Você está visualizando atualmente Crítica| The Last Of Us

Crítica| The Last Of Us

A arte de conseguir expandir e melhorar uma história consagrada

The Last of Us foi a grande aposta da HBO e um dos maiores lançamentos dos últimos anos.

Trazendo um elenco de peso, com Pedro Pascal interpretando o Joel e a/o Bella Ramsey interpretando a Ellie, somos jogados em uma história em um mundo devastado por um fungo e seus personagens com traumas e camadas. Começando com o Joel, vamos acompanhar o começo do surto e também o preço que ele pagou no meio do caos, pois acaba perdendo sua filha e assim, somos puxados para 20 anos no futuro, um mundo onde militares tentam manter pequenas zonas seguras e lutam contra um grupo específico chamados de vaga-lumes. Joel e Ellie acabam se conhecendo por causa desse grupo, ele é contratado para levá-la até um local seguro, pois aparentemente ela pode ser a cura para essa doença, ou seja, ele é o carregador e ela é a carga.

Fonte: Internet.

Da mesma forma que o protagonista, o telespectador também está conhecendo a Ellie naquele momento, algo que como é dito no documentário de criação do jogo, é intencional, para o seu lado afetivo crescer junto com o Joel, para que esse apego seja de certa forma compartilhado. E essa é outra grande questão ao redor dessa série e que não pode ser ignorada, ela é baseada em um jogo de 2013 do mesmo nome, um dos maiores lançamentos da indústria dos últimos anos, idolatrado e amado por conta do seu enredo e personagens, mas enquanto no jogo existe longas cenas de tensão e ação bruta, aqui existe um espaço muito maior para ser focado na história que tá sendo contada e em aprofundar esses personagens da trama, criando até mesmo espaço para alterações e trechos retirados, apenas para criar um enredo muito mais forte e até mesmo coeso. E, no entanto, uma obra que também sofre pelo seu antecessor, pois no momento que ele é um jogo cruelmente amado, as alterações da série logo não são tão vistas com bons olhos, algo que caberá ao espectador decidir. Mas, é uma história que não tem medo de apresentar toda diversidade de pessoas, como pessoas LGBT+, que é o caso da Ellie e obviamente causou muito desconforto aos preconceituosos, porém, a série retratou até o fim com delicadeza esse ponto sensível da vida de tantas pessoas e não teve medo de bater de frente com essa parte do público, mesmo sabendo que muitas notas negativas surgiriam apenas por esse fato, já é hora de continuarmos mostrando nossas histórias para o mundo, mesmo que eles ainda não sejam capazes de compreendê-las, vão ter que aceitar nossas existências e os espaços que estamos conquistando.

Fonte: Internet.

Retirando esse elefante da sala, podemos continuar falando da série. Ela conta com uma trilha sonora e direção espetaculares, é notável todo cuidado com a criação das cenas e desse mundo, tentando fazer que tudo funcione e tenha um determinado significado, com uma fotografia capaz de tirar o fôlego e cenários vislumbrantes, é aterrorizante e incrível toda forma que esse mundo destruído é apresentado, pois boa parte da população provavelmente se encontra morta, mas é um mundo belo, com natureza pelos cantos, animais existindo, a forma como a terra girou demonstra sua magnitude e como nossa existência é insignificante no geral, mas como ela também é extraordinária. Vamos encontrar prédios destruídos, cidades abandonadas, mudanças das estações, locais que parecem inabitados pelo homem, pequenas partes do mundo que carregam fragmentos para lembrarmos de como esses locais funcionavam na nossa realidade e como eles funcionam com a natureza tendo liberdade de tomá-la, é um retrato interessante e contínuo, como observar o nosso mundo pelo reflexo de um lago, é extremamente similar e brutalmente diferente.

Apesar dos zumbis (eles não gostam muito dessa palavra, mas enfim, meu texto) é uma trama sobre moralidade, luto, traumas, primeiras experiências, os piores lados do homem e até mesmo sobre reencontrar o amor e a esperança. Até mesmo sobre o começo da narrativa, quando Tess, uma mulher que acompanha o Joel, mesmo quando ela deixa de ser um personagem fisicamente presente na trama, sua essência continua lá, como uma voz invisível no ombro do Joel e do telespectador, questionando o que realmente importa e quais caminhamos seguir, questionando aquilo que realmente queremos e ficamos assustados na possibilidade de dizer, pois isso torna real e a realidade pode ser cruel, pode ser arrancada de nós. Mas, ela também pode nos ser dada. Apesar dos tiros e combates, é sobre acompanhar o crescimento emocional desses dois protagonistas, como confiança é criada, como o amor é genuíno e inexplicável, como nos curamos do nosso passado sem perceber e apenas quando decidimos aceitar que ele já passou, não podemos continuar carregando um relógio quebrado como símbolo da nossa alma.

Envolve lutas políticas, a demonstração de outras formas de governo e de distribuição, até mesmo de como as armas sempre são um problema que precisa ser lidado, ainda mais com a visão endeusada que foi criado ao redor delas nos últimos anos, como os atos do capitalismo no mundo causam danos graves no planeta e como somos atingidos por isso(apesar de fecharmos os olhos para essa questão).

Poderia ter sido uma temporada falha e clichê, mas ela trata de forma tão sincera sobre esses diversos temas, seja num episódio focado num casal homoafetivo e como eles criam sua própria vida em um mundo controlado pela violência, fazendo o seu melhor apesar de carregarem suas sombras e discussões.

Fonte: Internet.

Ou em episódios que focam em pessoas sendo consumidas pela raiva ou desespero. Não é uma série focada em te entregar um lado certo e errado, pois no mundo, muitas vezes, esses lados não são definidos pela moral, apenas pelo poder, aquele que vence é consequentemente o certo e acabou. É uma história focada em te entregar personagens, histórias, visões de mundo e escolhas, e como só podemos lidar com suas consequências, e como elas afetam todas pessoas que amamos.

É sobre o quão complexo relações humanas são e como os nossos sentimentos são capazes de impactar toda nossa vida, fazer que façamos coisas questionáveis, pois apenas uma única ou um seleto grupo de pessoas importam, é sobre como violência é facilmente encontrada em todos nós, basta os gatilhos corretos e somos capazes de coisas horrendas, é sobre o simples prazer pela vida e a nossa inquestionável capacidade de continuar procurando um significado ou motivo para existir.

Trailer:

Nota:

Veja Também:

Steven Universo e a loucura de ser você mesmo

Nossa busca constante pela perfeição

Close e o ambiente escolar

Comentários

Autor