Se você é um amante dos romances de época como eu, com certeza vai amar o filme. Ou melhor, os filmes!
O clássico americano de 1868 narra a vida da autora, Lousia May Scott, e de suas três irmãs. Marcado pela guerra civil, a história retrata o machismo da época por meio do casamento e das oportunidades de independência financeira para mulheres. Romances impossíveis, aventuras, figurinos perfeitos e mulheres fortes: tudo o que esperamos de um filme de época e muito mais.
Acontece que, por ser um clássico, o livro já foi adaptado para as grandes telas nada menos e nada mais do que 4 vezes! A primeira versão foi em 1933, depois em 1949, mais uma vez em 1994 e por último no ano de 2019. O romance é tão marcante que tem até quem diga que cada geração merece sua própria versão. Por isso, a crítica de hoje é baseada nas duas últimas adaptações: a de 1994 e 2019, para assim entendermos como a narrativa foi transformada para se enquadrar aos millennials e a geração z.
O que mudou nesses vinte e cinco anos que separam os dois filmes? Muita coisa!
Podemos começar pela diferença mais aparente, o elenco. No longa dos anos 90, Winona Ryder interpreta a divertida Jo March de forma excepcional, enquanto suas irmãs são representadas por Claire Danes (Beth March), Trini Alvarado (Meg March) e Kristen Dunst (Amy March). Já em 2019, grandes nomes de Hollywood compõem um elenco de peso – começando pela brilhante Meryl Streep no papel da tia March, Emma Watson como Meg, os protagonistas interpretados por Saoirse Ronan (Jo) e Timothée Chalamet (Theodore Laurie), por fim, Laura Dern como a Margareth March. Não dá para negar que as expectativas para um filme com essa escalação são altas.
Claro que a atuação e o talento desses ícones vão além desta crítica, entretanto tenho algumas ressalvas pessoais. A escolha da atriz Laura Dern, indicada ao Oscar do mesmo ano por sua atuação em Histórias de Casamento, para retratar a amável mãe das meninas é louvável. Mas acredito que poderiam ter convidado a própria Winona Ryder para participar da nova adaptação, tendo em vista sua atuação perfeita na série Stranger Things como a preocupada e cuidadosa mãe de Will e sua idade atual ser compatível com a personagem. Poderia ter sido uma chance de homenagear a atriz e fazer uma referência a produção de 1994, porém posso estar sendo um pouco clubista por motivos de #WinonaForever.
Apesar de que qualquer filme com Meryl Streep é difícil de decepcionar, Adoráveis Mulheres (2019) consegue esse feito. A lista de atores e atrizes chama a atenção do público, mas sabemos que não é só de cast que se faz um filme. A linha do tempo da narrativa passeia entre o futuro e o passado, mostrando as fases da vida das personagens fora de ordem. Não que eu seja uma grande defensora de filmes que acompanham a vida em sequência linear, entretanto, o roteiro parece despreocupado com o entendimento da história por si só. Ao sair da linha do tempo, o filme perdeu o sentido de acompanhar o crescimento e amadurecimento das personagens, apresentando essa parte de forma confusa. Quem não conhece outras produções da mesma obra, não é capaz de entender a profundidade emocional da história pelo longa de 2019.
A própria personalidade das personagens também mudou: Laurie, o galã, é retratado de forma muito mais agressiva e mimada. O machismo está melhor representado em suas atitudes e a irresponsabilidade do rapaz é evidente. Na adaptação mais recente, Jo March traz mais bagagem emocional e, assim, conhecemos um pouco melhor seu temperamento em comparação a produção de 1994 em que ela é mais brincalhona, mas muito fechada. Agora, Jo fala mais sobre suas emoções, como se sente em relação ao amigo Laurie e suas expectativas como escritora. Por sua vez Amy, a irmã mais nova, é extremamente infantilizada e a atuação de Florence Pugh deixa a desejar em certas cenas.
[SPOILER ALERT] Se você ainda não assistiu a nenhum dos dois filmes, pare agora e volte depois. A partir desse ponto vou citar pontos específicos da história que só farão sentido se você já tiver assistido aos longas-metragens.
O casal protagonista, Jo e Laurie é desenvolvido a partir de uma amizade de infância, com brincadeiras inocentes e uma sintonia desde as primeiras cenas. Na produção dos anos 90, a amizade entre os dois é inquestionável e, embora Laurie tenha sentimentos confusos e inconstantes, Jo é uma mulher decidida e não se envolve com o amigo em nenhum momento. Apesar de shippar os dois, é importante que os filmes retratem também amizades verdadeiras entre homens e mulheres sem um interesse amoroso como pano de fundo.
Ainda sobre a vida amorosa de Jo, o professor Friedrich Bhaer interpretado por Louis Garrel em 2019 muda em vários aspectos, principalmente no estético. O que me incomodou pessoalmente foi o pouco (ou nenhum) destaque para o personagem, sem um desenvolvimento para o romance. O enredo amoroso entre os dois é retratado como um substituto pelo de Jo e Laurie não ter dado certo, sendo que na trama de 94 não é bem assim que acontece.
Ademais, um ponto positivo na adaptação de 2019 é que, ao final do filme, resta uma dúvida sobre o verdadeiro desfecho amoroso. Jo realmente se casou ou esse foi o final do livro, feito para ser comercializado? Nesse ponto a vida da autora e a obra se confundem, deixando os telespectadores curiosos para saber mais e ler a história original.
Afinal, as adaptações acompanham as mudanças das gerações, trazendo novos ares e pontos de vista sobre a história original. Ainda que haja críticas, ambos os filmes merecem sua atenção e não vão passar batido, a temática é incrível e, embora o título original, Little Women, signifique em português Mulherzinhas, de pequenas essas mulheres não tem nada!