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20 de julho: o dia mais feliz do 2023 de Hollywood

Como o sucesso dos lançamentos de Barbie e Oppenheimer relembraram a indústria sobre o poder do ineditismo

Foi preciso que uma bomba cor de rosa explodisse para que o cinema revivesse. Isso não é uma hipérbole, muito menos uma suposição: há anos as salas de cinema não se enchiam como nos lançamentos de Barbie e Oppenheimer.  

Calcula-se que o fim de semana de estreia dos filmes, que ocorreram no mesmo 20 de julho, levaram cerca de 2 milhões de brasileiros para as salas de cinema. O que antes parecia um passeio normal, após a era do streaming e o período pandêmico se transformou em uma ocasião rara até mesmo para fãs da sétima arte. Assistir tantas pessoas planejarem roupas pretas e rosas, reunindo amigos e família para enfrentar uma verdadeira maratona de mais de cinco horas fora de casa, prestando atenção em um filme “longe” do celular, chocou.

A divulgação pink do filme sobre a boneca mais famosa do mundo, contrastada pela história dramática e polêmica do considerado ‘pai da bomba atômica’ atingiu não só as telas e os cine-debates como também vitrines de lojas, estudos acadêmicos e manchetes de jornais. O fenômeno ‘Barbenheimer’, como ficou conhecido, levantou conversas que, sabemos, você deve estar cansado de ouvir. Cinéfilo ou não, provavelmente já leu sobre as polêmicas envolvidas no filme da Barbie, as discussões sobre feminismo levantadas, o Ryan Gosling cantando “I’m just Ken”; o misto de amor e ódio pelo químico J. Robert, os dilemas éticos nas descobertas científicas e a rememoração do debate armamentista. Mas já parou para pensar o que isso representa para o futuro?

O Francis Ford Coppola não só pensou como afirmou para o mundo todo que Barbie e Oppenheimer podem ser uma das melhores coisas que já aconteceram na história do cinema nos últimos anos. Segundo o renomado diretor do Poderoso Chefão (e tio do Nicolas Cage e pai da Sofia Coppola, sempre gosto de mencionar!) os dois filmes nos aproximaram da vivência de uma possível “nova era de ouro” em Hollywood.

Mais que um sinal positivo de que o cinema ‘não morreu’, que as pessoas ainda se importam com experiências audiovisuais e que o formando on demand não resume tudo, Coppola aponta para uma característica comum entre os dois lançamentos: são histórias inéditas.

Não é o filme dois ou três, o de volta para algum lugar, não é prequel, nem spin off, nem uma daquelas obras de cadeia que você precisa estar imerso em um universo para compreender. É dar play, consumir a história, interpretar, e fim. Sem mais delongas, sem obrigatoriedade de continuação, sem a necessidade de criar um PhD sobre a obra para que o público entenda cada detalhe (sim, amo filme de super-herói, mas também, isso foi uma indireta para a Dona Marvel).

Nenhum estudioso de cinema é assim tão inocente a ponto de ignorar o social por trás desse fato. São histórias estadunidenses e eurocentristas, com foco em culturas colonialistas, em uma indústria capitalista. É mesmo importante relembrar a arte como resposta (ou não) para demandas públicas. Por isso se entende que duas obras vieram atreladas a nomes de peso, com os diretores Greta Gerwig e Christopher Nolan já conhecidos no mercado, aclamados pelo público e considerados pela dinâmica de produção. Todo o elenco de estrelas e os musicistas que produziram trilhas sonoras geraram buzz estrategicamente calculado para atrair o público. A história também não surge do nada ou carregada de muita originalidade, já que retratam uma boneca conhecida há mais de 60 anos e um fenômeno histórico dos anos 40. 

Ainda assim, é nítido que houve impacto de avanço. Hollywood entendeu um recado que os anúncios de produções pré-‘Barbieheimmer’ pareciam ignorar: reboot e remake são até legais, live action tem, sim, seus fãs e principalmente quem gosta de séries ama passar anos aguardando para assistir os filmes serem lançados. Mas são as histórias inéditas que nos fazem largar o controle e comprar bilhetes para salas de cinema.

Retomada? Salas de cinema dão primeiros sinais de reação pós-pandemia |  Metrópoles
Reprodução: Internet

Nada substitui o conforto do próprio sofá, assim como nenhuma pipoca no mundo é tão boa quanto a de manteiga derretida do cinema. O embate aqui não é preferência por Cinemark vs Netflix ou se a decisão correta é lançar no cinema antes do streaming ou deixar que o usuário escolha. O sucesso de Barbie e Oppenheimer, a ansiedade pela época de premiações, a fala do Coppola e os dados do cinema de Hollywood apontam para debates sobre o ineditismo: o anseio por histórias novas. 

Estúdios já estão repensando suas apostas, roteiristas independentes já se sentem mais esperançosos e, ainda que se fale sobre live-actions a serem lançados, o cinema relembrou que novas histórias e narrativas também têm espaço na lista de lançamentos. A prerrogativa urgente do cinema é o desejo por mais imaginação.

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