Representatividade, música e a fuga do óbvio: a jornada de Soul
Soul (Pete Doctor) é mais uma das inúmeras animações da Pixar que emociona, inspira e agrada uma variedade de públicos. Em partes porque sabe aplicar muito bem a famosa fórmula do estúdio: temáticas clássicas como amizade, família e perda, estrutura narrativa da jornada do herói e a consequente “tristeza positiva”, a qual a cientista em comunicação Leticia Porto Pedrosa define como os ápices dos conflitos ou sofrimentos que geram identificação com os espectadores, impulsionam o protagonista no caminho “certo” e servem como lição de vida. Porém, o longa realmente se destaca ao abordar tópicos existencialistas, os quais nunca foram tão pertinentes quanto no momento pandêmico do lançamento.
Mas a representatividade preta é o primeiro grande acerto do filme, já que, ao fazer do jazz tão central na obra, não embranqueceu suas origens, como muito visto ao decorrer da história do gênero. Muito pelo contrário, ele reforça em vários momentos, a partir de personagens e referências, a origem dessa expressão artística na negritude.
No entanto, os visuais estão longe de não ficarem para trás. Além da animação 3D ser impecável, a criatividade das representações dialogam com as proposições dos filme e fogem do óbvio; trechos em 2D, figuras bidimensionais com volume e até referências ao Cubismo solidificam a caracterização dos conceitos abstratos e ressaltam a ligação intrínseca entre artisticidade e filosofia.
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