O fim, além de inevitável, é necessário. Se despedir não significa apenas que uma porta se fechou, mas sim que tantas outras acabaram de se abrir
Velozes e Furiosos chegando ao seu décimo filme, Supernatural se estendendo até a décima quinta temporada mesmo com os criadores tendo planejado apenas cinco, a insistência dos fãs para o retorno de Chris Evans e Robert Downey Jr. aos seus filmes na Marvel Studios… Esses são apenas alguns exemplos de casos que tiveram o seu fim adiado para além de seu planejamento inicial e que, mesmo quando acabaram, de todas as formas, houve tentativas de se retroceder e acrescentar um outro capítulo à história. Mas qual o porquê de isso ser algo tão comum e recorrente? São várias as respostas para essa pergunta: estúdios tentam sugar até o último centavo que aquela produção ou a presença daquele ator ou atriz pode oferecer, o sucesso de crítica faz com que uma sequência seja cogitada, ou tantas outras. O que eu gostaria de destacar e explorar neste artigo é aquela que, para mim, é a resposta mais corriqueira, a dificuldade de grande parte dos fãs em desapegarem e se despedirem de suas histórias favoritas.
Primeiramente eu gostaria de dizer que não estou julgando quem já tenha feito isso ou falando que isso não deveria ser feito, ter dificuldade em dizer adeus é algo normal, é natural e faz parte da vida. Nós possuímos sentimentos, nos apegamos, criamos laços que se tornam difíceis de serem quebrados, mas essa é a questão, esses laços não precisam ser quebrados. Se despedir não significa que você nunca mais irá ter contato com aquela série ou com aquele filme que você tanto ama, que o trabalho daquele ator ou daquela atriz vai ser apagado da existência, eles vão continuar ali, esperando para te fazer companhia novamente. Entretanto, uma história encerrada, com início, meio e fim, como tudo deve ser, é a ordem natural das coisas.
Realmente não estou te julgando, eu mesmo já perdi as contas de quantas vezes lamentei por Gente Grande não ter se tornado, pelo menos, uma trilogia, por todas as mortes e despedidas de personagens em Criminal Minds ou por Brooklyn 99 ter menos de 99 temporadas. Porém, percebi, principalmente com a ajuda da minha produção audiovisual favorita – How I Met Your Mother, que mesmo após os créditos finais do capítulo que encerrou a série e a história que deveria ser contada ter chegado ao fim, isso não significava que eu tinha que ficar estacionado ali, que a minha história acabara também. Quando uma porta se fecha, incontáveis outras se abrem instantaneamente. E foi exatamente desse jeito, me despedi daquela que é a série que moldou o meu caráter e conheci tantas outras que mudaram a minha forma de enxergar o mundo.
Em todas as despedidas que tive que enfrentar, algumas mais difíceis e outras nem tanto, eu sempre imaginava como seria o depois, o que eu faria em sequência? Talvez por conta disso, eu sempre travei nos episódios finais ou ficava perguntando a mim mesmo o motivo daquela série não ser renovada para pelo menos mais uma temporada, pela história estar acabando ali, naquele momento. Porém, é preciso entender que o fim de algo, na verdade, é justamente o que se é necessário para a eternização de uma obra, diversos casos mostram que adiar o inevitável poderia ser uma das piores decisões a se tomar.
Para exemplificar, vou citar Supernatural, que mencionei no início desse artigo. A série foi planejada para durar cinco temporadas, segundo o próprio criador, Eric Kripke, que inclusive saiu da produção após o fim do quinto ano, se tornando apenas um consultor. O resultado disso? Mais dez temporadas, em sua maioria apenas com a finalidade de encher a narrativa, sem acrescentar nada que de fato resultasse em um final definitivo, o que desagradou a maior parte dos fãs que acompanhou a série por longos 15 anos, isso sem contar os que simplesmente desistiram no meio do caminho. O “e se” dessa questão é muito grande, e se Supernatural tivesse acabado em sua quinta temporada? Ela poderia ser mais aclamada como outras produções que acabaram justamente como deveriam acabar? Vide Breaking Bad e Dark. E se mais uma temporada existisse na tentativa de consertar os erros e dar um final digno ao show? Os fãs comprariam essa ideia ou quantos deles já teriam abandonado a história dos Winchester? São perguntas em que as respostas são encontradas apenas no nosso imaginário.
Sim, é difícil dizer adeus, se despedir daquilo que nós amamos. Porém, a despedida pode ser vista como um investimento a longo prazo, talvez naquele exato momento nada pode parecer fazer sentido. É possível que você fique confuso, se sinta perdido com o fim daquilo que te faz tão bem, contudo, depois de um tempo você passa a perceber que se despedir naquele momento realmente foi o ideal, a hora certa, mesmo que não parecesse. Se você tivesse estendido essa situação, adiado o inevitável, os danos seriam muito maiores. É necessário aprender a dizer adeus.
Nesse artigo eu falei sobre a dificuldade em se despedir de filmes, séries, atores, tudo relacionado a esse universo que é o foco principal do nosso projeto, porém, em todos os textos que tenho a liberdade de expressar a minha opinião sobre algo, eu gostaria que você refletisse e pensasse além. Na sua vida existe uma situação que você continua estendendo além do necessário? Algo que já passou da hora de colocar um ponto final e dizer adeus? Caso sim, espero que esse texto ajude você a perceber que finais são necessários, mas não são, necessariamente, o fim de tudo. Ciclos precisam ser encerrados, até mesmo os que são bons, isso é necessário, você não pode se apegar ao passado porque quando menos esperar, ele já se foi.
Quantas vezes você pensou em dar uma segunda, terceira, quarta chance para aquilo que você sabia que já tinha um fim decretado, que está, até mesmo, te fazendo mal, mas a dificuldade em se despedir acaba adiando o inevitável? Ele chegará, isso é indiscutível, cabe a você decidir qual você quer que seja a gravidade dos efeitos colaterais. Se despedir é um investimento a longo prazo, não um investimento sobre o outro, um investimento sobre você.
Após a despedida, um ciclo se encerrou, porém, a chegada do fim é o ponto de partida para vários outros começos.
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