A idade em que você começa a magoar e ser magoado
O diretor Sean Wang conta que se inspirou muito em sua própria adolescência para realizar o roteiro de Dìdi. Biográfica e crua, a obra consegue transmitir o quanto é complicado ser jovem, principalmente no começo dos anos dois mil, quando ainda estão entendendo como usar o YouTube, para além de postar vídeos de coisas explodindo.
“Dìdi”, a maneira carinhosa que a família de Chris Wang se dirige a ele, em taiwanês é uma expressão comumente usada para se referir ao filho mais jovem da família, palavra irmã da expressão brasileira “caçula”. Dìdi é apenas um dos apelidos que Chris recebe, Wang-Wang e Half-Asian são outras maneiras pelas quais ele é chamado. A variação constante na sua alcunha combina perfeitamente com a inconstância da fase da vida pela qual está passando.
A trama se desenrola como um novelo sendo passado por uma roca na esperança de fazer um fio cada vez mais fino, mas sem perder sua consistência. Essa mesma esperança é sentida no passar dos minutos do filme, o tempo todo Dìdi tenta fazer a melhor escolha, ser melhor, só que é um desafio extremamente difícil mudar sem perder o forma.
O início do longa é serpenteado pelo grupo eclético de amigos do protagonista e sua família, composta por mãe, avó (sogra da mãe) e irmã. Apesar de ser criado por mulheres, não há ser mais intimidador para Wang-Wang do que meninas da sua idade.
O pai está longe, trabalhando em Taiwan e mandando dinheiro para que a família se mantenha nos Estados Unidos. A mãe tenta (e tenta e tenta) deslanchar sua carreira de artista, enchendo a casa de quadros pintados a mão. A irmã está super animada com a iminente ida para a universidade no fim do verão. A avó arranja todos os motivos do mundo para implicar com a nora e paparicar os netos.

Dìdi (2024) se apresenta como um filme dramático e consegue passar longe de ser um dramalhão que força lágrimas, até por que se elas vierem vai ser muito mais por causa das infindáveis explorações que o diretor faz dos personagens do que pelo excessivo número de lances trágicos. Muito humano em seu drama, se você não tiver pulado a fase adolescente rebelde da vida, haverá diversos pontos de identificação no decorrer da história.
Quando Sean Wang pensou em como contar essa história, ele claramente queria aproximar a câmera daquela idade em que você começa a magoar e ser magoado. Além disso, Dìdi também trabalha com aqueles momentos que parecem o fim do mundo, mas são só ansiedade juvenil somada ao descobrimento das consequências. A adolescência é a pura fase dos nervos explodindo, todo mundo sofre com isso e Chris Wang é um alter ego que trás em si a essência disso.

Confira o trailer:
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