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A arte da simplicidade felina

Após o monumental A Viagem de Chihiro, O Reino dos Gatos aposta na simplicidade e descontração para equilibrar as doses de grandiosidade do Studio Ghibli

Se você já teve algum bichinho de estimação com certeza já se perguntou ou imaginou como seria a comunicação entre vocês se ele pudesse falar como um humano. Certamente você teria uma noção muito mais clara das vontades, gostos, sonhos e aspirações do seu amigo. Ou então poderia perguntá-lo aonde vai ou o que faz sempre que sai a noite para a rua. É essa a experiência que vive Haru, uma jovem estudante que vive cheia de incertezas e coleciona atrasos na escola. Após salvar um gato de um atropelamento, ela é “convidada” a visitar um lugar mágico no qual os felinos possuem características antropomórficas e que guarda inúmeras aventuras para a protagonista. 

O Reino dos Gatos é o sucessor de A Viagem de Chihiro, uma obra complexa, ambiciosa e monumental, cheia de simbolismos e subtextos por trás que alçou o Studio Ghibli a um outro patamar e o rendeu fama mundial. Em contraste, a direção de Hiroyuki Morita aposta em uma produção menor em todos os sentidos: O Reino dos Gatos ganha o seu charme em sua simplicidade. A delicadeza e a doçura dos traços ajudam a manter essa sensação e criar uma atmosfera “fofa”, reforçada pela utilização de tons pastéis. O andamento e o desenvolvimento da narrativa se mostram muito mais sucintos e despretensiosos do que em outras produções do estúdio.

Por essa característica, o filme permanece muito mais no campo do humor leve e perspicaz e utiliza de recursos criativos para prender a atenção do telespectador durante toda a “média-metragem”, não se aprofunda tanto na melancolia e na reflexão, como outros filmes do estúdio. Sua principal função é entreter, mas nem por isso deixa de provocar algumas considerações, principalmente quando se evoca a questão existencial da sensação de pertencimento e se percebe o amadurecimento da protagonista ao final da trama: a passagem pelo Reino simboliza provações de idade que redefinem a sua percepção de vida.

O Reino dos Gatos é um filme muito gostoso de se assistir para passar o tempo. Muito sincero, funciona extremamente bem justamente por não cair na vala da pretensiosidade e apostar no entretenimento como forma de contrabalancear a magnitude de outras obras e, ainda assim, conseguir proporcionar aquela sensação de mágica de descobrir um universo próprio e singular que nos liberta de nossas rotinas. É um sopro despretensioso que traz ventos frescos graciosos que nos fazem voar novamente pelas asas da imaginação infantil.

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