Você está visualizando atualmente Crítica: Ricos de Amor

Crítica: Ricos de Amor

O que podemos esperar de mais uma comédia romântica brasileira clichê?

Ricos de Amor conta a história do jovem Teto (Danilo Mesquita), filho de um milionário conhecido pela plantação e empreendimento de tomates, que começa se mostrando muito favorável às vantagens que todo o dinheiro tem para oferecer a um homem hétero cis branco de sua idade: festas, carros, garotas e trabalho garantido, sem o mínimo esforço. Porém, sua vida muda inesperadamente ao conhecer a chamada “mulher da sua vida”, a estudante de medicina Paula (Giovanna Lancelotti), que se mostra muito diferente do moço pelo seu jeito prático e pé no chão; ou seja, mais uma vez o milionário alienado se apaixonou pela mocinha trabalhadora, seria fofo se não fosse trágico ver mais uma vez a mulher desempenhar um papel de instrumento corretivo do homem cafajeste.

A obra estreou na Netflix em 2020, o que torna injustificável a manutenção de papéis obsoletos e a forma desastrosa como lidaram com o arco de assédio da principal pelo médico mais velho, enquanto no mesmo enredo vemos o melhor amigo de Teto vivendo a mesma situação de assédio no trabalho e sendo romantizado, tratado como engraçado. Ambas as situações passam pelo mesmo contexto, ambas são completamente erradas e antiéticas, mas no caso da chefe assediando o estagiário e isso sendo tratado como um ótimo princípio de casal, só mostra uma estrutura machista gritante na construção do pensamento e execução do filme. Automaticamente, um menino tímido precisa estar aberto aos avanços de uma mulher mais velha que assume o papel de sua chefe? Só porque ele é mostrado como um cara inexperiente? Claro que não, assim como Paula não se rende nenhum minuto ao seu assediador, mostrando o desconforto e constrangimento dessa situação.

Outra coisa incômoda na história, mas comum nos clichês, é o fato de Teto conhecer a moça em um único dia e, logo após, decidir largar tudo no interior e ir atrás dela na cidade grande, sem ter nenhum indício de onde poderia encontrá-la. Esse comportamento stalker é muito romantizado em filmes do gênero, porém, no final das contas, Paula teve dois assediadores, mas claro que em níveis diferentes e o fato dela se interessar pelo segundo; sendo que o milionário inventou um personagem para se aproximar dela, um relacionamento que teria tudo para dar certo (só que não), se não tivesse começado a base de mentiras e uma obsessão mimada de um garoto rico buscando aquilo que não pode ter.

Não existem somente elementos ruins no filme, mas os erros graves são muito maiores do que as partes boas provenientes do gênero comédia romântica: o casal de mundos diferentes, cena de troca troca em jantares, personagens interpretando outros para corroborar com a mentira, o melhor amigo desastrado… A melhor personagem é a ex- funcionária da empresa de tomates, Monique (Lellê), que desde o início se mostra merecedora de tudo que conquistou e ainda tem que aguentar o mala do principal a usando como treinadora de caráter também, mais uma mulher foda que assumiu um papel de alavancagem para o homem medíocre passar a ser visto  como o herói da história.

Comentários

Autor