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Crítica | The Bear – 2ª temporada

A floresta pode até ser o lar de um urso, mas este ainda se assusta com toda imensidão que a pertence.

Em uma realidade recheada de caos mental e físico, The Bear, série da plataforma de streaming Star+, encontra seu cantinho especial. A auto percepção, encaminhada desde a primeira temporada, parece ter finalmente chegado à seu ápice para Carmy Berzatto, protagonista interpretado por Jeremy White.

Em contrapartida, Ebon Moss-Bachrach, que vive Richard Jerimovich na série – ou cousin, para os mais próximos, encontrou finalmente o caminho certo da saída da floresta. Algo que já pode-se dizer no início desta crítica é: a segunda temporada de The Bear conseguiu ser ainda melhor que a primeira temporada, responsável por 11 prêmios e 13 indicações no Emmy.

De modo a concentrar nas narrativas de seus personagens, o ciclo conturbado e conflituoso do restaurante em construção foi o cubo mágico do segundo ano. Agora, a razão de tantos problemas não é somente a herança deixada por Mike (Jon Bernthal), mas os fantasmas, mais assustadores do que nunca, de cada ponto necessário em toda história.

Reprodução: The Bear

Dessa vez, Carmy inicia sua jornada fora de sua jaula, permitindo sentir tudo que evitava anteriormente, gerando ao urso a sensação de estar nu, sem pelo algum, e um olhar dentro de sua própria casa fantasma. Lá, descobriu que seus sentimentos de inseguranças parecem ser um tanto quanto infantis, confusos e narcisistas.

No entanto, o filho mais novo dos Berzatto nunca teria parado sua rotina frenética para pensar em si. Foi Claire, interpretada por Molly Gordon, que abriu sua mente à auto concepção. A nova personagem possuiu um papel primordial na segunda temporada e Mariana Canhisares, do Omelete, descreveu impecavelmente a consequência de tal função:

Pela primeira vez, os olhos tão tristes de Jeremy Allen White começam a ter mais fagulhas do que pesar.

Mariana Canhisares, na sua crítica no site Omelete

A série de Christopher Storer, por sua vez, transmite a sutilidade de cada personagem ao público através de episódios imersos em narrativas próprias. Até a amargurada e orgulhosa Tina (Liza Colón-Zayas) possui seus momentos de glória. A ponto de ajudar a “Jeff” Syd (Ayo Edebiri), Tina aceita, com amor, treinar seus fundamentos em curso renomado.

Além dela, a própria sócia de Carmy, Syd, também harmoniza em todo caminho trilhado. Suas frustrações e desejos de orgulhar a si e ao pai guiaram-na para uma maior responsabilidade emocional e independência profissional. Apesar disso, algumas atitudes infantis e a dificuldade de se comunicar impediram uma maior relação com bear e Marcus.

Reprodução: The Bear

Entretanto, os episódios que retrataram as evoluções de Marcus e Richie foram os mais comoventes. O quarto capítulo é, sem dúvidas, o final da floresta assombrada e o início da leveza na cozinha. Dirigido por Ramy Youssef, o intercâmbio de Marcus (Lionel Boyce) foi o ponto calmo da tempestade The Bear.

Em um intercâmbio na Dinamarca, a fim de melhorar seus conceitos na confeitaria, Marcus vive na antiga casa de Carmy e cuida do tão desaparecido gato. O episódio não contou com qualquer desvio ou erro no meio técnico.

A trilha sonora, aliada à fotografia impecável, mergulhou-nos na perspectiva do protagonista deste capítulo: o confeiteiro em construção. O lado técnico proporcionou uma sensação de leveza naquele país novo, mas nem tanto na série.

Marcus estava prestes a dar seu próximo passo como “Jeff”. Na sutileza de um confeiteiro, mas na velocidade da família “The Beef”, criou-se o novo Marcus. Rígido, mas não tenso.

Reprodução: The Bear

Já Richie esteve em boa parte desta temporada novamente em outro mundo. Convicto em auxiliar os Bears no preparo de todo restaurante, cada tentativa era uma discussão ou frustração. No entanto, ao som do metrô decolando, Cousin passa a página de seu livro de vida. Agora, o que deveria ser, pelo menos para ele, um castigo, na verdade foi a solução para retornar aos eixos.

Novamente, Ebon transborda carisma e atuações fora da curva. Aliado à edição fotográfica do episódio, que, em seu início, era mais cinza/azul e, em seu final, mais vivido, Richard, em apenas uma semana, tornou-se tudo aquilo que queria ser: estável emocionalmente.

A real é que a nova temporada da família Bear conseguiu, de certa maneira, marcar o recomeço de todos. Até o mundo desastroso do dia natalino Berzatto pôde ter seu momento de brilhar.

Reprodução: The Bear

Infelizmente, o final, apesar de genial e pontual, ainda continuou a criar mais e mais traumas à Carmy, que não só teve de suportar a crise de seus próprios atos, mas as paranoias de sua tão confusa cabeça. Assim, o personagem que mais precisava de alguém, perdeu sua única companheira, Claire, pela auto cobrança e miséria.

Nesse sentido, The Bear consegue sair fora dos trilhos novamente e passar longe da palavra “óbvio”. Todos, exceto Carmy, puderam ter suas segundas chances. Mas o urso, que ainda vê a floresta maior que ele mesmo, voltou à jaula, mas, dessa vez, congelante e recheada de ingredientes. Entretanto, se for pra continuar vendo o caos da família Berzatto, mas transmitindo a evolução e superação, eu espero anos e anos pra ver, finalmente, Carmy sair de sua floresta.

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