Você está visualizando atualmente Euphoria e a representação – quase – fiel de uma geração
Reprodução: Internet

Euphoria e a representação – quase – fiel de uma geração

Euphoria chegou em 2019  causando polêmicas e reflexões, mas o que mais toca é o quanto essa série fala sobre a realidade de uma geração

 

A série estadunidense da HBO Euphoria foi, sem dúvidas, uma das grandes surpresas de 2019. Sob a direção de Sam Levinson, a série conta a história de Rue, interpretada por Zendaya, uma adolescente recém saída da reabilitação e que está tentando reorganizar sua vida depois de seu histórico de abuso de substâncias e que agora tem que reconquistar a confiança da mãe e da irmã mais nova, voltar para a escola e ainda lidar com o fato de que era ainda não está 100% livre das drogas.

A história da trama é baseada na série israelense homônima e na vida do próprio diretor, o que leva ainda mais realidade para os dilemas de Rue. A interpretação de Zendaya é um ponto alto também, papel completamente diferente do que ela estava acostumada – como a doce MJ de Homem-Aranha e seus papéis na Disney -, além dos outros atores da série que também chamam muita atenção. Como é o caso de Hunter Schafe, que teve sua estreia como atriz interpretando a Jules, melhor amiga e interesse romântico de Rue, e Jacob Elordi que interpreta Nate Jacobs, um dos personagens mais controversos da série.

Mas Euphoria se destaca principalmente por seus temas tão atuais e verdadeiros. Rue começa a série saindo de uma reabilitação, Jules foi abandonada pela mãe por ser trans e Nate tem problemas com o pai – dilemas tão verdadeiros e do dia a dia que fazem com que assistir a série pareça ser estar vendo uma porção colorida de glitter e luzes roxas da realidade. Esse aspecto da sinceridade inclusive incomodou a alguns: um abaixo assinado de um conselho de pais dos EUA passou a circular nas redes sociais pedindo o fim da série, principalmente depois do episódio em que Rue quebra a quarta parede e explica a diferença entre os nudes masculinos mostrando fotos explícitas de pênis.

No entanto fica claro que Euphoria é uma série sobre adolescentes, não para adolescentes. Os conflitos são os cotidianos da vida dos jovens, mas a forma como são abordadas são explícitas e brutais, fazem com que você se apegue aos personagens, mesmo aos que você provavelmente deveria odiar, porque você sofre junto com eles. Saúde mental, transsexualidade, aborto, vício em drogas e tráfico – pautas que são atuais e que a série aborda com o máximo de clareza possível. Euphoria não deixa meias palavras.

Cabe dizer que o apelo estético da série por vezes também faz acreditar que certos temas podem ter um glamour que eles na realidade não possuem. Euphoria é bonita de se ver e ouvir – a produção musical do artista Labrinth dá outro tom a série, principalmente nos momentos finais do último episodio – e isso pode acabar gerando dualidades de interpretação. Em uma das cenas em que Rue faz o uso de alucinógenos, o que culmina em sua recaída na sobriedade e numa série de eventos ruins, é com certeza uma das cenas mais bonitas esteticamente de toda a trama. Essa beleza em oposição a dor e a crueldade do momento e dos fatos que se seguem parece até uma ironia ao fato de que Rue é uma viciada e provavelmente está próxima ao fundo do poço de sua vida. Mas talvez esse seja o diferencial de Euphoria: a representação um pouco glamourizada de certos aspectos é a ironia, das cenas mais bonitas surgem os conflitos mais agoniantes e os momentos mais eletrizantes da série.

A primeira temporada termina com um grande gancho para a segunda e essa vai acontecer uma vez que a série foi renovada. Nós esperamos que a verdade da primeira temporada se repita na segunda e que essa verdade também se mantenha, porque seu sucesso vem dai – da forma como ela retrata os vícios, medos, incertezas e glórias da nossa geração, mas também está na forma como ela foge completamente da feiura e dureza da realidade ao transformá-las em algo bonito e brilhante.

Comentários