Com lutas empolgantes, mas roteiro meia boca, Gladiador II se sustenta nas sombras de seu antecessor, sem alcançar a mesma grandiosidade
O legado de Gladiador (2000), filme dirigido por Ridley Scott, para o cinema é algo indiscutível. O longa, embora não apresente uma temática das mais revolucionárias, serviu de paradigma para a forma como histórias épicas passariam a ser contadas desde seu lançamento.
O gênero, até aquele momento meio em decadência no cinema, foi revigorado pela produção estrelada por Russell Crowe, e sua fórmula replicada em inúmeros sucessos hollywoodianos nos anos seguintes, como é o caso de Troia (2004) e 300 (2006), por exemplo.
Agora, passados 24 anos, Gladiador II estreou nos cinemas, novamente sob comando de Ridley Scott e estrelado pelo queridinho do momento, Paul Mescal.
Na trama, após escapar de Roma para evitar possíveis vinganças decorrentes da morte de seu tio, Commodus, personagem interpretado brilhantemente por Joaquim Phoenix no primeiro filme, pelas mãos de seu pai e lendário gladiador Maximus (Russell Crowe), Lucius/Hanno (Paul Mescal), vê seu novo lar destruído por uma ofensiva do exército romano.
Levado a Roma como escravo e cego por vingança, Hanno contempla o mesmo destino de seu pai: tornar-se um gladiador. O foco de toda sua fúria é Acacius (Pedro Pascal), general do exército romano e atual companheiro de sua mãe Lucilla.
O elenco ainda conta com Denzel Washington, na pele do negociante de escravos, Macrinus, Connie Nielsen – para a alegria dos fãs do primeiro filme -, novamente dando vida à personagem de Lucilla, além de Joseph Quinn e Fred Hechinger na pele dos imperadores Geta e Caracalla, respectivamente.
Embora tente se firmar como algo único, fica claro desde as primeiras cenas que Gladiador II é sim dependente de todas as premissas de seu antecessor, só que, dessa vez, sem todo o brilho que fez do primeiro um instantâneo sucesso de público e crítica.
Em uma ânsia de ser profundo demais, o filme acaba abusando de diálogos inspiracionais, principalmente sobre os contextos políticos da época, o que faz dele mais raso que as águas das batalhas navais do Coliseu.
Aliás, a previsibilidade do longa é incômoda. Nos primeiros trinta minutos de tela, torna-se óbvio os rumos que a história tomará até o ato final. Logo, em nenhum momento o espectador é desafiado ou fica na expectativa de descobrir o que acontecerá na cena seguinte, porque todas as cartas já estão mais ou menos postas ali desde o início.
Ainda que o roteiro não seja o forte de Gladiador II, a produção não poupou investimentos para fazer com que a audiência realmente se sinta parte da Roma daquele período, com uma ambientação cenográfica bem feita e figurinos impecáveis. Além disso, as cenas de luta são realmente grandiosas e muito bem dirigidas, prendendo a atenção do início ao fim.
Outro ponto positivo que deve ser mencionado são as atuações. Paul Mescal entrega um bom trabalho como protagonista do filme, que apresenta nuances muito diversas de suas personagens em Normal People e Aftersun. Pedro Pascal faz um trabalho justo, mas parece não desvencilhar muito de seus personagens em Game of Thrones e O Mandaloriano. Enquanto isso, Connie Nielsen consegue, mesmo depois de tantos anos, absorver com facilidade Lucilla, personagem tão central para a trama em ambos os Gladiadores.
Porém, o brilho em cena fica todo a cargo de Denzel Washington com sua experiência, retratando a complexidade e ambição de um ex-escravo que consegue ascender à corte romana e que não mede esforços para manter sua posição; e dos Imperadores louquinhos, Geta (Joseph Quinn) e Caracalla (Fred Hechinger), dois amantes da crueldade que tem o mesmo senso crítico de um peixe.
Entretanto, mesmo com atuações excelentes, a sensação que perdurou ao assistir ao longa é a de indiferença com o destino daquelas pessoas, pois o filme falha no desenvolvimento de personagens cativantes e realmente interessantes, sendo uma mera reprodução da jornada do herói já tão explorada.
No fim, se seu objetivo é apenas ir aos cinemas para assistir homens lutando por um sonho de pátria, conhecer um pouco da Roma antiga e de quebra ainda se divertir, Gladiador II é uma boa pedida.
Nota:
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