O mais novo sucesso de Kenny Ortega traz números musicais viciantes e um enredo que entretém
Não é novidade que a indústria cinematográfica e produções televisivas estão apostando mais na memória afetiva e na nostalgia. Filmes como Missão Pijamas que lembram-nos dos vários Pequenos Espiões e adaptações de Para Todos os Garotos Que Já Amei que nos dão a mesma sensação que os romances lançados na década de 2000. Há também as produção que não só utilizam dessa nostalgia como base, mas também pegam uma antiga produção que fez sucesso há muitos anos e fazem um reboot, com novos enredos, mais personagens e pautas sociais atuais – Gilmore Girls, Cobra Kai e Fuller House são bons exemplos disso. Mais atualmente a Netflix lançou Julie and the Phantoms, um remake da série brasileira Julie e os Fantasmas, produzida pela Band e Nickelodeon em 2011.
Kenny Ortega é o nome por traz da adaptação americana. Conhecido principalmente por Abracadabra, High School Musical e Descendentes, sabemos que podemos esperar desta nova série da Netflix muita música e um enredo que segue jovens da mesma idade que seu público alvo. E preciso dizer que Julie and the Phantoms entrega tudo isso com perfeição. Ela pega a premissa original – uma garota adolescente que libera três fantasmas músicos ao encontrar um CD antigo e os quatro formam uma banda – e acrescenta subtramas que fazem o expectador se prender ainda mais. Quando os fantasmas Luke (Charlie Gillespie), Reggie (Jeremy Shada) e Alex (Owen Patrick Joyner) descobrem o talento musical de Julie (Madison Reyes) e que ela consegue os tornar visíveis, eles a convidam para participar da banda.
A produção traz um elenco competente, com atores novatos – Madison Reyes fez sua estreia no papel de Julie Molina tão convincentemente que é difícil acreditar que nunca atuou antes – e outros que já trabalharam em filmes musicais – Cheyenne Jackson, o nosso vilão, Jadah Marie e Booboo Stewart já trabalharam com Ortega no mais recente filme de Descendentes. A química entre Madison e os garotos da banda está em cada cena e a cada música juntos. A representativa está presente não apenas no elenco com pessoas negras e uma protagonista latina, mas também em um personagem abertamente gay – sem aquela indecisão que muitas produções colocam, ele apenas é. Uma das coisas que mais atrai nessa série é como não usam a sexualidade dele ou as origens de Julie como tópicos usados pelos diferentes antagonistas.
A abordagem de assuntos sérios faz um equilíbrio com os momentos de comédia. A série não é feita só de piadas bem introduzidas e números musicais que nos tiram do chão. Ela trata de amizade, lealdade, luto e ansiedade de forma delicada e com seriedade. Há momentos que, mesmo sem ter explicitado, nos faz pensar como poderiam ter sido a vida dos garotos antes de morrerem. Acompanhamos como Luke ainda se culpa como deixou assuntos mal resolvidos com seus pais e nos garante um solo emocionante que nos leva às lágrimas – e, apesar de não ter sido aprofundado, temos através das interações dos personagens alguns flashes de como Alex e Reggie não tiveram relações fáceis com os pais e como a banda se tornou uma família.
E, claro, não posso deixar de mencionar as músicas. Desde o rock de Now or Never da banda antes de morrer, ao pop de Wow e All Eyes on Me da antagonista popular do colégio, e à apresentação fenomenal do vilão com The Other Side of Hollywood, a série traz diversos números musicais viciantes. Não apenas a banda formada pelos protagonistas tocam várias baladas eletrizantes como há solos de Charlie Gillespie e Madison Reyes (e também um dueto dos dois) que arrancam algumas lágrimas. Não é à toa que o álbum está fazendo sucesso nos aplicativos de streaming de música.
Julie and the Phantoms não é uma série perfeita – principalmente para os adultos. Ela deixa pontas soltas e nos obriga a fazer perguntas. Mas é o tipo de série que vai encantar seu público-alvo infanto-juvenil e puxar a nostalgia dos jovens-adultos. Ela entrega o que foi prometido e vai além, além de entreter com seus poucos e pequenos episódios e nos deixa ansiosos por mais.
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