Primeiro traíram o homem, depois as suas ideias
Fred Hampton foi uma das maiores lideranças do partido marxista dos Panteras Negras e, como ele sempre dizia, era um revolucionário. Logo, o seu interesse, também compartilhado pelos seus camaradas, não era o de conquistar reformas, mas sim de fazer uma revolução. A luta de Hampton não era apenas anti-racista como também anti-capitalista, o que fica explícito neste trecho de uma de suas falas mais icônicas: “Dizemos que não vamos combater o capitalismo com capitalismo negro, vamos combatê-lo com socialismo. Vamos combater porcos reacionários e procuradores reacionários com todos nós nos unindo e fazendo uma revolução proletária internacional.”
Entretanto, décadas depois de seu assassinato é assim que ele e o partido são lembrados? Ou, eles nem ao menos são lembrados? Devido ao caráter revolucionário, muitas vezes os Panteras Negras não são citados quando falam sobre a luta anti-racista na grande mídia e nas escolas ou simplesmente deixam de lado os ideais socialistas do partido. Nesse cenário, Judas e o Messias Negro surge para retomar essa história que não pode ser esquecida. O longa, que conta com seis indicações ao Oscar e duas vitórias, retrata parte da vida de Fred Hampton (Daniel Kaluuya) e de William O’Neal (Lakeith Stanfield), um infiltrado no partido a mando do FBI que pretendia usá-lo para acabar com os panteras e o seu líder.
Mesmo tentando focar em ambos, Hampton acaba sendo a estrela do filme, não só pela atuação impecável de Kaluuya, mas também devido à sua história de vida marcada por muita luta, discursos poderosos e um final trágico que em encaixa bem nessa ideia de messias. Por outro lado, há muitas dúvidas sobre certos aspectos da história real de O’Neal que tornam difícil pintá-lo como o Judas, tal qual os criadores do longa queriam. Apesar desse desequilíbrio no roteiro, o filme apresenta atuações incríveis e uma história, que além de interessante é importante de ser resgatada e discutida.
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