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Taylor Swift, cultura de fandom e pertencimento

Um texto imparcial sobre a importância de pulseirinhas da amizade, fanfics e aniversários para personagens fictícios

O filme Taylor Swift: The Eras Tour estreou nos cinemas no dia treze (!) de novembro deste ano, e foi um grande sucesso de bilheteria, colocando nas telas a gravação da The Eras Tour (turnê mundial da loirinha, que se iniciou em 2023. Segundo o Boxoffice Pro, estima-se que o filme irá arrecadar entre 105 e 145 milhões de dólares pelos cinemas mundo afora, o que é impressionante para a gravação de um show. Filmes bastante aguardados como O Exorcista: O Devoto (2023) e What Happens Later (2023) até mesmo mudaram suas datas de estreia para não competir com Taylor pela bilheteria. Porém, apesar de impressionante, não é surpreendente. No auge de sua carreira, Taylor continua agregando novos públicos à sua base de fãs e fortalecendo laços com antigos swifties (como é chamada a fanbase da artista) através de suas produções. Mas aqui, quero abrir espaço para falar sobre como os próprios fãs fortalecem esse sentimento entre eles, criando espaços de pertencimento, transcendendo a obra original e discutindo avidamente a arte a que se dedicam a acompanhar.

The Eras Tour. Reprodução: internet.

Tradições de fandom

O filme The Rocky Horror Picture Show (1975), dirigido por Jim Sharman, não teve grande sucesso de bilheteria, e tampouco conquistou a simpatia dos críticos de cinema da época. Já era de se imaginar que a crítica não seria tão legal com um musical queer de terror nos anos 70, mas por que isso importaria quando o filme abriu portas para uma das culturas mais legais da história do cinema? Shadowcast foi o termo criado para o fenômeno: artistas adornados de figurinos como o dos personagens do filme se posicionam em frente à tela e encenam cenas específicas, isso com o apoio do público que participa intervindo em momentos específicos, como jogando rolos de papel higiênico no palco, como parte do espetáculo. E tem cenários diferentes, trocas de figurino, e tudo que puderam expandir em anos e anos de tradição, desde 1976. Essa atmosfera criada em volta do clássico cult ultrapassou a obra original e fez com que os fãs construíssem relações de afeto e pertencimento entre eles, dissecando e expandindo os significados da obra que originou o alvoroço. Isso acontece em inúmeros segmentos da arte: no cinema temos os aficionados por franquias como Star Wars, ou os blockbusters da Marvel ou DC, por exemplo. Minha amiga literalmente já fez um bolo azul para comemorar o aniversário do Percy Jackson… e ele nem existe!!! Mas ele existir ou não é a menor das questões: estamos falando de fãs que dedicam tempo, gastam uma grana, e realmente se importam com essas histórias.

ShadowCast de Rocky Horror Picture Show.
Reprodução: Internet.


A cultura de fandom se remodelou e atingiu novos públicos com a crescente popularização da internet, mas antes disso ainda tiveram muuuuitas formas de manter essas culturas vivas: os fanzines de ficção científica feitos de forma caseira que circulavam desde os anos 30, a afiliação à fã-clubes oficiais de artistas que remontam à mesma época, convenções de sci-fi, escrita de fanfics… Tem exemplos a perder de vista. Porém, todos eles colidem em um lugar comum: o amor e atenção dedicada pelas obras envolvidas. Parece papo furado falar que “só quem é fã entende esse sentimento”, mas no final é isso mesmo. Cada um de nós carrega diferentes bagagens, que fazem com que tenhamos experiências muito pessoais com determinadas obras, e fortes emoções podem estar envolvidas. Mas mesmos pessoais, essas experiências são validadas e fortalecidas quando celebradas em coletividade, e é isso que faz esses espaços serem tão mágicos.

Agora falando especificamente sobre o filme Taylor Swift: The Eras Tour, tem circulado pela internet vídeos que mostram que as sessões para o filme da loirinha estão… diferentes de uma ida convencional ao cinema. Em diversas exibições, o público sai de suas cadeiras e dança pelos corredores suas músicas favoritas. Eles interagem com o telão como se estivessem no show ao vivo, trocam pulseirinhas da amizade (tradição criada entre os fãs, que consiste em confeccionar pulseiras de miçanga e trocá-las uns com os outros), escolhem looks que combinam com seus álbuns favoritos… O que seria simplesmente a exibição da gravação de um show, se torna um evento muito maior. 

The Eras Tour. Reprodução: internet.

Conversei brevemente com Mikaelle Rêgo (23), que é fã da loirinha desde 2012 (mais especificamente desde o lançamento de Long Live feat. Paula Fernandes haha), que contou um pouco sobre como foi sua sessão:
“[…] Por incrível que pareça a sessão lotou! Fui na estreia e tinham muitas pessoas. Na hora do 1989 eles cantaram, dançaram e fizeram rodinhas. Foi bem lindo!”

Ela também contou que ganhou pulseirinhas da amizade e que essa é uma forma de “colecionar momentos e ter essas lembranças”. 

Porém, como nem tudo são flores de lavanda, por mais bonitas e significativas que essas tradições sejam, sempre surgem comentários negativos e que menosprezam essas experiências. Ainda mais com obras que não são diretamente voltadas para o público masculino, como aconteceu com Barbie (2023) dirigido pela incrível Greta Gerwig… O que esperar do Twitter, não é mesmo? Mas, afinal, o que devemos tirar disso? Bom, em uma entrevista concedida à BBC Radio 1 em 2019, Taylor Swift disse:

“Eu não acho que você deveria ter que se desculpar por sua empolgação. Só porque algo é clichê não significa que não seja incrível. O pior tipo de pessoa é aquela que faz alguém se sentir mal, burro ou estúpido por estar animado com alguma coisa.”

The Eras Tour. Reprodução: internet.

Então, o ideal é continuar a fazer o que sempre fizemos: criar nossas tradições e alimentar nosso amor pelas obras e artistas com os quais nos conectamos. Continuar celebrando aniversários de personagens fictícios, virar a noite lendo fanfic, entrar em discussões ferrenhas com outros fãs… Sem vergonha ou receio de ser lidos como histéricos. Falando de forma mais pessoal, não imagino o que seria de mim se eu não tivesse crescido sendo fã de várias coisas. As obras da loirinha têm me acompanhado por anos, assim como acontece com milhões e milhões de pessoas. Com lições de amor, gentileza, renascimento e justiça, a carreira e obra de Taylor Swift encanta multidões com suas letras honestas, vulneráveis e preenchidas de um estilo muito especial e único. E é incrível ver que os fãs conseguem expandir isso ainda mais. Esse texto está sendo escrito faltando poucos dias para a The Eras Tour chegar ao Brasil, e mal vejo a hora de embarcar para ver a maior turnê de estádios de todos os tempos, conhecer outros fãs e ver a loirinha pela primeira vez. E com direito a pulseirinhas da amizade, roupas temáticas e toda essa breguice gostosa e contagiante. Como a loirinha canta em: “You’re own your on, kid”:

“Faça as pulseirinhas da amizade, agarre o momento e o aproveite. Você não tem motivos para ter medo.” 

Esse texto foi escrito enquanto eu escutava:
Style (Taylor´s Version) – Taylor Swift

Long Live (Taylor’s Version) – Taylor Swift

Bejeweled – Taylor Swift

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