Popular nos livros de romance e agora presente nas telonas, precisamos conversar sobre a garota vista como diferente e que conquista o mocinho por esse motivo.
Ela pratica esportes, curte música alternativa e não se veste como as meninas das revistas, ou na maioria dos casos, usa o coque frouxo e é aquela rotulada como nerd por seus colegas. Nos filmes é retratada como a esquisita, a diferentona ou invisível, e se torna interesse romântico do mocinho apenas por ser diferente das demais garotas. Um clichê que se propaga por diversos filmes de romance e parece inofensivo, mas que possui algumas problemáticas por trás.
O fenômeno “Ela não é como as outras” surgiu na década de 50 para se distanciar do forte conservadorismo presente no período, mas apenas na década de 80 que se popularizou e começou a ganhar espaço nos filmes e séries. O objetivo era desassociar a mulher do estereótipo de que ela só deveria ser tratada como dona do lar e dar a oportunidade delas expressarem sua própria individualidade. Contudo, o fenômeno sofreu algumas transformações para se adaptar às telonas. Uma delas foi a construção da ideia de que a feminilidade é algo ruim – se a garota gosta da cor rosa e usa muitos vestidos, é considerada superficial ou até mesmo burra, fazendo com que meninas criem uma certa repulsão contra a feminilidade. Vale ressaltar que todas as garotas têm a sua própria individualidade e por muito tempo os filmes representavam as mulheres como inferiores, mas esse fenômeno criou uma hierarquia entre as mulheres, destacando que umas eram melhores que outras.
Para ilustrar o que acabei de comentar, pense em um filme de romance adolescente. Provavelmente a garota tratada como vilã tem um figurino mais de patricinha e usa muitos elementos que remetem à feminilidade e a protagonista é mais afastada desses conceitos. No longa-metragem Meninas Malvadas 2, por exemplo, temos uma protagonista que gosta mais de carpintaria e mecânica e a nossa vilã se veste como roupas mais meigas, criando nas meninas o entendimento que quanto mais afastadas da feminilidade elas estão, mais legais elas são.
O conceito surgiu justamente com a proposta de dar liberdade às meninas, mas ele as tornou refém das individualidades de outras garotas. Ao invés de termos representação de uma pluralidade de personalidades, acabamos caindo no famoso clichê da garota quieta, que se veste de maneira mais “desleixada” e conquista o rapaz depois que o afronta ou que se envolve em uma aposta. Ela é demais (1999) – mesmo sendo um dos meus favoritos – se desenvolve nesse clichê. Por mais que traga bons temas abordados ao longo do filme, cai na narrativa que o cara popular só se apaixona depois que a protagonista sofre um “glow up”.
“Ela não é como as outras” criou uma protagonista padrão que não consegue se expressar corretamente ao longo dos 90 minutos de filme e nos leva a discussão sobre o que seriam as outras garotas. Aquelas que gostam de maquiagem ou que são emotivas? Uma mulher é forte mesmo expressando sua feminilidade. Precisamos parar com esse endeusamento do “ela não é como as outras” e focar na busca das diversas individualidades para o cinema. Uma mulher não é melhor que a outra só porque ela gosta de se vestir como uma patricinha ou que ela aprecia outros hobbies.
Felizmente ainda temos várias protagonistas fortes, como a Olivia Pope (Kerry Washington) de Scandal que não tem medo de expressar suas vulnerabilidades e se apegar na feminilidade ou a Cersei (Lena Headey) de Game of thrones que demonstra que as mulheres não precisam ter medo de esconder sua inteligência e liderar. Contudo, se você pensa nos filmes de romance, não se preocupe porque para cada protagonista forte confiante na sua feminilidade vai existir um Noah Centineo para fazer o papel de interesse romântico.
Fontes:
The Problem With Saying You’re “Not Like Other Girls”
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