As irmãs Sanderson e a magia dos estúdios Disney
Hocus Pocus (Abracadabra), produção cinematográfica de 1993, conta a histórias das irmãs Sanderson: Winifred (Bette Midler), Mary (Kathy Najimy) e Sarah (Sarah Jessica Parker). As três bruxas viviam na cidade de Salem no Século XVII, quando foram levadas a forca por enfeitiçarem criancinhas como Emily Binx (Amanda Shepherd).
Após trezentos anos, as bruxas são novamente invocadas nos anos 90 por três jovens: Max Dennison (Omri Katz), Dani Dennison (Thora Birch) e Alisson (Vinessa Shaw). Ao retornarem, novamente as irmãs tentam roubar a energia vital de crianças para ficarem mais jovens e passam a perseguir Max, Dani e Alisson. Com esse ponto de partida, o filme tornou-se um clássico de Halloween, mas você sabia que nem sempre a obra foi tão querida assim?
Quando teve a sua estreia nos cinemas, na década de 1990, a obra não repercutiu tão bem quanto os seus produtores esperavam, sendo um fracasso de bilheteria. Mas, com a magia dos estúdios Disney, a produção ganhou notoriedade a partir dos anos 2000, tornando-se um clássico cult.
E como nasce um clássico?
A ideia do filme partiu de um momento inesperado – e nem um pouco horripilante -. Ocorreu quando David Kischner, produtor, estava conversando com sua filha na varanda de sua casa, pensando em histórias para poder entretê-la. Enquanto David pensava, um gato preto encostou em sua filha. Esse momento foi suficiente para que Kischner criasse uma narrativa em que um menino fosse amaldiçoado por bruxas e fosse transformado em um felino.
Incentivado por sua esposa, David apresentou essa premissa para os estúdios Disney que comprou a sua ideia em 1984. Contudo, em sua versão original, a história se chamaria Halloween House, e teria um teor mais macabro do que foi levado às telinhas de fato. Logo no início, seria mostrado que as crianças entrariam numa espécie de possessão ao comerem doces oferecidos pelas bruxas.
No roteiro original, a história de Thackery Binx (Sean Murray), após a morte de sua irmã Emily, ganharia mais tempo de tela. Teríamos, portanto, mais noção dos acontecimentos ocorridos durante o século XVII na narrativa. No entanto, devido às questões financeiras essas partes não foram gravadas.
Além do roteiro, os efeitos especiais do filme também são marcos que estão cravados na memória da legião de vítimas, ou melhor, fãs das três bruxas. Para fazer as cenas de voo, não houve uma substituição das atrizes por dublês. Betty, Kathy e Sarah foram penduradas em cabos de haste e de fato se jogaram no ar para simular as cenas de perseguições às crianças.
E como falar de efeitos especiais sem lembrar do livro de Winifred?! Havia três versões do livro: um livro normal, outro controlado por meio de um controle remoto, responsável por garantir movimento ao icônico olho na capa e uma versão mais resistente para as cenas de ação. Além disso, as páginas não eram meramente ilustrativas e continham realmente feitiços usados por Winnie.
Outro marco da trama era a casa das irmãs. A famosa e macabra residência das feiticeiras não foi produzida por meio de efeitos visuais, como atualmente seria feito. Pelo contrário, ela foi construída a mão dentro do estúdio e planejada por um design, conforme o modelo de moradias da cidade de Salem no século XVII. Também foram feitos pela equipe de produção o cemitério e a floresta que rodeavam a casa, fato esse que contribuiu ainda mais para que os atores entrassem no personagem.
E por falar em entrar no personagem, vocês se lembram da cena em que Billy Butcherson (Doug Jones), cadáver do ex-amante de Winne, rasga a sua boca que estava costurada e solta várias libélulas? Pois bem, as libélulas eram reais e o ator realmente ficou prendendo-as na boca junto com um pó colocado pela produção em sua língua para evitar a saliva.
Na cena em que Billy perde a cabeça, a produção contou com a atuação de uma dublê que utilizava uma fantasia com apenas a parte debaixo do corpo do personagem. Outro fato interessante sobre o papel de Doug era a maquiagem do ator, que gastava duas horas e meia para ficar pronta.
Outro personagem que também chamava atenção na trama era Binx, em sua forma felina. Para produzir as passagens do gato, foram utilizados oito gatos reais que eram controlados por buzinas, os quais eram animados por meio de computação gráfica contendo rosto real de um felino e por meio de um robô.
Tudo no filme foi estrategicamente pensado, ainda mais se tratando da direção de Kenny Ortega, que também era coreógrafo e fazia questão que os movimentos das bruxas, principalmente de Winnefred, fossem minuciosamente coreografados, dando ritmo à personagem.
Além dos movimentos, a caracterização das bruxas também foi detalhadamente elaborada: para Winnie foi pensada a criação de uma bruxa imponente, com dentes grandes e cabelo pomposo tal qual o da rainha Elisabeth I da Inglaterra, sugestão da própria intérprete, Betty. Para Mary, foi idealizada a figura de uma bruxa cozinheira e, por fim, já Sarah foi inspirada na imagem das princesas clássicas da Disney, transmitido uma áurea mais delicada.
Todo trabalho prático da produção e dedicação dos atores foi responsável por fazer a mágica em Abracadabra acontecer. Assim, a cada ano que passa, ganha um maior valor simbólico na memória dos seus fãs, especialmente nessa época do ano, trazendo um gostinho de nostalgia.
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