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Da missão Marte Um para o Cinecom

Tudo sobre a sessão especial Marte Um + uma entrevista exclusiva com a atriz Rejane Faria

Por Paloma Fagundes e Sara Mendes

No dia 27 de novembro, o auditório Fernando Sabino, na cidade de Viçosa, foi tomado por uma multidão de pessoas para assistir ao filme que representou o Brasil no Oscar 2023. O longa mineiro mostra o dia-a-dia de uma família negra de classe média baixa na periferia de contagem, região metropolitana de Belo Horizonte. Entre trabalhos, utopias, amores e traumas, os Martins tentam seguir vivendo no Brasil em meio a ascensão de um governo opressor. Enquanto isso, Deivinho, o filho mais novo da família, tem um sonho: colonizar Marte.

Na reta final da gestão de 2022, o Cinecom, mais uma vez, assumiu o desafio de contactar produtoras nacionais a fim de exibir, de forma exclusiva, um filme brasileiro e extremamente relevante para o nosso público.

É sempre uma ansiedade para os membros do projeto organizarem sessões deste porte, contudo, sempre vale a pena. Mesmo com uma chuva de assustar muita gente, nossa audiência não se deu por vencida e, por volta das 18 horas, filas começavam a se formar na recepção do auditório pois todos queriam garantir uma boa poltrona e prestigiar Marte Um pelas telas do Cinecom. A equipe de redação já começava a se preparar para a distribuição da Revista Curta, o time de audiovisual testava o som, telão e vídeos para serem exibidos antes do filme. Marketing estava incansavelmente trabalhando na cobertura da sessão para as mídias sociais e rádio se organizava com a playlist que iria colocar-nos na vibe do filme. Por fim, com fotógrafos extremamente talentosos, ajustando seus focos para registrar todos os momentos, o público pôde entrar.

Todos a postos e devidamente acomodados, as caixas começavam a ecoar os sons da primeira cena. 1 hora 55 minutos e muitas lágrimas depois, todos no auditório se levantavam para aplaudir intensamente a incrível produção do diretor mineiro Gabriel Martins.

Persistência e sonhar alto são características tanto do protagonista quanto do diretor. Com Marte Um aprendemos sobre diversidade, confiança e, sobretudo, amor. Amor de família, de amigos, paixões e amor ao nosso país. A luta por um Brasil melhor, em que pessoas como Deivinho possam sonhar, livres da opressão, independente de qual seja o sonho ou de onde tenham vindo. Com uma fotografia deslumbrante e um roteiro tão real, é quase impossível não imergir dentro da história, se identificando com momentos e personagens. A trilha sonora original de Daniel Simitan para o longa foi premiada com o Kikito de Ouro no Festival de Cinema de Gramado, um dos mais prestigiados do Brasil, o que não nos surpreende, devido a sua qualidade técnica.

Em relação ao elenco, temos apenas elogios. Com atores imensamente talentosos nos brindando com seu magnetismo em todas as cenas, o destaque fica com o sonhador Deivinho, interpretado por Cícero Lucas e com Rejane Faria, que interpreta a mãe da família, Tércia. Com uma capacidade interpretativa impressionante, a atriz consegue transmitir para o público cada sentimento que sua personagem vivencia. Como presente para nossos leitores que aqui estão, fiquem agora com uma entrevista exclusiva com Rejane Faria para o Cinecom:

Rejane Faria – Reprodução Internet

Qual foi a melhor parte de interpretar a Tércia?

A construção da personagem que foi se dando ao longo das filmagens, a partir de cada experiência dela. Eu pensava em algo, e deixava fluir em casa, no contexto junto com o diretor ou atores parceiros, isso ia caracterizando alguma verdade para ela, e isso foi muito bonito de ver depois, o que se tornou. 

Quais foram os principais desafios durante a produção do filme?

Tentar configurar o todo. Isto é muito difícil quando você não filma em cronologia, e também quando alguns aspectos da história somente o diretor sabe. A curiosidade é instigando, mas também angustiante, e você só tem essa noção ao ver a obra pronta.

O que foi mais gratificante pra você depois do lançamento do filme?

A comoção coletiva. Saber que no mundo em todos os lugares que Marte Um era e é exibido, tocamos todas as pessoas no mesmo lugar: o coração.

Qual a importância de apresentar pras pessoas a realidade de uma família mineira dentre as muitas desigualdades que estruturam a sociedade brasileira?

A de dizer que somos iguais, independente de classe social, etnia ou geografia. Todos passamos pelas mesmas tensões existenciais, só que as administramos talvez de formas diferentes, o que faz da família Martins um diferencial, porque a sociedade acha que sempre iremos resolver nossas questões por meios duvidosos, e não é assim.

Na obra são pai, mãe, filha e filho que atravessam uma série de crises internas e reflexos da turbulência brasileira atual. Como você lidou com esse conflito de sentimentos e dificuldades na caracterização da sua personagem?

Como mulher que vivencia essa mudança de gerações e comportamentos femininos, ou seja com um pé na estrutura imposta e outro nas mudanças femininas. Tercia agrupa, protege e sonha junto com os seus e ao mesmo tempo se arruma, trabalha fora e se diverte na sua solidão, da mãe que não é vista pela família e nem pela sociedade. Mas ela consegue ainda tirar desses conflitos força e afetos para manter sua família em harmonia e sobreviver ao caos interno que toda família passa e às interferências externas que os movimentos políticos causam dentro de sua casa.

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