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Crítica: Sombra e Ossos – 1° temporada

Personagens carismáticos e direção de arte impecável – A combinação perfeita para uma excelente série de fantasia

Atualmente a Netflix vem apostando em algumas séries de fantasia ao melhor estilo Game of Thrones. Cursed – A Lenda do Lago, Lunanera e The Witcher são algumas das recentes produções lançadas pela plataforma. Sombra e Ossos, último lançamento, tem chamado bastante atenção do público e da crítica e vêm conquistado fãs mundo afora. 

Inspirados nos livros do Grishaverse da autora Leigh Bardugo, a produção se passa em Ravka, país baseado na Rússia czarista, em que elementos fantásticos e a mitologia são abundantes. A trama principal fica por conta de Alina Starkov (Jessie Mei Li), uma jovem cartógrafa que descobre ser uma Grisha – pessoa que pratica a pequena ciência. Enquanto a maioria dos grishas consegue controlar elementos como fogo, água ou vento, ela é de um tipo muito raro e possui a habilidade de conjurar o sol, o que a eleva imediatamente ao status de divindade, já que apenas ela seria capaz de destruir a Dobra das Sombras – zona turbulenta de escuridão infestada de monstros que divide a nação em duas. Separada de seu melhor amigo Malyen Orstev (Archie Renaux), inexperiente e com a pressão de salvar a todos pesando sobre seus ombros, ela começa sua jornada. Paralelo a isso temos ainda outras três tramas que vocês conhecerão em breve! 

A série não se delonga em explicações sobre esse mundo fantástico, o que pode ser bastante confuso para aqueles que, assim como eu, não conheciam a história previamente. Devido a esse ritmo, o primeiro episódio demora a engatar e se mostra um pouco denso. A obra se abstém de muitas informações e nos apresenta toda a complexidade desse mundo gradualmente. Isso prejudica a compreensão de novos espectadores, que podem não entender corretamente a importância ou o significado de certas coisas. Entretanto, aos poucos, conseguimos inferir o significado de termos e elementos a partir do seu uso nas cenas e do próprio contexto.   

Mesmo se tratando de uma trama fantástica, optou-se por trazer um viés mais humano, apresentando uma leve crítica social. Além da representatividade através de personagens asiáticos, negros e de relacionamentos homossexuais, em seu próprio enredo se fazem presentes atritos e perseguições para com outros grupos. Indo em contra a maioria das produções de fantasia, que abarca várias espécies, a população de Sombra e Ossos é totalmente humana, mesmo que alguns deles possuam a habilidade de controlar a pequena ciência. Então, ao abordar a tensão racial, a série consegue se aproximar da realidade de seu espectador. Explora-se não apenas o preconceito para com os Grishas, mas a discriminação étnica. Por suas características do povo Shu (um reino inimigo), mesmo sendo uma Ravkan, Alina é vítima de intolerância.

Uma das maiores qualidades da produção é a direção de arte. A estética que compõe o universo fantástico, ambientada na Rússia czarina, ganha pontos por fugir do já esperado para obras de fantasia. O cuidado com os detalhes é um deleite e torna o mundo da série rico e encantador. Os figurinos dos personagens, as cores utilizadas para compor os ambientes, as locações monárquicas, as florestas invernais e todos os elementos nos transportam e nos possibilita imergir nesse universo. 

Entretanto, o maior acerto da série, sem sombra de dúvidas, é a escalação do elenco. A trama traz atores já conhecidos pelo público, como é o caso de Ben Barnes (As crônicas de Nárnia) e Zoë Wanamaker (Harry Potter), mas, é composta majoritariamente por rostos novos. Além da diversidade no elenco, eles são extremamente carismáticos, dinâmicos, têm muita química em cena e conseguem brilhar em seus papéis. Nota-se a criatividade da autora na elaboração de cada um dos personagens, visto que, apesar de muito diferentes uns dos outros, todos têm um carisma excepcional e contam com trajetórias interessantes, o que colabora para que embarquemos na série.

Como já mencionado, existem ainda outros três arcos. O primeiro vai de encontro ao principal, já que se trata de Mal – o melhor amigo de nossa protagonista e rastreador talentoso, e sua missão em reencontrá-la. Enquanto isso não acontece, a história dos dois é muito bem construída através de flashbacks. Essas pequenas cenas nos fazem ansiar por conhecer mais acerca da amizade dos dois e torcer para um reencontro bem sucedido. 

Os dois outros núcleos trazem os protagonistas de outra série de Bardugo – Six of Crows, embora nem todos estejam presentes. Nina Zenik (Danielle Galligan) e Matthias Helvar (Calahan Skogman), vivem uma história já conhecida nos livros – um esperado enemies to lovers cheio de reviravoltas e surpresas. Como último plano, a obra nos apresenta a cidade de Ketterdam – inspirada em Amsterdam, introduzindo Kaz Brekker (Freddie Carter), Jesper Fahey (Kit Young) e Inej Ghafa (Amita Suman), uma gangue de criminosos mais conhecidos como Corvos. A série trouxe uma trama inteiramente original para estes, até mesmo para aqueles que já conhecem os livros. O trio de mercenários roubou a cena e se tornaram os favoritos da maioria dos fãs da série. Cheios de nuances e camadas, os personagens nos instigam a querer saber mais sobre seus passados e futuro. 

À medida que os arcos começam a convergir, a narrativa se torna mais interessante e os personagens se desdobram ainda mais. Sombra e Ossos gera dúvidas sobre em quem confiar a todo o tempo e apresenta personagens cheios de camadas, afinal, ninguém é apenas bom ou mau. O vilão é tão bem construído que tardamos demasiado em perceber suas intenções, contudo, podemos entender suas motivações.   

A adaptação realizada por Eric Heisserer, mesmo repleta de clichês do gênero fantasia, consegue se destacar graças ao elenco perfeito, assim como o seus desenvolvimentos e de suas relações cheias de nuances. Prova disso são os 86% de aprovação da crítica e 91%  do público no Rotten Tomatoes. Devem ser ressaltados, ainda, a direção de arte impecável e os finais de cada episódio, que nos impelem a querer saber quais serão as próximas aventuras desses personagens tão caricatos. Vale a pena conferir! 

Nota da série:

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