Comédia, romance, Andy Samberg. Quer mais motivos para ver Palm Springs?
Não podemos dizer que exista muita coisa nova e essa ideia já vem de muito, muito tempo. A mimesis é um termo grego que foi usado por Heródoto, Platão e Aristóteles a séculos atrás e retrata a nossa capacidade em imitar, criar em cima de algo. Já dizia Lavoisier “ nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Diversas fórmulas de sucesso hoje são reproduzidas e, isso se deve ao fato de que todos amamos um bom clichê. Mas, o que acontece quando um filme consegue inovar mesmo em meio a tantos clichês?
Palm Springs (2020), dirigido por Max Barbakow e escrito por Andy Siara, é uma mistura de comédia romântica com ficção científica e, apesar de usar temas e gêneros bastante comuns, consegue reciclá-los, inovando e conquistando os telespectadores. Prova disso são as indicações ao Globo de Ouro como Melhor Filme de Musical ou Comédia e como Melhor Ator em filme de Musical ou Comédia. Além de ter recebido 95% de aprovação no Rotten Tomatoes, um dos mais famosos agregadores de críticas de cinema e televisão, e nota 7,4 no IMDb, uma das maiores bases de dados online sobre cinema e tudo o que envolve a indústria do entretenimento.
Voltando para a nossa realidade atual, naquele início da quarentena, tínhamos um grande problema – um vírus se espalhando pelo mundo -, pudemos ficar em casa e livre da maioria de nossas responsabilidades cotidianas. No começo foi interessante, mas após algum tempo tudo se tornou extremamente entediante. Isso é basicamente o que acontece com os personagens em Palm Springs, o que permite que nos identifiquemos, sintamos empatia e torçamos tanto para que tudo dê certo! Nyles aproveita a sensação de estar livre que o loop temporal proporciona, ali ele não se vê obrigado a seguir nenhuma regra da sociedade ou se preocupar com questões como dinheiro, saúde, acidentes, morte… ele experiencia o ápice da liberdade, mas até isso, quando constante, se prova entediante.
O tema do loop temporal é recorrente em obras de ficção científica. Longas como Feitiço do Tempo (1993), A morte te dá parabéns (2007) e No Limite do Amanhã (2014) apostaram nessa fórmula que vem sendo bastante explorada. Contudo, ao contrário da maioria desses filmes em que tudo se resolve de forma fantástica, quando o protagonista descobre sua missão e a conclui, em Palm Springs os personagens recorrem à ciência (mais um paralelo com a situação da pandemia), o que é extremamente surpreendente.
Outro ponto em que o filme acerta (e muito) é a escolha dos atores. Andy Samberg (Brooklyn nine-nine) e Cristin Milioti (How I Met Your Mother) dão um show de atuação, eles têm uma química incrível e conseguem se adaptar às várias camadas dos personagens. O timing cômico no filme é excelente, o longa soube onde ser sério e risível, o equilíbrio faz com que transmita muita emoção e ao mesmo tempo seja imensamente divertido.
Ademais, aborda com profundidade e leveza temas como relacionamento e término, depressão, o se sentir só rodeado de pessoas, as expectativas que são impostas a nós, nossos segredos, como lidar com a família e com as diferenças.
Mais um ponto forte é a construção da personagem Sarah. Nossa protagonista não é resgatada por nenhum príncipe, ela não aceita a situação e se aventura bastante em busca de respostas, uma mulher excepcionalmente inteligente (ao contrário do que acredita sua família), que se arrisca e salva a si e ao nosso mocinho.
A parte mais tocante, para alguém que ama romance, é a forma verdadeira como a relação dos protagonistas é construída. Nyles já havia se relacionado com Sarah, mas ele só se apaixona quando, de fato, se permite conhecê-la. Os dois são pessoas normais que aos poucos vão descobrindo um ao outro, não apenas a parte boa, mas todas suas falhas morais, e o afeto e o sentimento nascem de maneira natural.
O roteiro é bem construído e não deixa nada a desejar, especialmente para o que se propõe. O ritmo do filme é envolvente e nos prende a tela, queremos saber que loucuras os protagonistas vão aprontar a seguir. Palm Springs vai te fazer rir, chorar, refletir e, acima de tudo, te deixar com vontade de revê-lo.