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Crítica: Altered Carbon

A série chega com um novo fôlego para o gênero cyberpunk

 

O sucesso financeiro do cyberpunk não é algo que pode ser tomado como garantido. Mesmo Blade Runner, que hoje se tornou a maior referência do gênero, foi um fracasso quando lançado. Altered Carbon foi o primeiro grande lançamento original da Netflix de 2018. É baseado no livro homônimo de Richard K. Morgan e foi um passo arriscado para a produtora e streaming, pois o conteúdo original violento e sexualizado não podia ser adaptado para uma ficção científica que poderia ser vista por toda a família – pelo menos não sem sofrer grandes alterações.

A série é ambientada em um mundo futurista onde a consciência humana é armazenada em pequenos implantes que podem ser transferidos de um corpo a outro – superando a morte e tornando o corpo apenas em um receptáculo para as memórias. É nesse mundo que somos introduzidos a Takeshi Kovacs (Joel Kinnaman), um rebelde revivido 250 anos depois da morte em um novo corpo para investigar o assassinato do milionário Laurens Bancroft (James Purefoy). A cidade é vibrante e colorida e não nego que isso chama a atenção e confunde em um primeiro momento. Mas a série foca mais na vida problemática da cidade, nos seus crimes e sujeiras. Os cenários ostentam grandes detalhes e não se limitam em momento algum, chegando até a parecer um pouco irreais.

O assassinato é o ponto de partida para mostrar o paralelo feito entre a perda da mortalidade com a perda humanidade, o que agrava as diferenças sociais e econômicas e criando uma guerra entre essas camadas. Enquanto obras do gênero usam isso apenas como plano de fundo para uma concentração da estética neon e carros voadores, Altered Carbon investe nas questões morais que são trazidas por esse novo mundo. Os temas explorados variam entre as consequências da imortalidade na mente e na ética, a evolução das tecnologias de realidade virtual e inteligência artificial e a relação dos fiéis religiosos com o mundo moderno. Questionamentos imergem também acerca de como vemos as pessoas que amamos e nosso apego emocional à aparência delas. – não explora a fundo as críticas sociais sobre contemporaneidade – sua preocupação é mais psicológica do que social. Com um futuro triste e solitário, os personagens buscam algum tipo de conexão.

Apesar de todos os pontos altos, a série tem um problema no desenvolvimento do roteiro. Ela introduz personagens a todo momento, mas não fecha todos os arcos de maneira ideal. São vários flashbacks em meio à narrativa, buscando mostrar o processo de transformação do mundo até aquele momento distópico. São muitos diálogos introdutórios, para explicar as regras daquele mundo, apenas para essas mesmas regras serem quebradas ou dobradas logo depois. E há diversos clichês inseridos que perturbam a coerência narrativa, mas que cumpre seu papel para aqueles que procuram lutas elaboradas e reviravoltas no último minuto. A parte visual da produção recebe uma cautela mais específica, que é bem valorizada nas ruas de neon, nas comunidades ricas e nos hologramas. Toda a estética visual de Altered Carbon tem uma qualidade impressionante, com certa influência de Blade Runner.

O elenco foi uma escolha certeira. Joel Kinnaman evita transformar o protagonista em um homem puramente vingativo e agressivo, sem transformá-lo em completa vítima. Ele salva até os diálogos clichês que surgem em alguns momentos. Seu personagem gera menos interesse do que a própria história, mas Kinnaman faz um bom trabalho com o que tem em mãos. Atrizes como Renée Elise Goldsberry foi destaque em seu papel e não se restringiu à vilã cartunesca como no caso de Dichen Lachman.

Não é a série mais inovadora, dependendo muito do imaginário criado pelo pelas obras que a antecederam (O Exterminador do Futuro, Blade Runner e outros). Mas  é inegável a ousadia e qualidade visual que a Netflix investiu no gênero. Altered Carbon tem o potencial para ser ainda mais empolgante e inúmeras possibilidades do mundo futurístico ser explorado em sua segunda temporada – já confirmada pelo serviço de streaming.

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=mKSDlkxAPZU

 

 

Nota da série:

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