas nos últimos tempos, e você precisa assistir. Começando… agora!
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