O lançamento de Barbie escancara um problema antigo: Por que odiamos tanto as mídias feitas para mulheres?
16 de Dezembro de 2021. Era a estreia de Homem Aranha: Sem Volta para Casa, e shoppings e cinemas ao redor do Brasil eram inundados por pessoas fantasiadas de Homem Aranha. Vídeos circulavam pelas redes sociais, e todos achavam graça. Nem era necessário ir todo caracterizado e mascarado, mas era difícil encontrar uma pessoa sequer sem uma camisa do personagem. Esse é um hábito comum atualmente, seja nas estreias da Marvel, Star Wars ou qualquer franquia famosa. É divertido.
Você deve estar se perguntando porque estou falando de Homem Aranha num texto sobre a Barbie. Bom, no dia 20 de Julho estreou Barbie, e tivemos um fenômeno parecido. Em homenagem à boneca, nada mais justo do que assistir ao filme usando sua cor favorita, seja nas roupas ou em acessórios. Uma “febre rosa” tomava conta de cinemas em todo o mundo.
De repente, ir caracterizado ao cinema não é mais tão legal. Agora é fútil, brega, infantil, ridículo. Essas mulheres são chamadas de histéricas.
Barbie é um filme dirigido por Greta Gerwig, e estrelado por Margot Robbie (Barbie) e Ryan Gosling (Ken). Quando Barbie começa a ter problemas na Barbieland, ela precisa ir até o mundo real para descobrir o que está acontecendo. Entre piadas do mundo feminino, como celulites e idas ao ginecologista, Barbie também apresenta discussões muito mais profundas. Diferente da Barbieland, mulheres não vivem numa realidade tão fácil. Em poucos minutos no mundo real, Barbie já precisa lidar com assédio, comentários condescendentes, e o patriarcado num geral. Suas roupas são sexualizadas ou então feitas de chacota. A Barbie não anda mais tão em alta assim, meninas crescem e querem outras coisas.
Ao mesmo tempo, o mundo real é o paraíso de Ken. Enquanto era menosprezado e tratado como um simples namorado na Barbieland, agora Ken descobre o quanto homens são privilegiados na sociedade. Seja em cargos de poder ou podendo apenas expressar seus gostos, homens são livres. Ninguém se importa se, e porque, Ken gosta tanto de cavalos, esportes, carros e filmes cult. São coisas de homem. “E daí se ele quer construir uma Mojo Dojo Casa House? Homens nunca amadurecem de verdade.”
Mas Deus me livre se Barbie decide usar suas roupas extravagantes! Ela não pode simplesmente querer um entretenimento divertido, se não ela será fútil. Os gostos femininos tem um prazo de validade.
É necessário questionar o porquê de conteúdos feitos por e para mulheres serem tão ridicularizados. Sejam comédias como Barbie, livros como Crepúsculo, ou cantores como Justin Bieber. A discussão aqui não é sobre a qualidade desses trabalhos, mas sobre o tratamento dado a eles. Basta o público alvo de um produto ser majoritariamente feminino, que ele não é bom o suficiente.
Homens, independente da idade, podem ser fanáticos em relação ao futebol. Podem colecionar camisas de time, ir a todos os jogos, saber todas as informações possíveis sobre cada jogador e vibrar em gritos estridentes na frente da TV. Ninguém chama isso de histeria masculina. Ninguém implica também com fãs da Marvel ou DC, que colecionam DVDs e bonequinhos dos seus heróis favoritos.
Mas quando se trata de uma fã do One Direction, que tem um poster do Harry Styles colado na parede do quarto, a coisa muda. Ou uma fã de KPOP, que grita e chora durante o show da sua banda favorita. Ou simplesmente de uma adulta que ainda coleciona Barbies. Quanto mais velha essas mulheres são, pior ainda.
O conceito de fangirl é tratado como uma piada. É relacionado a mulheres histéricas, esquisitas, sozinhas, sem um homem ao seu lado. Enquanto homens sempre terão um barzinho na esquina para assistir futebol com seus colegas, mulheres perdem esse senso de comunidade conforme crescem. Apenas homens têm o privilégio de viver a infância durante a vida inteira.
Toda essa discussão é abordada por Greta em Barbie, assim como em outros filmes da sua carreira. Sempre trazendo histórias sobre jovens adultas, que precisam abandonar traços de sua personalidade para deixarem de ser garotas e virarem mulheres. E é muito fácil se identificar com seus filmes.
Se você ainda não assistiu Barbie, assista! Coloque sua melhor roupa cor de rosa, compre uns chocolates e reviva um pouquinho da sua infância enquanto brincava de boneca. Feche seus olhos, lembre de sua banda favorita quando era adolescente, dos filmes de caráter duvidoso que você amava, das noites de fofoca com suas amigas. E sinta.
Indicação de música:
Billie Eilish – What Was I Made For?
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