A baixa adesão do público a filmes independentes é uma dificuldade e um obstáculo enfrentado pelo mercado cinematográfico brasileiro.
O Brasil, nos últimos anos, vem surpreendendo com a quantidade de produções audiovisuais lançadas nos cinemas espalhados pelo país. Em 2016, esse número chegou a 143 filmes, incluindo ficções, documentários e animações. Mas nem tudo deve ser comemorado. Mesmo com a crescente popularização do cinema, ainda deixamos muito a desejar na valorização do cinema independente, aquele que muitas vezes não chega nem nas grandes telas das salas de cinema do país, quanto mais superar uma quantidade considerável de público.
Cinema independente seria toda aquela produção que não é distribuída comercialmente por grandes empresas e patrocinadores do ramo. Geralmente, com baixos orçamentos financeiros, novos diretores embarcam nessa aventura a fim de abrir espaço para discussão de temas que, na maioria da vezes, não são bem recebidos nas bilheterias. Eles são mais livres para abordar temáticas sociais, com tons de militância e transgressor de ideias e preceitos, discutindo de maneira humanizada, intimista e minimalista.
É nesse espaço que novos talentos do cinema experimentam e exploram seus projetos, nunca antes enxergados e vistos. Para isso, dependem de editais e Leis de Incentivo para conseguir arcar com as despesas exigidas para produzir qualquer conteúdo audiovisual e ser difundido pelo país e mundo afora. A Agência Nacional do Cinema (ANCINE) fica responsável pela grande maioria desses editais, além de servir de apoio legal para as leis de incentivo fiscal como na Lei 8.313/91 (Lei Rouanet) e na Lei 8.685/93 (Lei do Audiovisual).
Contudo, o incentivo nem sempre é suficiente para abranger todas as produções independentes e muitas delas nunca chegam a ficar conhecidas. Até mesmo as que recebem o mínimo incentivo financeiro não conquistam apoio do público devido ao preconceito existente dos brasileiros com o próprio cinema local. Tudo o que é estrangeiro, seja americano ou europeu, é mais valorizado pelos brasileiros, e, obviamente, o cinema não ficaria de fora dessa gama de desvalorização nacional.
Para diminuir essa desvalorização e incentivar o consumo dos filmes brasileiros, especialmente os independentes, diversos festivais cinematográficos estão espalhados pelo país em busca de difundir esse sentimento pelas produções de menores investimentos e que na grande maioria trazem ricas mensagens e discussões. Só neste ano foram agendados 17 festivais de cinema, somente no estado de Minas Gerais, segundo o mapa de mostras disponibilizado no site da ANCINE. Eles estão espalhados por diversas cidades, como Belo Horizonte, Ouro Preto, Tiradentes, Ubá, entre outras. São nesses espaços que diretores conseguem lançar, divulgar e colher frutos por seus trabalhos. Muitas vezes, após a exibição de produtos nesses locais, críticos e demais envolvidos na indústria cinematográfica apostam em alguns e resolvem fazer deles sucessos nacionais e até mesmo internacionais.
Já dizia Fabiano Gullane, dono da produtora de cinema brasileira Gullane Filmes e produtor do filme O ano em que meus pais saíram de férias (2006): “Cinema é uma questão de identidade, de importância cultural, de vender e exportar uma imagem, exportar um estilo de vida. Acho que o cinema não tem só uma importância mercadológica, ele também tem uma importância da gente conseguir se enxergar como brasileiro, nós brasileiros nos vendo na tela, nossos dramas, nossos problemas.” Assim, a questão da valorização do cinema brasileiro, principalmente os independentes, vai muito além do dinheiro, da falta de editais e leis de incentivo, é um descaso com os produtos nacionais e dificuldade em enxergá-los como parte de uma cultura, da nossa cultura.