Você está visualizando atualmente Nimona: lazer, representatividade e o poder da narrativa

Nimona: lazer, representatividade e o poder da narrativa

A história de Nimona – narrativa e produção – é extremamente simbólica. Não é favorita ao Oscar, mas deveria ser da sua watchlist!

Reprodução: Nimona (2023)

Quanto a história, devo confessar que não é nada revolucionário, mas extremamente efetivo. O herói renegado se junta a antagonista – neste caso, uma metamorfa – excluída há tempos e descobre que não foi simplesmente injustiçado; que o buraco é mais embaixo, o sistema é corrupto, os bonzinhos não são tão bonzinhos assim e o “malvado”, na verdade, tem o coração mais puro.

Ou mais ou menos isso, já que Nimona é super punk e uma danada, de um jeito carismático. Mas essa não é uma crítica, e recomendo muito que você tire suas próprias conclusões assistindo à obra.

Reprodução: Nimona (2023) – Divulgação

Agora que você já sabe alguns dos detalhes mais interessantes da narrativa, está na hora de conhecer o  histórico para levar essa obra às telas. 

A produção, que, aliás, é uma adaptação de uma graphic novel de 2015, se iniciou como um projeto da Blue Skies, mesma produtora de sucessos como Rio (2011) e A Era do Gelo (2002). Após a compra da 20th Century Fox em 2019 pela Disney, o projeto passou a ser então uma animação da casa do Mickey.

Daí as coisas começaram a andar para trás, já que em 2021 a gigante midiática anunciou o fechamento da Blue Skies. Com isso, alguns projetos em desenvolvimento seriam descartados, como era o caso de Nimona.

Nem todas as obras foram descartadas. Uma série da franquia da Era do Gelo, por exemplo, continuou a todo vapor pela Walt Disney Studios. Paralelamente a essa decisão do que fica e o que é deixado de lado, portais de notícias divulgaram o apoio financeiro do CEO da Disney da época, Bob Chapek ao projeto de lei “Don’t Say Gay” da Flórida, EUA. Além disso, denúncias de trabalhadores da Pixar já eram vinculadas há alguns anos e, nesse período de março de 2022, se intensificaram.

Com esses fatos em mente, não foi difícil juntar os ‘pauzinhos’ e entender melhor porque justo a produção novata, com protagonistas abertamente LGBTQIA+ e uma narrativa crítica ao conservadorismo moral em geral, foi barrada.

Colagem| Reprodução: Omelete, Revista Híbrida, Cinema Aqui, Revista Fórum (2022)

Ainda em 2022, no entanto, o artista responsável pela graphic novel, ND Stevenson, uma pessoa transmasculina, anunciou o resgate e retomada do projeto pela produtora, com aporte e distribuição da Netflix.

Por esse motivo, a própria existência do longa-metragem é uma conquista. Essa bela história, que foi uma das formas que Stevenson encontrou de se entender e fornecer histórias para jovens trans se encontrarem em histórias, com todas as barreiras, finalmente existia para um abrangente público novo se apaixonar. 

Nimona não subverte ou revoluciona o gênero de ação para todos os públicos, muito menos tenciona paradigmas técnicos da animação como um ‘Aranhaverso’. Mas definitivamente adiciona algo de novo e revigorante com sua narrativa repleta de nuances, disposta de maneira simples mas repleta de simbolismos de peso.

Além disso, destaca algo muito importante (e muito CineCom) também: o lazer e a reflexão crítica sobre a sociedade e suas problemáticas não são polos opostos, e não deveria ser algo raro. É, inclusive, um ato político. Se a mídia que consumimos nos ajuda, muitas vezes, a escapar dos cansaços da realidade e, através dela, nos conectamos com realidades distintas, temos repertório de largada para questionar o mundo que vivemos. 

Através da narrativa, temos uma espécie de amostra do que é estar na pele do outro e, então, verdadeiramente entender a importância de se posicionar. Nesse caso, se divertir, se emocionar e se conectar, de uma forma geral, com narrativas é uma ferramenta poderosa. Ao final das contas, é tudo sempre sobre pessoas.

Esse texto foi escrito enquanto a autora ouvia:

One Way or Another – Blondie

O Sol e a Lua – Pequeno Cidadão

End of Beginning – Djo

Leia também:

Arte e existencialismo

CineProfissão: Animador

Comentários

Autor