Num curta-metragem cheio de emoção, Taylor Swift mostrou todo seu talento e criatividade em mais uma área artística
Taylor Swift, o que esse nome poderia estar fazendo em um blog sobre cinema? Com certeza essa é uma surpresa para a maioria, mas é justamente sobre a famosa cantora pop que falaremos nesta crítica, ou melhor, sobre o seu mais novo curta-metragem.
Antes de tudo, porém, vamos contextualizar. All Too Well nasceu como uma das várias músicas do álbum Red, lançado em outubro de 2012, entretanto, devido a perda de direitos autorais, Taylor está vivendo uma jornada de “relançamento” de seus antigos álbuns. E haja marketing para conseguir conquistar o público com algo que já não é inédito, não é mesmo? Mas de marketing, a cantora entende! Foi em meio a essa onde de trazer novidade a algo que não é novo que nasceu All Too Well (10 Minute Version), que transformou a antiga música de Swift numa canção de 10 longos minutos que, por sua vez, deu base para nada mais nada menos do que um curta-metragem.
All Too Well: The Short Film, assim como as músicas de Taylor, vem contar ao público uma história de romance. O curta começa com uma citação de Pablo Neruda, que, em tradução livre diz: “amar é tão rápido, esquecer é tão demorado”, afirmando que nunca amaremos alguém por um tempo tão longo quanto o que levaremos para esquecê-lo. E já nesse momento, o espectador sabe que não trata-se de um romance qualquer, Taylor nos presenteia com mais um romance trágico. Em cena, vemos um casal interpretado por grandes nomes, Sadie Sink (Stranger Things) e Dylan O’Brien (Teen Wolf), algo que a princípio pode parecer desconfortável e até estranho devido diferença de idade entre os dois, mas, acredite, essa é uma escolha de cast completamente calculada. Eles aparentam felicidade, é claramente o início de um relacionamento e junto com a música a história do par começa a se desenvolver. Existe um ar de deslumbrados entre os dois e junto, às cores quentes e outonais, o curta te transporta para uma atmosfera de nostalgia e conforto, remetendo ao sentimento de lar e pertencimento, assim como diz a música.
Existe, então, um corte e as cores estão um pouco mais escuras, é a obscuridade de que talvez aquele relacionamento não seja o conto de fadas que parecia no início, existem diferenças que se escondem nas sombras, no caso dos protagonista, a maior delas, observa-se, trata-se do comportamento de ambos, como vêem a vida. Diante dos amigos, ele já não age com ela da mesma forma que antes. As luzes quentes já não estão mais presentes enquanto ela se sente sozinha em uma mesa de jantar cheia e nem mesmo quando ela o observa gritar no celular. E então a briga. Desentendimento ou manipulação? A atuação impecável dos atores, mostra claramente a segunda opção.
O calor das cores volta, mas, ironicamente (ou não) em uma das cenas podemos observar que a luz quente, representando sentimento, brilha apenas em Sadie, enquanto Dylan é iluminado pelo brilho frio e impessoal do refrigerador. É uma surpresa, quando o espectador é apresentado à cena do término, que naquele momento é tão inesperado para o observador quanto para a personagem feminina que, tão confusa quanto nós, não sabe dizer em que momento aquela conexão se perdeu, em que exato instante a luz dele deixou de brilhar tão quente quanto a dela.
E que show de atuação a partir daí, Sadie entrega no olhar o sofrimento que só alguém que já teve o coração partido é realmente capaz de entender. Ela tem a dor que não cabe dentro de si, ela se sente sozinha mesmo estando cercada de pessoas em festas, ou mesmo no seu aniversário. E por mais que o sentimento de solidão a assole, quando quer realmente estar sozinha, nunca está só, pois é assombrada pelas lembranças. Lembranças que dificilmente precisam ser encaradas para que a protagonista passe pela cura, para que volte a ser feliz e sorridente como no início do curta. Mas é possível voltar a ser como se era antes, se cada pessoa que passa por nossas vidas é capaz de nos mudar por completo? Essa é a pergunta de All Too Well.
No fim, após a dor das lembranças, o enfrentamento dos medos e a aceitação de tudo aquilo que se viveu e de que se permitiu viver, a resposta que paira sobre a obra é a de que é possível superar, mas não esquecer. As memórias fazem de nós quem somos, sejam elas boas ou ruins. E no caso da protagonista, essas memórias estarão para sempre eternizadas não só em sua mente, mas também nos livros em que ela escreveu durante os momentos de dor (no caso de Taylor, no álbum).
Bem, não é à toa que All Too Well: The Short Film (e todo o novo álbum) foi recebido de forma tão positiva, não só pelo público, mas também pela crítica, que o compara ao filme História de um Casamento (2019). Escrito e dirigido pela própria Taylor, que também tem uma parte pequena na atuação, o curta foi lançado mundialmente no dia 12 de novembro de 2021, e também contou com estreia em alguns teatros de Nova Iorque e, ainda, uma premiere com a presença de Taylor, Dylan e Sadie.
Finalmente, o curta é cativante do começo ao fim, tendo a cena da discussão como clímax da história e, claro, nos apresentando atuações de altíssima qualidade, que nos fazem mergulhar nos sentimentos dos personagens apresentados (Ela e Ele, como são chamados) e nos fazendo sentir como se estivéssemos assistindo não apenas uma história fictícia, mas também a construção e declínio do que entendemos como relacionamentos abusivos (dou ênfase novamente à manipulação e a diferença conflitante de idade dos personagens), carregando uma porcentagem de pessoalismo que não é fácil de se ver por aí. Em sumo, All Too Well: The Short Film mostra de forma clara como relacionamentos e pessoas são capazes de nos marcar e que, se traumas são difíceis de se superar, podemos ter certeza de que são impossíveis de se esquecer.
O curta não tem trailer, mas está disponível na integra e de forma gratuita pelo Youtube mesmo. Vamos colocar aqui o link original, que conta apenas com legenda em inglês, mas não é difícil encontrá-lo completamente legendado em português na mesma plataforma. Fica a dica!
Nota:
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