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Crítica: IT – Capítulo Dois

Divertido e emocionante, mas sem grandes sustos, IT 2 conclui a história dos Perdedores 27 anos após o primeiro filme

 

Há quem diga que o maior horror está dentro de nós mesmos. E a primeira cena de IT – Capítulo Dois nos mostra o horror da realidade (com seus preconceitos e intolerâncias) se comparado à fantasia. Aqui, o palhaço Pennywise, interpretado por Bill Skarsgård, mal aparece em cena e o que vemos é uma pequena pincelada do que é a cidade de Derry na obra original de Stephen King. Escrito em 1981, It: A Coisa conta com mais de mil de páginas e uma adaptação em minissérie nos anos 90 e uma nova adaptação anos mais tarde, dividida em dois longa-metragens. A primeira parte, lançado em 2017, fez US$ 700 milhões em bilheteria, batendo o recorde de longa de terror mais visto de todos os tempos.

A segunda parte se situa 27 anos após derrotarem Pennywise, o Clube dos Perdedores são chamados de volta à cidade por Mike Hanlon (Isaiah Mustafa) ao suspeitar da volta do palhaço depois de alguns assassinatos. O longa traz características de um blockbuster contemporâneo, com uma demonstração de excessos ao longo dos seus 169 minutos de duração, e tenta lidar com a própria dificuldade de repetir a mesma experiência do filme anterior. Ele deixa de lado traumas sociais e os horrores do que é a cidade de Derry, seus preconceitos e tragédias. IT – Capítulo Dois revisita, explica e aprofunda o passado do Clube dos Otários, que no primeiro filme se mostram como um grupo inseparável, mas que agora os traumas individuais se sobrepõem.

O filme traz uma pincelada de ironia ao retratar repetições da história dos protagonistas, com Eddie se casando com uma mulher tão sufocante quanto a mãe (ambas interpretadas por Molly Atkinson), Bev se casando com um homem tão abusivo quanto seu pai, Richie mascarando seus traumas com sua  carreira de comédia stand-up e Bill se tornando um roteirista de cinema e romancista de terror. E não posso deixar de mencionar a atenção minuciosa na escolha do elenco adulto para que fossem fisicamente parecidos ao elenco mirim do primeiro filme (que havia sido, sem dúvida, sem dúvida, o ponto mais forte). Os atores, inclusive, tiveram o cuidado de passar os trejeitos de suas versões mais jovens e a conexão criada foi incrível.

Apesar dos flashbacks em excesso em certas situações, o filme soube lidar com essa mudança de ponto de vista, com transições suaves e criativas. O balanço entre horror e humor insinua um desequilíbrio, mas o drama ganha maior espaço ao longo do filme e o diretor Andy Muschietti mostra domínio do ritmo. Apesar de raramente assustar, o longa provoca diversas sensações no público – há momentos de gargalhadas, momentos de lágrimas, reflexão e até mesmo desconforto, como o preconceito contra homossexuais e violência contra a mulher. O clímax emocional, claro, é o confronto entre os Perdedores e Pennywise.

Os aspectos da produção (fotografia, trilha sonora, maquiagem, efeitos e desenvolvimento) são bem conectados dentro da proposta do filme. Ponto positivo aos movimentos de câmera para apresentar a impotência dos personagens, ainda se sentindo como as crianças assustadas do primeiro filme em certos momentos. Seu principal ponto fraco é a longa duração e é possível sentir essa dificuldade em certos pontos do roteiro. A escolha por abandonar alguns subplots é compreensível, mas a presença de Henry Bowers, no entanto, se torna desnecessária para o desenvolver da trama e conseguimos perceber como o roteiro tenta se livrar dele de forma rápida e razoavelmente coerente.

O filme é um pouco inconsistente, mas fascina ao explorar os traumas e oferece conclusão satisfatória. Apesar dos defeitos, a narrativa é bem estruturada o suficiente para disfarçar as quase três horas de filme, aprofundado os personagens que já nos conquistaram e nos mostrando o quão fácil podemos nos identificar a eles, seus medos e inseguranças. Ele deixa a desejar quanto à qualidade do primeiro longa, mas tem um ótimo elenco e certo aprofundamento nas emoções dos personagens apresentados. Pode não ser um bom filme de terror, mas não deixa de ser um bom filme em geral. Ele capta a essência do livro ao se apoiar no material original, mas nunca se prende completamente a ele.

 

 

Nota do filme:

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