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Bauman, Her e o “não aguento mais o amor líquido”

Esse artigo vai pra você que assistiu o filme Her – e se não assistiu, fica aí o convite. Contextualizado: o filme conta a história de um homem que se relaciona com o sistema operacional de suas máquinas, a Samantha. E sim, é realmente uma relação, com tudo – ou quase – que se tem direito. Mas o que Bauman tem a ver com isso?

Zygmunt Bauman foi um sociólogo polonês que se dedicou a estudar, entre outras coisas, as relações humanas. A partir disso, temos um termo utilizado pelo mesmo: modernidade líquida. Ele usa esse termo para se referir a fluidez e vulnerabilidade que temos na modernidade. As relações estão incluídas nisso.

Quando se pensa em amor líquido entra em discussão a efemeridade das relações que construímos atualmente. O filme entra justamente nessa questão, onde o sistema operacional pela qual Theodore se apaixona pode ser facilmente moldado à forma que melhor lhe agrada ao mesmo tempo em que é discutível o seu pertencimento. Com o tempo, ele pode se tornar substituível, como qualquer máquina.

Assim, se pararmos para analisar as relações e a era tecnológica, estamos sendo também substituídos por versões melhores, mais adaptáveis e compatíveis?

É importante entender o conceito de relações afetivas que foi construído ao longo do tempo, muito baseado na posse e na eternidade. Só assim é possível ter uma visão mais crítica do que está ocorrendo de fato com os contatos humanos, a forma como estamos vivendo e construindo – ou deixando de construir? – determinadas situações.

Somos humanos, somos instáveis. “Vivemos tempos líquidos, nada é pra durar” é uma crítica altamente aplicável a diversas questões existentes. Porém, o que coloco aqui é o seguinte pensamento: tudo que não foi feito pra durar é, necessariamente, errado? Uma relação não pode ser fluída, mediada tecnologicamente, efêmera e ainda assim representar algo importante?

Her é só um exemplo de como esse tema é retratado e não estou seguindo em sua literalidade. Sobre o filme: uns amaram, outros acharam ridículo. E talvez seja isso mesmo. Uns vão amar ser líquidos, breves, mutáveis. Outros sempre vão preferir a certeza e a estabilidade. E tá tudo bem, desde que sejamos sinceros com nós mesmos e com quem nos propomos a relacionar pela vida. Não aceitar nada como uma cartilha a ser seguida e entender as mudanças – boas e ruins – faz com que discussões como essa se façam necessárias e presentes, sejam nos filmes, nas artes e na vida.

Afinal, quem sabe o que pode vir depois dessa liquidez?

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