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Crítica: Sob a Sombra ou À Sombra do Medo

O terror da guerra com uma face sobrenatural

Sob a Sombra, filme de terror do cineasta iraniano Babak Anvari, é ambientado na capital do Irã, Teerã, durante um período da Guerra Irã-Iraque conhecido como a Guerra das Cidades. O diferencial da obra em relação a muitos filmes que se passam durante as guerras no Oriente Médio é que no longa os personagens não são soldados que precisam cumprir missões e depois voltarem para suas casas. Shideh e sua família vivem naquela região sem preparo para lidar com um ataque, então quando o bombardeio inicia ele força-os a saírem daquele apartamento que é o lar deles. Há aqui um paralelo implícito  entre os ataques aéreos e os eventos sobrenaturais, ambos tornaram um lugar que apesar de seus problemas era considerado seguro em um ambiente ameaçador. 

Assim que um bom terror é construído, pensado naquilo que já nos atormenta na vida real e remodelando esses medos em algo novo. Ao misturar o terror real com o sobrenatural, a obra adiciona uma camada a mais de terror aos elementos que já conhecemos como o suspense de roer as unhas e os famosos jumpscare. É a velha história da casa assombrada no meio de uma das piores guerras do Oriente Médio. Porém, antes mesmo dos ataques chegarem a capital, a vida da protagonista já se mostrava difícil. 

Os primeiros minutos do filme mostram como que o governo iraniano pós-revolução afeta a vida dos cidadãos, em especial das mulheres. Os aspectos da personalidade de Shideh e do cotidiano da personagem são apresentados de forma fluida sem gerar cenas que não conversam com o resto do filme. Um exemplo disso é a preocupação dela com as janelas que não é apenas um detalhe que colocaram só para caracterizar a realidade da personagem e para depois ignorarem, algo que muitos filmes fazem. Esse é um problema que acompanha a iraniana e que mais adiante causa uma das ótimas cena de suspense do longa.

Quando as bombas começam a chegar em Teerã, a relação dela com o marido que está fora trabalhando começa a conflitar ainda mais, entretanto é a dinâmica dela com a filha que mais chama atenção. A perda da boneca em contraste com as consequências do bombardeio abre um desafio para mãe. Como dar atenção para o problema da filha com tanta coisa acontecendo? A vida de pessoas em regiões em conflito continuam apesar da guerra e mesmo quando os eventos paranormais começam a aparecer, a vida de cada personagem segue com mais esse problema. Os atritos da mãe com a filha gerados pelo Jinn, entidade que assombram elas o filme todo, são de partir o coração gerando empatia no público ao mesmo tempo que ajudam a aumentar a tensão e o suspense da obra. Sob a Sombra mostra que nem toda história fantasiosa precisa fugir da realidade, o diretor Babak Anvari manteve um pé no chão e o outro na fantasia sem perder o equilíbrio. O cineasta fez um ótimo trabalho em seu primeiro longa-metragem, muito provável, este é o melhor filme de terror do catálogo da Netflix que mudou o seu nome para À Sombra do Medo.

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