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Crítica: Jackie

Natalie Portman encarna com louvor a mais amada das primeiras-damas estadunidenses

Não deixem esquecer, que uma vez houve um lugar, que por um momento breve e brilhante era conhecido como Camelot” – é como Jacqueline Kennedy termina a entrevista que concede a um jornalista no filme Jackie. Morto no desfile de sua chega à cidade de Dallas – Texas, o 35º presidente dos Estados Unidos da América deixou um legado – famoso até os dias atuais – de ter sido um grande mediador de conflitos, presidente durante o ápice da Guerra Fria, Kennedy ainda administrou a famosa crise dos mísseis. Mas o filme não trata desse Kennedy. O filme mostra a rotina e os acontecimentos dos dias do assassinato até o sepultamento do presidente através da visão da recém-viúva Jacqueline “Jackie” Kennedy.

A família Kennedy ficou no olho do furacão desses acontecimentos. O mundo virou seus olhos para eles e nada mais justo que o filme ser dirigido não por um norte-americano, mas por um estrangeiro. O diretor chileno Pablo Lorraín mostra ao mundo novamente a grandeza dos Kennedy, e que muito da construção desse legado não se deve só ao presidente – muito desse crédito deve ser entregue a jovem primeira-dama Jackie, interpretada por Natalie Portman.

A atriz foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz pela atuação que muito se assemelha em como foi a Jackie da realidade – o tom de voz, a alegância e os movimentos sutis conseguem ser muito bem captados pela atriz israelense. Mas apesar de excelente, acaba sendo quase caricata em alguns aspectos, como nas cenas da visita à Casa Branca, e o tom de voz sempre muito doce acaba se tornando um pouco forçado em alguns momentos, chegando a ser desesperador aquele sorriso o tempo todo no rosto.

O filme mostra uma faceta de Jackie pouco conhecida: uma mulher áspera, em alguns momentos nostálgica e ressentida, mas sempre decidida. Com muitos enquadramentos em primeiro plano, quase sempre a câmera está focada em Jackie e em seus movimentos. Os contrastes são muito presentes, principalmente em cenas dentro da Casa Branca. Também existem cenas gravadas em filme 35 mm, essas levam o espectador diretamente para os anos 60. A trilha-sonora dramática e perturbadora rendeu uma das indicações ao Oscar que o filme recebeu e consegue transmitir muito dos sentimentos de Jackie.

O primeiro plano consegue mostrar muito da Jackie cinematográfica. A cena em que a primeira-dama limpa o rosto sujo de sangue, no avião de volta para Washington, chega a ser desesperadora. Natalie Portman consegue passar em seu olhar algo que todos que assistem o filme acreditam que a Sra. Kennedy sentiu naquele momento. Não só nessa cena, mas também nas cenas em que Jackie conversava com o cunhado Bobby Kannedy – interpretado com louvor por Peter Sarsgaard – durante o planejamento do funeral. Mais de uma vez a recém-viúva fala do medo que sentia de ficar na miséria junto com os filhos. Em conversas com sua confidente e ajudante Nancy (Greta Gerwig), Jackie mostra seu lado mais frágil, que não podia deixar transparecer para os chefes de estado e homens poderosos que a cercavam. A prova disso é a decisão de ficar com o tailleur rosa, sujo de sangue até o momento que chega na Casa Branca – “Deixe-os ver o que fizeram” é o que diz a primeira-dama- e nessas cenas Natalie mostra a grande atriz que é.

A equipe de edição consegue fazer um incrível trabalho com os muitos cortes de cena. Entre a organização do funeral, o assassinato e a entrevista, diferenças Jackies são entregues ao público. Uma mulher à frente do seu tempo, naquela época uma das poucos figuras públicas que sabia usar a mídia e a televisão ao seu favor. As cenas da entrevista deixam isso bem claro – Jackie construiu a imagem dos Kennedy de forma tão impecável que os transformou em um modelo, mesmo que a história contradiz a felicidade do casal. O povo amava a família Kennedy, como o jornalista disse à Jackie “perder o presidente para o povo é como perder um pai, e você é a mãe“. O filme não levou estatuetas do Oscar para casa, mas entrega bem mais do que promete quando diz que vai mostrar uma nova Jacqueline Kennedy.

 

https://www.youtube.com/watch?v=vYAfwkwNpwI

Nota do filme:

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