A arte de imitar os outros: uma profissão que exige coragem
Muitas pessoas ficam maravilhadas com as cenas perigosas dos filmes de ação. Contudo, poucos sabem, realmente, como as coisas funcionam nos bastidores, e quem são os profissionais que se arriscam para a preparação e execução dessa parte tão importante na área do entretenimento.
Assim, na edição de hoje, o CineProfissão vem com o intuito de apresentar a figura do dublê. Uma carreira que depende de um bom movimento de câmeras para convencer o público de que toda aquela sequência está sendo desenvolvida por uma única pessoa. A figura do dublê, na maiorias das vezes, entra em ação em situações onde há riscos ou que o ator não se sente seguro para protagonizar a cena. Por esse motivo, eles precisam fazer longos treinamentos para executar as atividades e assim evitar acidentes.
Em outros casos, contudo, estes são convocados quando os atores não querem mostrar partes do corpo ou até para substituir um ator que não pode estar presente no set. A exemplo, na franquia “Velozes e Furiosos”, Brian O’Conner, o qual interpretava Paul Walker, faleceu antes de finalizar o sétimo filme. Assim, os produtores optaram por contratar dublês, além de irmãos do ator, os quais dublaram o personagem para não haver grandes alterações no timbre.
A profissão está muito atrelada a aparência, fazendo com que os atores engordem ou emagreçam, além de mudar o cabelo e outras adaptações para que a semelhança com o ator principal se torne convincente.
Fazendo um breve estudo histórico, o primeiro dublê de Hollywood foi Yakima Canutt, campeão norte-americano de rodeio. Nascido em 1896, Yakima iniciou sua carreira no cinema nos anos 20, com o advento dos filmes falados. Os dublês da época eram escalados para dirigir carros e realizar atividades que demandam um longo conhecimento prévio.
Sem os efeitos especiais tão comuns atualmente, o trabalho de Canutt contribuiu para que fosse possível o incremento das cenas de ação, sendo que ele não utilizava equipamentos de proteção que são obrigatórios nos sets de filmagem nos dias atuais.
Em “No Tempo das Diligências”, de 1939, Canutt se consagrou fazendo o papel dos dois lados da briga. Mas seu reconhecimento foi tardio, o primeiro dublê da história do cinema ganhou somente um Oscar, em 1966. Inclusive, hodiernamente, os artistas dessa área fazem campanha para ter sua própria categoria nos prêmios mais importantes do cinema, alegando que sua contribuição é igual à feita a outras profissões que já possuem esse lugar garantido.
Afinal, ensaios exaustivos e coreografias milimetricamente calculadas não sintetizam o quanto esse trabalho é difícil. Em cenas de fogo, por exemplo, muitas vezes é passado um gel congelante no dublê, além de inúmeras roupas de anti-combustão e máscaras, para evitar que o rosto seja machucado, o que dificulta a respiração e o deslocamento desses artistas.
Nesse sentido, pessoas destemidas, como lutadores de artes marciais, acrobatas, atletas, motociclistas são procurados para aperfeiçoarem suas habilidades e poderem atuar em cenas perigosas. Pois, para concretizar muitos frames de ação, não basta saber somente os movimentos, mas também a estrutura técnica. Sendo essencial a atenção a todos os ângulos e direções. Isso porque a possiblidade de falhas é concreta, como ocorreu nas gravações de “Deadpoll 2”, em que a dublê perdeu o controle da moto e faleceu após ser arremessada contra uma parede de vidro de um prédio próximo. Infelizmente, esses acidentes são bem mais comuns do que imaginamos.
Como vimos, ser dublê demanda habilidades, coragem e muito ensaio. Além do desapego à aparecia e a falta de reconhecimento no meio artístico, é uma profissão ainda dominada por homens, mas com o aumento das heroínas nas telonas, esse cenário está mudando. No Brasil, depois de formados, os novos dublês podem ganhar diárias que variam de R$ 800 a R$ 1.600. Já nos Estados Unidos os campeões de bilheteria pagam em torno de US$ 100 mil por produção. Então, quem deseja ingressar no ramo deve também se atentar ás oscilações de remuneração.
Veja também (ou escutem):
Mini Metragem: Cenas Perigosas
TOP 5 filmes de ação (com muito tiro e pancadaria)
Artigo de opinião: Era uma vez em… Hollywood