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Crítica | Anna: O perigo tem nome

Fatalmente bonita: Anna usa esse artifício como auxilio na sua espionagem

 

Quando Luc Besson vem com um filme novo, já ficamos ansiosos para muito sangue, lutas e tiro. E com Anna não seria diferente. Óbvio que não é apenas disso que se trata – o diretor assina muitos filmes que marcaram a história do cinema (preciso citar Leòn: O Profissional?) e mostraram que filmes de ação podem ter roteiro magníficos e não só muito sangue como vinha acontecendo. Com Anna, a ideia de colocar uma supermodelo russa entre a KGB e a CIA parece ultrapassada, até Besson conseguir fazer isso de forma maleável e cheia de plot-twists

Interpretada por Sasha Luss, uma modelo russa, Anna é um filha de militares que acaba entrando em uma vida de abuso e pobreza na Rússia pós-União Soviética. Até que é descoberta, por um olheiro de uma agência francesa, vendendo Matrioskas numa feira livre. E aí começa a jornada para a cidade grande, trabalhos glamourosos e festas, mas também cheia de assassinato e espionagem. Anna foi criada pela KGB para ser essa mulher fatal em todos os sentidos, e Luc não cansa de explorar esse estereótipo. 

Com uma paleta de cores suave mas com algumas cenas cheia de contrastes, a representação da KGB mostra bem o que todo mundo imagina como era mas nunca conseguiu representar. O roteiro não tem a linearidade esperada dos filmes de Besson e acaba se revelando em camadas e mais camada ao longo do filme. Revelações e plot twists aparecem em cada uma dessas camadas – o que foi legal no início mas acaba transformando todas as cenas que começam a vir com uma expectativa digna de trailers. Prende o espectador, mas nem sempre a expectativa é atendida. Não se dá pra fazer reviravoltas de qualidade a cada 5 minutos, não é mesmo? Ainda assim, isso enriquece a trama de forma pouco vista nos cinemas atuais. A própria personagem tem sua construção baseada em reviravoltas e traições, e isso Luc fez bem.

A personagem de Hellen Mirren, apesar de durona, vem com um estigma maternal estampado na testa, a clássica personagem que faz o mocinho evoluir através da dor e do sofrimento. Uma líder da organização, Olga (Hellen Mirren) é a mulher que recebe Anna e a manda pro treinamento quando a mesma foi levada até a agência por Alex (Luke Evans). Aliás, o personagem de Luke Evans se mostra um mero fantoche da KGB e muitas vezes parece criado apenas porque Luc queria muito Evans em seu filme – inventou esse personagem que não se encaixa muito na trama, cujo o único papel de destaque foi levar Anna para o ramo da espionagem, e talvez também se destaque como um dos amantes de Anna. Artifício meio datado inclusive, já que se trata de um filme de 2019. 

Anna mantém não só um, mas dois amantes mais velhos, o agente da CIA, Lenny Miller (Cillian Murphy), entra em cena lá pela metade do filme, e a modelo e namorada de Anna, Maud (Lera Abova), se reduz a uma quinquilharia de enfeite nas cenas. No fim, se percebe que a luta de Anna por autonomia e para se livrar das garras das agências de espionagem com as quais se envolveu, mostra um roteiro cheio de mulheres sedutoras e homens que podem facilmente ser ludibriados por isso. Besson peca ao retratar sua protagonista de forma reduzida e sexualizada, e talvez tenha cometido mesmo erro que Francis Lawrence em Operação Red Sparrow. Com essas experiências, isso tudo me leva a creditar que a solução para os filmes sobre espiãs, seja trazer uma equipe de produção que não recorra a sexualização de personagens.

 

Nota do filme:

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