Arte de quebrar seu coração com música e luzes, mas também de acalmar nossas vidas.
Assistindo novamente esse filme, me observei muito mais encantado pelas cores e sua trilha sonora. Talvez seja pelo espaçamento de tempo; na época que o filme saiu eu tinha meus 14 anos, ainda estava no fundamental, e, neste momento, eu estou na faculdade, indo para os meus 21 anos. Uma nova pessoa com outras percepções, que consegue se conectar muito mais com todas angústias dos protagonistas e o peso das suas decisões.
Acho que todos conhecem a sinopse, mas aqui vai o básico: acompanhamos Mia, uma jovem mulher que almeja se tornar uma grande atriz e Sebastian, um pianista que sonha em criar seu próprio clube de jazz e restaurar seu resplendor. Assim, de forma mágica e inusitada – como tudo na vida -, os caminhos desses dois se esbarram e um romance surge.
Mas esse não é o foco do texto, e sim as cores e a música, a trajetória e as escolhas, pois o filme resgata bem como cada um de nós é formado por cores. Nossa própria, e um pouco das cores de cada pessoa que já se passou em nossas vidas. É impossível não deixar marcas ou, nesse caso, um pouco da nossa própria cor em alguém.
Estamos em grande maioria – assim espero, já que ninguém parece exatamente saber pra onde vai – nesse momento estranho de anseio. Os planos que vivem no fundo das nossas mentes, os locais que desenhamos com os dedos, tudo aquilo que queremos para ontem e corremos em direção. Porém, nesse caminho que trilhamos, em meio a busca, vamos conhecendo pessoas, perdendo outras, e precisamos lidar com o peso de nossas escolhas. E é essa carga que acompanhamos o casal do filme carregar. Eles se encontraram, mas seus sonhos são em lugares distintos, em mundos distantes, e é por isso que tanto a música quanto as cores se destacam. Se fosse um romantismo puro, aquele clássico do cinema, e irreal, existiria alguma resposta misteriosa, algum outro caminho ou solução.
No entanto, o longa escolhe o realismo. Esses dois personagens se apaixonam pela música e pelas cores da atuação, pelas coisas mais particulares de cada um, e essa é a mesma razão que os separa. Mas o filme não faz isso de forma triste, melancólica ou insuperável; como na música mais linda do casal, City of Stars, é visível que precisamos ir pelo caminho que nosso coração deseja, mesmo que o peso seja deixar um grande amor ir embora. É também uma forma saudável de amar, reconhecer que o outro não precisa de você, mas dos próprios sonhos e desejos, mesmo que esse sonho seja fora das nossas vidas.
Eles se encontraram nesse amor, receberam o apoio necessário nos bares, nas conversas e nos olhares. Eles ganharam no outro toda força para não desistirem dos seus próprios sonhos; ao reconhecermos todo o esforço que é necessário, tem momentos que só precisamos do apoio certo no nosso tormento. E, como o filme demonstra, no caminho que seguimos atrás de nossos sonhos, deixamos algumas pessoas no passado, deixamos situações, mudamos nossas vidas. Não existe uma escolha certa ou errada, um caminho predestinado, apenas aquele que queremos. Talvez percamos aniversários, jantares e comemorações; o importante é, mesmo anos depois, você achar que valeu a pena.
Voltando para as cores e música, no último olhar de Mia e Sebastian, cada um com seus sonhos já realizados e suas vidas formadas – Mia, já está até casada com outro homem e com uma filha -, a música que definiu o amor deles toca e se mostra como suas vidas poderiam ser, seguindo caminhos em que continuaram juntos. Mas a música acaba. A idealização, pois todo som carrega um pouco da mentira que contamos, termina, e as cores, que se misturam, simbolizam a pressão da realidade e demonstram que apesar de tudo, eles estão felizes com suas vidas da forma que são e sempre vão guardar um amor pelo outro. Talvez não o amor romântico, mas um amor por tudo que eles foram, pelo impulso necessário, e essa é a mágica desse musical.
Ele mostra que não existe apenas uma pessoa em nossas vidas, ou apenas um final feliz. Existem vários. Sempre somos capazes de encontrar um outro amor, uma outra forma de felicidade; tudo é passageiro, exceto nossas escolhas, e sempre podemos escolher enquanto estamos vivos.
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