As piadas de sofá que nos conquistaram ainda tem lugar nas nossas casa?
Estrelado em 1986, The Simpsons conta a história de uma família média americana, meio disfuncional com um pai alcoólatra, filhos caóticos e uma esposa amável, respectivamente Homer Simpson como o patriarca, Bart, Lisa e Meg Simpson como a prole e Marge Bouvier como a mãe. A série coleciona prêmios 31 Emmys e foi a primeira animação a receber um Peabody, premiação que louva conquistas no campo radiofônico estadunidense, e a família amarela possui até sua própria estrela na calçada da fama.
Você com certeza já viu pelo menos um dos mais de seiscentos episódios da produção idealizada por Matt Groening ou já deve ter ouvido falar de uma das vezes que o desenho “previu o futuro”. No ar há mais de trinta anos se tornou impossível que a animação meio nonsense não contassem alguns absurdos que depois acabariam por se tornar parte da realidade, como por exemplo o machucado de Neymar no final da Copa do Mundo e a eleição de Donald Trump.
No entanto, muito por essa longa permanência das telas, Simpsons já foi por diversas vezes palco de polêmicas como a ação de algumas escolas nos EUA que baniram camisetas da série, principalmente do Bart, por alegarem que o personagem promove o “anti-intelectualismo” e em outra ocasião o presidente da FOX teve que se desculpar publicamente com a cidade de New Orleans por um episódio com piadas que ligavam o município aos “bêbados, prostitutas e piratas”.
Os conservadores sempre questionaram o lugar da série que foi pioneira em abordar assuntos que a TV não estava disposta a mostrar. Mas nos últimos anos essas colocações estão sendo apontadas mesmo entre os mais progressistas. Misoginia, xenofobia e homofobia foram acusadas mais de uma vez nos episódios. O caso mais emblemático foi a crítica ao personagem Apu, um indiano que é dono de um mercadinho e que conversa todos os estereótipos racistas de sua nacionalidade. Depois de uma onda de manifestações que aconteceram principalmente em razão do documentário “O Problema com Apu”, numa desculpa boba Lisa aparece em uma cena falando sobre “algo que começou há décadas e era inofensivo hoje é politicamente incorreto” e ao fundo uma foto do personagem indiano.
Depois de Os Simpsons uma onda de animações desse estilo controverso surgiram como South Park, Futurama, Family Guy e mais tarde mesmo os mais cults como Ricky and Morty, que chegaram a fazer participação numa das clássicas piadas de sofá, beberam da fonte da família amarela. Elevando ou baixando o nível, várias produções se apoiaram no sucesso e no jeito Groening de animar.
É inegável que certos arcos e personagens inteiros envelheceram mal, mas também fica claro que a série, mesmo por muitas vezes não dando o braço a torcer, toca em assuntos tabu como independência feminina, abusos políticos e até mesmo as incongruências da televisão estadunidense, criticando por vezes o próprio estúdio FOX. Uma coisa certamente não compensa a outra, mas anacronismos não devem ser aplicados aqui, as lógicas que eram aceitas na década de oitenta são completamente diferentes das de agora, ao mesmo passo que não devemos deixar que aquelas mentalidades residam nas produções de agora. No entanto, entendemos que por seu caráter subversivo, muitas vezes de denúncia e principalmente por sua postura ácida e divertido, Os Simpsons não é a produção que os Estados Unidos e o resto do mundo precisam, mas a que merecem.