De boneca para… bomba?! Vem conferir com o Cinecom tudo o que rolou na primeira semana de lançamento dos filmes Barbie e Oppenheimer.
No Twitter, os trending topics exaltavam a chegada de dois grandes fenômenos. No Instagram, as contas pareciam ter ficado mais… rosadas. De repente, depois de algum tempo no escuro, as histórias de um cientista americano e de uma boneca rosa e estereotipada se tornaram o centro dos holofotes no mundo.
Estamos falando, claro, dos filmes da nossa queridinha Barbie e do gênio, um tanto quanto egocêntrico, J. Robert Oppenheimer. Entretanto, eu levanto uma questão que, talvez, tenha aparecido em sua mente: por que duas narrativas tão distintas estão conectadas? O que uma boneca “faz-tudo” e um físico americano possuem em comum?
A resposta é simples: quase nada. Enquanto um filme aborda temas difíceis e importantes de maneira tão profunda e leve (até demais), o outro “apenas” conta a história do jogo vingativo que circundou o desenvolvimento do projeto Manhattan – que tinha o objetivo de criar a bomba atômica – e quais foram suas consequências (seja psicológicas, econômicas, políticas ou até filosóficas).
No entanto, mesmo não tendo uma vírgula sequer do roteiro semelhante, os dois filmes ainda continuam se entrelaçando. E essa comparação se deve a três fatores: o persuasivo – e exaustivo – marketing, a camada superficial da expectativa do público e as “convenientes” mesmas datas de estreia.
O primeiro fator – inclusive, muito bem pensado – usou suas cartas na manga, a nostalgia e a rivalidade cinematográfica, para, além de prender, empolgar o público desde o início. A boneca Barbie foi lançada em 1959 e, desde então, ficou marcada na infância de cada criança no mundo. Trazer a originalidade e a infância de todos à tona novamente foi a cartada. Oppenheimer ficaria um pouco de fora nesse aspecto, sem esse nostalgia bait, mas é aí que surge o segundo fator. Com o carimbo de filme hollywoodiano – uma produção do gigante da indústria, Christopher Nolan- e elencos recheados de nomes irresistíveis, a expectativa em relação ao filme cresce, e muito, aos olhos do público; esse ambos os longas-metragens compartilham.
Então, em união com os outros dois, entra o terceiro fator. Ora, como rivalizar sem o lançamento ser na mesma semana? Ou melhor, no mesmo dia? Assim, a grande semana “Barbenheimer” e seu hype se despertaram.
O dia da estreia Barbenheimer (20/07)
Desde o início do mês, todas as lojas de moda, suas roupas e peças de decoração mudaram abruptamente suas paletas de cores. O rosa aparecia de diversas formas e jeitos em cada vestimenta. Nas letras que formavam “Barbie” na estampa de uma camisa preta – para “Barbies emo” -, até em cada detalhe nas botas e jaquetas de couro para uma “Barbies vaqueira”.
Não importa qual seu estilo ou intenção, o rosa está lá sempre te acompanhando. A cor vibrante marcou totalmente a estreia dos dois grandes fenômenos hollywoodianos. Apesar disso, Oppenheimer ainda não ficou de fora. O que aconteceu mesmo foi a dominação completa da marca “Barbie”, mas o interesse em fazer a dobradinha Barbenheimer no mesmo dia ainda permanecia.
Os dois longas encheram as salas de cinema. Enquanto a boneca mais amada no mundo era vista em qualquer tipo de sala, a construção da bomba atômica era assistida em salas IMAX, pois, segundo Christopher Nolan, a forma mais imersiva e original era em salas desse tipo.
No entanto, quem preferiu seguir o conselho de Nolan talvez tenha se decepcionado um pouquinho. Isso porque apenas 30 cinemas mundiais rodam o filme no “original”, já que nem mesmo os nossos têm a tecnologia utilizada nas gravações de Oppenheimer. Então, mesmo sendo melhores do que as convencionais, as salas IMAX brasileiras não possuem a capacidade de transmitir o longa originalmente.
Em contínuo contato com o rosa e a decepção das salas IMAX brasileiras, essas acima foram as minhas impressões no dia de estreia em São Paulo. Em todo meu redor, as pessoas que usavam a cor remetente à boneca não tinham qualquer semelhança umas às outras. Um grupo de crianças, amigas adolescentes, adultos e, para mim, o mais importante e surpreendente grupo: Adélia e Maria, uma dupla de amigas com seus 60 e poucos anos e que conversaram comigo enquanto tiravam foto na caixa enfeitada da Barbie. O público da produção de Greta Gerwig, diferente de outras produções da diretora, tem um dos públicos mais amplos e diversos do ano, sem dúvidas.
O marketing do filme foi tão bem executado que todos queriam ver a “Barbielândia”. Claro, como o marketing nostalgia não iria afetar todos, uma vez que a querida boneca marcou tanto a nossa infância? Entretanto, tudo tem seu lado negativo. A obra chamou estes públicos, mas a narrativa consegue atingir e convencer desde as adolescentes até o grupo de Adélia e Maria?! E assim vale também para Oppenheimer. As três horas de duração, cheia de informações e com uma cronologia não linear, conseguirão alcançar e convencer todo o público?!
Essas questões, após o esfriamento do sucesso que essas duas obras-primas atingiram, serão respondidas, seja pela própria bilheteria ou apenas pelas impressões de cada espectador.
A rivalidade entre irmãos hollywoodianos: Barbie ou Oppenheimer? Qual é o melhor?
Primeiro, é importante entender que os dois filmes possuem pouca a nenhuma semelhança. Como já disse, desde o roteiro até a finalidade dos longas são completamente distintos.
Greta Gerwig proporciona em Barbie uma história recheada de críticas sociais e reflexões importantes sobre hegemonias preconceituosas estruturadas na sociedade – como o machismo e o sexismo. Evidencia assuntos que precisam ser discutidos de maneira leve e com uma boa pitada de humor.
Já Christopher Nolan cria em Oppenheimer uma cinebiografia do físico americano J. Robert Oppenheimer, no contexto histórico da Segunda Guerra Mundial e suas consequências pós-guerra. Nolan não só exibe fotografia, roteiro e efeitos sonoros perfeitos, como reflete sua personalidade em toda uma narrativa que foge do habitual com uma visão subjetiva do cientista americano e suas tribulações.
Agora, tal rivalidade que se transborda do marketing (não cansarei de dizer o quão bem feito foi!) influencia continuamente a comparação. Afinal, qual é o melhor filme do ano? Barbie ou Oppenheimer?
Como um mero fã de cinema, eu vos digo: OS DOIS! Para mim, as duas obras possuem qualidade para serem um 10/10 facilmente. Os dois, cada um com suas características especiais, conseguem transmitir sua principal finalidade e alcançar aclamação de seus gêneros cinematográficos.
Assim como foi dito neste Redação Analisa, tudo tem seu lado negativo. E a estratégia de divulgação destes filmes espetaculares também: a rivalidade, que pode ter proporcionado o alcance de tantos públicos, ainda não conseguiu convencer todos e criou uma comparação entre filmes de propostas totalmente diferentes que nada beneficia as produções e, sobretudo, os públicos compartilhados entre os filmes.
Dessa forma, se possível, assista aos dois longas, mais de uma vez. Por mais que seja uma jogada do nosso querido setor de marketing, continua verdadeira a sentença de que as duas obras são reflexos de seus elencos impecáveis e genialidades de seus diretores e produtores. Com isso, termino dizendo: Greta Gerwig e Christopher Nolan, em união com seus protagonistas, Margot Robbie, Ryan Gosling, Cillian Murphy e Matt Damon, conseguiram marcar o dia 20 de Julho de 2023 pra sempre.
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